quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
UM TEXTO DE ÊNIO LINS - GAZETA DE ALAGOAS
Preferia passar mais um dia antes de retornar ao tema dos bandos criminosos imiscuídos às manifestações de rua. Mas tantas são as estupidezes manifestadas por ditas cucas pensantes sobre essa questão, tendo como base o assassinato do cinegrafista Santiago Andrade, que não há como fugir das provocações. Vamos a mais umas linhas sobre esse assunto.
Em primeiro lugar, esse é um ponto de pauta essencial para a sociedade como um todo, pois envolve processos políticos e jurídicos que afetam a vida de todos e não apenas à saúde dos manifestantes, eventuais ou ativistas efetivos.
Como identificar as tendências que se expressam nas ruas, sejam elas organizadas ou não, é algo além do velho processo de rotulagem, embora tenha que passar por ele, afinal tal gesto sempre pode ser tido como um “carimbo” a resumir questões complexas. Porém não há como fugir disso.
Particularmente, esta discussão deve ser entendida como muito cara às esquerdas, pois está em jogo algo mais que uma tradição formal: o perfil transformador dado às manifestações contra a ordem estabelecida, coisa que não é um rótulo, mas uma herança conquistada através de muita luta, muita coragem e grandiosas ideias. Historicamente, o que passou a ser rotulado como gauche, depois da Revolução Francesa de 1789, sempre esteve à frente dos protestos de massa, fossem eles insurrecionais ou simples manifestações localizadas. Ter ideias transformadoras, desde então, passou a ser a referência para a contestação. Ia-se à luta por uma causa. Muitas vezes pegava-se o bonde errado (como na Revolta da Vacina, no começo do século 20, mobilizando o Rio de Janeiro em prol da ignorância sobre os métodos de proteção da saúde), mas tinha-se conteúdo.
Nos dias em curso, muitos fazem questão de confundir propositalmente o conteúdo reivindicatório de parte dos manifestantes com a violência pura e simples dos cada vez maiores e mais agressivos grupos
de bandidos que se aproveitam dos movimentos de massa. E o grande problema é que essas quadrilhas estão tomando conta, e determinando o rumo, do que deveriam ser mobilizações em torno de alguma ideia (política). A ideologia oca do vandalismo e da violência pela violência é o que assoma e se destaca.
As forças de esquerda, aparentemente, estão perplexas. Atônitas. Ou se imobilizam frente aos criminosos ou, o que é ainda pior, deixam-se sugar pelo vácuo, seguindo na rabeira dos meliantes, como sob encantamento. Alguns desculpam “os oprimidos” por seu barbarismo, outros vão mais além e lhes vestem fantasias revolucionárias, alcançando a suprema picaretagem ideológica de comparar o assassinato do cinegrafista Santiago com “as vítimas da repressão burguesa”. Ora, ao fazer esse nivelamento imbecil, ao invés de anistiar “a periferia em fúria” essas cabeças de alfinete inocentam as ditaduras e os poderosos que trucidaram inocentes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário