segunda-feira, 25 de março de 2013

DEU NO JORNAL DA BESTA FUBANA

O DÍZIMO

Mary Zaidan
Marcelo Crivella
Guia de Dilma Rousseff na cerimônia de entronização e no encontro privado com o Papa Francisco, em uma viagem que ficará marcada pelo contraste entre a gastança da comitiva brasileira e a pregação pelos pobres feita pelo Pontífice, o ministro Gilberto Carvalho não se apoquenta. Nem quando quebra ou deixa quebrar, diante de seu nariz, símbolos de sua fé.
Católico (foi ligado à Pastoral Operária), Carvalho é também porta-voz e apara-arestas do governo e das campanhas majoritárias petistas junto aos evangélicos. Na última sexta-feira, representava a presidente na Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo.
Ali, ouviu impassível seu colega de governo Marcelo Crivella, ministro da Pesca, conclamar mais de três mil pastores a aplaudir o governo porque as políticas voltadas aos pobres permitiram aumentar a arrecadação de suas igrejas. “A nossa presidenta e o presidente Lula fizeram a gente crescer porque apoiaram os pobres. E o que nos sustenta são dízimos e ofertas de pessoas simples e humildes.”
Parece brincadeira, mas não é.
Da saia-justa que lhe impôs Crivella, Carvalho escapou sem dar um pio. O mesmo não pode fazer com os custos exorbitantes da estadia em Roma – quatro dias para pouco mais de cinco horas de agenda oficial, gastos de R$ 324 mil só em hospedagem, sem contar os 21 veículos locados, refeições e diárias adicionais. Sem conseguir explicar o inexplicável, considerou o tema como “falta de assunto” e ponto.
Ambos os casos ilustram de maneira cristalina como o governo vê e lida com os mais pobres. Os mesmos pobres que inflam a popularidade recorde da presidente.
Em Roma, para ver o Papa apologista da simplicidade, considerou-se normal, ou pior, de praxe, que a presidente e seus ministros – aliás, o que mesmo o ministro da Educação Aloisio Mercadante foi fazer lá? – se hospedassem em um dos hotéis mais luxuosos da Europa, pagos pelos impostos dos brasileiros.
Entre os 132 chefes de estado presentes à cerimônia de entronização, só o vice-presidente dos EUA e o presidente de Taiwan ficaram no mesmo hotel de Dilma.
Mas, se como diz Carvalho isso é falta de assunto, vamos ao dízimo.
“Com a presidenta Dilma, os juros baixaram. Quem paga juros é pobre. Com menos juros, mais dízimo e mais oferta”, explicou o ministro da Pesca, diante do secretário-geral da Presidência. Não recebeu qualquer reprimenda. Talvez porque aqui a semelhança não seja mera coincidência.
A lógica cartesiana que o evangélico Crivella expôs é a mesma que orienta os passos da campanha pela reeleição da presidente: o dízimo é o voto.

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