4 de dezembro de 1963 – Arnon de Melo mata José Kairala na tribuna do Senado
Naquele quatro de dezembro, a tribuna do Senado Federal, em Brasília, parecia uma região de batalha entre dois cangaceiros engravatados oriundos das terras áridas do sertão de Alagoas. Separados por uma antiga inimizade política, que remetia aos tempos das disputas eleitorais no ínterim de seu estado natal, os parlamentares eram, entretanto, unidos por uma sentença mútua de morte. De um lado estava o Senador Arnon de Melo, que escondia sob as vestes um revólver; Do outro lado, ou melhor, a apenas três metros de distância dele, estava o inimigo Silvestre Péricles, que dias antes deferira incendiários insultos contra Arnon e que também guardava no cós da calça uma arma mortal.
Às 15h, Arnon de Melo tomou a palavra na sessão lotada do Senado e logo pediu para que Silvestre Péricles se postasse de frente a ele, já que na sessão anterior este havia o jurado de morte. Dominado pela emoção, o orador não conseguia articular seu discurso, mas foi capaz de proferir alguns xingamentos contra o rival. Imediatamente, Silvestre Péricles deu um passo a frente e gritou: “Crápula!”, apontando o dedo a Arnon, que rapidamente sacou o revólver e disparou duas vezes seguidas contra Péricles. O alvo empunhou sua arma e jogou-se no chão, onde se rastejou para achar uma brecha através da qual pudesse atingir o autor dos disparos.
O pânico se instaurara no Plenário. Alguns corriam para salvar suas vidas, outros tentavam imobilizar os protagonistas daquela situação de violência e barbárie. Conseguiram. Mas em meio ao tumulto, um homem caíra ensangüentado no chão, sem que ninguém percebesse.O Senador José Kairala, que encarava seu último dia de trabalho e não estava absolutamente envolvido no confronto, fora atingido no ventre por uma das balas disparadas contra Péricles e tombou sem forças no solo aveludado da tribuna em caos. Kairala chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu e morreu em decorrência de uma parada cardíaca.
Arnon de Melo foi preso em flagrante por homicídio, mas, em pouco tempo, foi inocentado devido à sua Imunidade Parlamentar.
Além de não ter sido detido pela Justiça brasileira, o pai do futuro Presidente da República (Fernando Collor de Melo) teve tampouco seu mandato cassado. Arnon morreu na condição de senador, em 1983.
Para acessar a versão do JB Digital desta matéria, acesse aqui!
Nenhum comentário:
Postar um comentário