REVENDO O CENTRO DE MACEIÓ
Alberto Rostand Lanverly
Membro da Academia Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Estive lá há poucos dias, bem no inicio da manhã, quando as lojas ainda despertavam para o público. Mesmo assim, o alvoroço e burburinho das pessoas que iam e vinham eram tão grandes que, em determinados instantes, o comportamento dos usuários daquele espaço urbano muito fazia lembrar as feiras de interior.
Os trabalhadores locais, quase sempre jovens, ao se aproximarem de seus destinos, paravam para o desjejum. Alguns sacavam um sanduíche de dentro da sacola, enquanto outros arrodeavam o carrinho de mungunzá com tapioca e ali faziam sua festa. Todos bem vestidos, com roupas cujas grifes eram, claramente, oriundas das Fábricas de Caruaru. Enquanto mastigavam, deliciando-se com a guerra de sons provenientes tanto das caixas estrategicamente dependuradas em pórticos nas esquinas, quanto dos camelôs de CD pirata, que mesmo cedo já buscavam o local mais estratégico para suas vendas, aguardavam a hora de também “pegarem no batente”.
Antes das oito, os carregadores ainda traziam produtos para abastecer as revendas, transformando a “Rua das Arvores” em um mercado que acordava, embora já disponibilizasse à clientela, desde especiarias, até raízes, veneno de matar rato e frutas as mais variadas. Bem perto, nos calçadões, os consumidores aceleravam o passo, objetivando terem acesso às compras. Nesta hora, nem os fiscais da prefeitura ou integrantes da polícia se faziam presentes nas áreas que deveriam controlar e até os cheira cola, que por ali perambulavam, pareciam dar uma trégua à atividade de trombadinhas que tão bem desenvolvem. Os chineses eram os únicos bem espertos, apesar dos olhinhos quase fechados.
Na Igreja do Livramento, defronte ao Bar do Chopp, o término da Missa confundia-se com o aumento do movimento das ruas, devido à abertura das lojas para mais um dia de negócios. Neste ínterim, um grupo de sem terra,acampado na porta do Banco do Brasil, localizado mais adiante, iniciava um panelaço, observado pelos passageiros de um navio, proveniente da Alemanha, que, naquela madrugada atracara no Porto e, com suas máquinas possantes e valiosas, fotografavam bem de perto os ativistas, imaginando, certamente, tratarem-se de índios e deixando claro o quanto, enquanto turista, somos todos tão tolos, saindo por aí a fora a fazer coisas que jamais realizaríamos em nossa terra natal.
Saí dali consciente de que, passear pelo centro de Maceió é ter a possibilidade de ver de tudo um pouco e ainda relembrar: naquele ambiente, o bucolismo também já existiu. Que o digam os inesquecíveis carnavais de rua, as lojas Neno, Amapon, Fox e Leahy, além da Drogaria Globo e do Cine São Luiz, cujos nomes foram apagados das fachadas dos prédios de origem, mas nunca da memória dos alagoanos, despertando saudades de uma época, quando também se era feliz, apesar das verdades de então serem bem diferentes das vivenciadas nos tempos atuais
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