quarta-feira, 26 de junho de 2013

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

O DEDO DE ARNON


Alberto Rostand Lanverly
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Maceioense de Letras

           

Os monumentos são, geralmente, construídos com o propósito de comemorar um acontecimento importante ou, também, celebrar uma personalidade ilustre da comunidade. Estas formas materiais, cujas origens remontam à antiguidade, sempre armazenam, em suas estruturas, complexos significados que, se analisados cuidadosamente, podem ser traduzidos em textos, retratando capítulos da história de um simples lugarejo, uma capital, uma nação ou, até mesmo, o mundo, podendo, ainda, transformar-se em uma identidade, de todos conhecida.

            É comum os marcos comemorativos serem erigidos em locais de fácil visibilidade, tornado-se acessíveis à maioria da população, apresentando, assim, forte potencial para perpetuar memórias, fazendo parecer atual o que já é antigo, trazendo para o presente valores do passado, como se a todos pertencessem.
            A Maceió dos tempos idos, possui monumentos exuberantes, alguns abandonados, mas que, se carinhosamente olhados e interpretados, do frio metal ou mármore de suas concepções, emergiriam centenas de informações de diversas fases existenciais da capital dos alagoanos.
            A letra “S”, de sorriso, que emprestava seu formato a todos os bancos das praças da cidade, uma alusão direta ao antigo apelido de Maceió; a estátua do Menino Mijão, conhecida como o Mijãozinho, na Praça Sinimbú; o busto de Dona Rosa da Fonseca, bem defronte à Igreja do Livramento e do então Bar Helvética; o “Cuscuz do Major”, belíssima fonte luminosa com águas dançantes, que embelezava a fachada do Palácio dos Martírios; A estátua da Liberdade, nas cercanias dos Trapiches de Jaraguá, além de tantos outros símbolos que encantaram gerações.
            Existe, contudo, em Maceió, um monumento cujo significado muito representa, em termos de desenvolvimento, para todos os habitantes de nossa terra: O Dedo de Arnon, uma estrutura em concreto, no formato de uma mão, cujo punho encontra-se encravado na terra enquanto o polegar mirava os céus e o indicador apontava na direção da primeira rodovia pavimentada, construída em Alagoas, a atual BR 316, composta por 155 quilômetros de asfalto, ligando a capital ao interior do Estado, tendo como destino final a cidade de Palmeira dos Índios, e encurtando, para pouco mais de seis horas, uma viagem normalmente  realizada à época, no dobro do tempo.
            O Dedo de Arnon, apelido carinhoso dado ao mesmo, pela população, homenageia um dos mais profícuos governantes das Alagoas, um visionário que, já na década de cinquenta, do século passado, fortalecia a certeza de que, abrir estradas é, antes de qualquer outra coisa, oferecer sustentação ao progresso de uma região, vez que, por ali, bens e pessoas se deslocam com mais facilidade e rapidez. Foi uma louvável iniciativa que, muitos dos ocupantes daquele posto, nunca haviam tido.
            O Dedo de Arnon, hoje, encontra-se escondido e mal tratado, dentro da estrutura que abriga a sede da Policia Rodoviária Federal, no Tabuleiro dos Martins, na confluência da Via Expressa, Avenida Durval de Góes Monteiro, BR 104 e a própria BR 316. É uma pena, mas, muitas pessoas de hoje, não sabem que ele existe. Esquecem que a memória é, acima de tudo, a construção do passado,  podendo trazer, em seu bojo, soluções para as necessidades do presente e inspiração para o futuro.

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