sexta-feira, 26 de julho de 2013

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima

ÁGUA DE COCO

                      

Ao completar 45 anos, Luciana, bela mineira de Belo Horizonte, solteira, engenheira ambiental, sensível, preocupada com o bem estar comum, deu-lhe uma viagem de presente, veio conhecer o Nordeste. Primeiramente aterrizou em Maceió. No Hotel Ponta Verde, do seu quarto olhou o mar azul turquesa com matizes verdes, a praia de areia branca cheia de coqueiros, sentiu calor na alma, sensação de bem estar, de amor, de paixão pelo que via; amor à primeira vista.
         Eram quatro horas da tarde, vestiu um biquíni composto à família mineira, desceu à praia, caminhou por meia hora, como se estivesse tomando posse do local, encantada com a beleza, disse para si mesma, aqui é meu lugar. Retornou andando à beira mar, os pés massageando na areia molhada. Deu um mergulho, a água morna envolveu seu corpo, ela sentiu uma estranha sensação afrodisíaca.
       Entardecia, no calçadão tomou água de coco, sentou-se em um banco. O Sol se pondo no fim do mundo, Luciana envolta num sentimento de paz contemplou o céu alaranjado.
       No Hotel conheceu um grupo de turista, convidaram para uma volta noturna na cidade. Noitada agradável na casa de dança Burguenvíllia, conheceu um moreno cinquentão, contumaz frequentador daquela casa onde se divertem os solteiros descoladas. Oscar Ferretti, figura polêmica, diz-se petista, maior orgulho ter sido preso dois dias durante a ditadura, vive de boa aposentadoria e conversas fantasiosas, encanta, diverte qualquer roda, entretanto, tem uma vida cheia de atropelos, quatro casamentos desfeitos, Oscar se intitula caçador de turista nas noitadas maceioenses. Luciana caiu em suas garras, acordou-se em seus braços no apartamento no edifício Cote D’azur.
             Os dois passaram três semanas e meia de amor, Luciana deixou para conhecer o Nordeste em outra ocasião, Oscar deslumbrou-se com as mãos mágicas da parceira, excelente massoterapeuta. 
          Nas horas vagas do amor, faziam turismo nas praias, Luciana, católica praticante, ficou fascinada com as igrejas, o Museu de Arte Sacra, a cidade barroca e histórica de Marechal Deodoro. As férias acabaram, nossa amiga voltou à Belô, muitas lembranças, contou às amigas suas aventuras em terras caetés.
             Algum tempo depois, semana santa, retornou. Luciana com muito gás, charme da mulher mineira, só pensava em curtir as praias, os belos coqueiros, tomar água de coco olhando o azul do mar. Telefonou para Oscar, o pilantra deu uma desculpa esfarrapada, na verdade estava em assistência à uma rica turista norueguesa. Luciana não se comoveu, percebeu, sua paixão não era o homem, sua paixão era aquela cidade tropical, suave brisa permanente. Passou a semana sem carinho na cama, contudo, satisfeita da vida, estava em sua terra adotada.
               Todas as férias, feriadões, Luciana não perde Maceió. Conhece toda biboca, tem amigos na terra, frequentadora do Orákulo, do Caldinho do Vieira, sem esquecer o Bunguenvilia. Outros namorados aconteceram.
          Em dezembro tirou metade de sua licença prêmio, alugou um apartamento mobiliado, viveu três meses em Maceió. Brindou o réveillon da Ponta Verde, muitos fogos, dançou ao ar livre, divertiu-se contemplando o primeiro dia do ano amanhecer.
          Acordou-se depois do meio-dia, foi à varanda do apartamento, bocejou, se estirou, preguiça no corpo, deu-lhe vontade de tomar água de coco.
               Desceu à praia pediu um coco ao rapaz, ele cortou com rapidez fantástica, Luciana ficou impressionada com a perícia do jovem e o corpo moreno musculoso brilhando com o suor e os pingos da água.
              Ela sentou-se no banco frente ao mar, puxou conversa. A alegria, a juventude, o físico do jovem Sebastião, o vendedor de coco, encantou a mineira. Luciana retornou ao entardecer, conversaram, Tião contou parte de sua vida divertida, ela pediu para levar 10 cocos em seu apartamento quando ele acabasse o trabalho. Eram nove da noite  Luciana recebeu Sebastião, o jovem colocou 10 cocos descascados na cozinha, ela convidou para sentar, ele sentou, ela convidou para fazer uma massagem,  transaram.    
           Luciana, feliz da vida, viciou-se em coco verde. O jovem Tião abastece sua amiga.  Maceió e água de coco são os verdadeiros amores da bela mineira.


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