quinta-feira, 25 de julho de 2013

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

AS RUÍNAS DO PAPÓDROMO

Alberto Rostand Lanverly
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Maceioense de Letras
               
      Meses atrás visitando a longínqua Jordânia, estive no Monte Nebo, de onde, conforme está registrado, Deus mostrou a terra prometida a Moises. Um local simples, porém bem cuidado, por se tratar de um sitio de peregrinação. Atingindo o seu cume, pude desfrutar a soberba visão descrita na Bíblia: de um lado o Mar Morto e a cidade de Jericó, do outro o Rio Jordão e Jerusalém e bem à frente, as campinas de Moabe e colinas de Golan. Ali, tudo é história, não porque é contada por guias turísticos, mas pelo fato de estar escrito e descrito em mínimos detalhes nos textos sagrados.
            Existe naquele complexo um pequeno espaço ao ar livre, que muito me lembrou de Maceió. É onde, o Santo Padre João Paulo II, plantou uma arvore e orou para os fiéis quando ali esteve décadas atrás. Tudo bem limpo e conservado. Imediatamente remeti o meu pensamento para o Papódromo, símbolo maior da visita do mesmo Papa, à capital dos Alagoanos em 19 de outubro de 1991.
            Lembro que naquela época a Terra dos Marechais, e todos os seus habitantes, viviam uma forte excitação, na expectativa de receber tão ilustre personalidade. Como de costume, às pressas e de ultima hora, escolhido o local às margens da majestosa lagoa, foi construído a peso de ouro, atendendo ao que hoje é conhecido como padrão FIFA o oráculo onde Sua Santidade celebraria. Obra em estrutura metálica, com extenso balanço em sua parte frontal, era considerada bastante arrojada para a época.
            Recordo que no dia da Santa presença, o Vergel do Lago, nas redondezas do Papódromo, estava irreconhecível, não somente pela assepsia que apresentava, mas pelo isolamento do restante do Dique Estrada através de altos tapumes, que traziam na superfície que possivelmente seria visível ao Papa, pinturas de casas, prédios e conjuntos habitacionais. Tudo engenhosamente muito holiwoodiano, enquanto por detrás ficavam as favelas e mazelas que por ali na época já existiam.
            Hoje 22 anos depois, o ambiente, onde um dia o precursor de Pedro, orou, é um antro de prostituição, estupros, drogas, bandidagem e coisas ruins. Aproximar-se de um dos bancos que fazem parte da estrutura original, é oferecer o pescoço a degola. Abandonado como se encontra, nem parece que uma montanha de dinheiro, ali um dia foi aplicado.
            O Brasil, mais uma vez vive dias de alegria, por termos entre nós uma nova Santidade, o agora Papa Francisco, um hermano argentino, para compensar a máxima de que Deus é brasileiro, um homem cujo semblante inspira não somente simplicidade, mas acima de tudo bondade, uma pessoa que chega a nossa terra para participar da Jornada Mundial da Juventude, na expectativa de semear no coração dos jovens de todas as idades, a mensagem da fé como algo palpável, do respeito ao próximo e principalmente o amor a família.
            A história é repleta de exemplos que mostram que um povo sem memória está fadado a desaparecer com a poeira do tempo. É, portanto fundamental que a visita do Papa Francisco ao nosso país, seja inesquecível e que o seu legado torne-se para sempre reverenciado e não desprezado como o Papódromo de todos os alagoanos.
            

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