sábado, 10 de agosto de 2013

UM TEXTO DE GUILHERME FIÚZA

Dilma e a volta dos que não foram
Autor: Guilherme Fiúza


É dura a vida sem teleprompter. Dilma Rousseff tem ótimas ideias quando lê o que seu marqueteiro escreve para ela dizer à nação. Nem é preciso decorar. Basta dar ênfase às palavras sublinhadas, sorrir quando a rubrica manda sorrir - e surge a estadista. Outro dia, a presidente tomou coragem e resolveu dar uma entrevista por ela mesma, na bucha, sem efeitos especiais. Era para a mídia impressa, então ninguém veria suas famosas pausas na busca aflita pela linha de raciocínio. Mas a coisa complicou mesmo assim. Alguém precisa urgentemente inventar o teleprompter 24 horas.
 Na fatídica entrevista à Folha de S.Paulo, Dilma se soltou. "Eu tô misturada com o governo dele total", disse, numa referência à administração do seu antecessor e padrinho. Nesse tom despachado, tipo estadista de beira de estrada, chamando a repórter de "minha querida" sempre que se irritava (tentando ser contundente sem o bendito letreiro do teleprompter), a presidente produziu uma pérola. Respondendo sobre a queda de sua popularidade, e as consequentes especulações em torno de uma volta de Lula à Presidência em 2014, Dilma disse: "Lula não vai voltar, porque ele não saiu".
 Se o marqueteiro presidencial assistia à entrevista, deve ter suspeitado que o grande momento chegaria. Na busca por tiradas espertas, numa espécie de arremedo brizolista (frases de efeito para não responder ao que é perguntado), Dilma já tinha dito coisas como "tudo o que sobe, desce" - para em seguida emendar, triunfal: "Tudo o que desce, sobe". E isso acompanhado do gestual de malandragem, usando o dedo indicador para arregalar o olho puxando a pele para baixo, tipo "eu sei das coisas". No que veio a pergunta sobre o retorno de Lula, ela não teve dúvida: rebateu com uma variação do famoso "a volta dos que não foram".

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