O
BANHO DE ARNALDO
Passaram-se seis
anos, o casal sobrevivendo, até que Cícero deu para beber, vivia reclamando da
vida, comportamento estranho, deixou de procurar a esposa na cama, ela gostava
tanto da vadiagem. Nessa época Florinda havia arranjado um emprego de doméstica
na casa de um ricaço na orla, limpava, passava e cozinhava, a patroa descobriu uma excelente cozinheira.
Melhorou a situação econômica, Matheus estudando, entretanto, a cachaça e o
distanciamento do marido entristeceu a bela Florinda. Certa tarde ela apanhou o
filho mais cedo na escola, estava febril, ao chegar em casa percebeu a moto de
Cícero, maior surpresa ao abrir a porta do quarto, o marido se pegando com um
boy conhecido no bairro. A maior decepção, humilhação e traição que uma mulher
pode ter. No mesmo dia exigiu a saída do marido de casa, chorou a noite toda. Levantou-se
de madrugada, olhou-se no espelho, prometeu a ela mesmo recuperar sua vida,
tinha o amor de Matheus para lhe dar força.
Com um ano de
separação a dor amenizou, Florinda, bonita, assediada por muitos homens,
preferiu, embora gostasse tanto do amor, fechar-se, não queria outro homem por
enquanto. Até o patrão mostrava uma queda pela bela empregada, ela fingia não
entender as insinuações.
No dia que
Arnaldo, o patrão, completou 67 anos teve um derrame, uma catástrofe na casa de
Dona Geruza. Ela e os dois filhos deram a assistência devida no hospital. Ao
voltar para o luxuoso apartamento Arnaldo precisou de uma enfermeira, ajudava
no banho, no vestir-se, o empresário falava um pouco enrolado, dava para
entender. Cismou com as enfermeiras, toda semana trocava de assistente. Certo
dia na falta de enfermeira, Florinda ajudou Arnaldo a tomar o banho de
banheira, enxugou-o, vestiu-o, o velho ficou surpreso com a delicadeza, a
suavidade de gestos da empregada, gostou daquele cuidado, disse que Florinda
havia nascido para cuidar de idoso. A partir daquele momento só chamava pela
empregada, durante todo dia, inclusive no banho de sol em cadeira de roda, só
queria a jovem bonita. Florinda dava conta da cozinha, da casa, do patrão,
ficou muito cansativo, inclusive em suas folgas sábado à tarde e domingo era
chamada com urgência, Arnaldo só aceitava a assistência da enfermeira
improvisada. Quando Florinda se recusou a trabalhar nas folgas, foi um Deus no
acuda, Dona Geruza entendeu, seu marido, não só gostava do tratamento de
Florinda, ele estava encantado, talvez apaixonado pela jovem. Ela foi de uma
grandiosidade extraordinária só encontrada nas grandes mulheres quando entrou
em um acordo com a empregada-enfermeira. Arnaldo propôs ela morar em um de seus
apartamentos mais perto, pagava a escola de Matheus e aumentava o salário em
cinco vezes, desde que ela desse maior dedicação em seu tempo a Arnaldo.
Florinda não abriu mão de sua folga nos domingos, assim ficou acertado.
Em véspera de completar 70 anos Arnaldo melhorou bastante
em sua mobilidade, aceita sua idade, tem em casa uma grande mulher que o ajuda
e uma enfermeira competente, suave, cuja delicadeza minimiza o sofrimento do
enfermo.
Pelo menos duas vezes na semana Dona Geruza passa a tarde
em compras no Shopping, é a tarde do banho de banheira prolongado de Arnaldo,
uma hora no mínimo ele passa com a gentil Florinda trancados no banheiro.
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