O LARGO COLO DE DEUS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Segredam-me obreiros evangélicos que de há muito Jeová
havia decidido abdicar daqueles métodos, digamos, linha dura, historicamente
aplicados em célebres acontecimentos, de
triste memória, como a devastação de
Sodoma e Gomorra, badaladas comunidades gays. Ao escapar fedendo, Ló
deveu sua vida ao carinho de Deus
por tio Abraão.
A divina ira fez-se sentir mais uma vez no desmantelo conhecido como dilúvio. Grande
administrador, não fora o bom Noé um sujeito com as qualidades morais e éticas que todos admiramos, e nem ele teria escapado.
Por sinal, ainda hoje fico
surpreendido com a engenhosa nave que teria abrigado o patriarca e sua numerosa prole, além de
casais de animais de todas as espécies. Penso que foi dali que surgiu a ideia
do jardim zoológico. Incrível! Bichos habitualmente arredios, inamistosos, sem
muitas noções de higiene, convivendo fraternalmente, intuiriam que não poderiam
estar se comendo uns aos outros, sob pena de irrevogável extinção.
A verdade, no entanto, precisa
ser dita. Jeová nunca perdeu completamente a esperança. Claro que muitas águas
rolaram e muitos homens e mulheres se amaram. Ciclotímico, o humor celestial,
como era de se esperar, era sujeito a variações. Gostava de testar a fé dos seus
servos. Jó foi um dos caras que sofreu o diabo, ainda que imerecidamente.
Isaac, filho da anciã e menopausada Sara, foi outro que quase se estrepava.
Fazer o quê? Como diria Zé Dirceu, ordens divinas não se discutem. Cumprem-se.
Criado o pecado, inventou-se o perdão. Contudo, a
inclinação para os castigos é inelutável. De quando em vez, para os meus orientadores
espirituais, inopinadamente, Deus resolve mandar seus recados. Um tsunami ali,
um terremoto acolá... Um dia é um vulcão que fica bravo, são torres que
desabam...
Como ia dizendo, Deus está sempre
a nossa espera com o coração cheio de amor e as mãos repletas de perdão. Ele
oferece todas as chances para o sujeito se reconciliar. E quando a gente vê uma
fria ex-terrorista chorando convulsa diante de um funesto acontecimento é que se
tem a certeza de que Deus obrou naquela alma odienta.
Defensores da máxima " errar
é humano", Fernandinho Beira-Mar e Carlinhos Cachoeira, pela graça de
Deus, levando vida monástica, estão em vias de conversão. Doutra parte, ninguém tem dúvidas sobre o pungente arrependimento
dos nossos Sarney,
Maluf, Genoíno, Henrique Alves, Demóstenes, dentre outros.
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