quarta-feira, 14 de novembro de 2012

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


               Incidente em Aldebaran




                  O Hugo é um cidadão de bem, íntegro nos negócios, benquisto por todos, só tem o grave defeito, gosta de uma morena para se divertir.   Ele se gaba, nunca traiu Dona Rebeca, nunca arranjou namorada ou amante nos 30 anos de casados. Em sua escala de valores, não conta traição uma rápida aventura com menina de programa. As aventuras de Hugo com suas “escurinhas”- assim as chama- não doem em sua consciência, nem contabilizam como pecado.
       Dona Rebeca não imaginou o perigo, quando contratou uma empregada vinda do sertão. Cicinha, analfabeta, calma como uma gata parda, mas, perto de um homem vira loba, cisca para frente, para trás, tem sexo na pele, nas entranhas. No povoado todos os homens e algumas mulheres sentiam desejo pela morena.
    Primeiro dia de trabalho, pela manhã, depois de um banho bem tomado, cheirando a eucalipto dos pés à cabeça, Cicinha apareceu na sala, o vestido de tecido fino mostrava seu corpo e a rijeza dos seios empinados.
    Hugo ficou ouriçado quando viu aquela menina entrar sorrindo, parecia uma miragem. Notou as pontas dos seios furando o vestido, lembrou a ciranda que muito dançou no Recife: “Menina do peito duro... Nunca vi tanta dureza... Quem me dera ser criança... Pra mamar nessa beleza...”
     Dona Rebeca entrou na sala, tirou o marido do devaneio. Naquela manhã Hugo trabalhou em casa no computador, avisou ao escritório. Dona Rebeca fez recomendações, saiu para aula de dança. Retornava para o almoço.
      Hugo foi à cozinha, estava deslumbrado com a flor morena. Ordenou servir café de meia em meia hora no gabinete. Cicinha enquanto cozinhava preparou café forte levou para o patrão. Ele sentiu um tremor quando a morena encostou-se em seu braço para alcançar a xícara usada. Hugo endoidava cada vez que a traquina servia o cafezinho se roçando de alguma maneira em seu braço ou ombro. A menina sabia das coisas, notou que o patrão estava gostando da brincadeira, prosseguiu o jogo excitante.
        Dona Rebeca chegou cansada mandou servir o almoço para o casal. Hugo ficou regalado com o tempero da galinha ao molho pardo.  
   Dia seguinte o fato se repetiu. Hugo ficou em casa trabalhando, Dona Rebeca foi para o terapeuta. Na terceira vez que Cicinha serviu o cafezinho encostando os seios no ombro do patrão, ele não agüentou, agarrou a empregada.
    Derrubou a morena no tapete, a gostosa mulata cheia de gozo e dengue apenas sussurrava: “Que é isso Seu Hugo?... Que é isso Seu Hugo?... Que é isso seu Hugoooooooooo!!!!!!”
   Nosso herói passou a trabalhar pela manhã em casa, à tarde no escritório. Hugo se viciou na “Escurinha”.
    Embora o casal more em Aldebaran, o mais luxuoso condomínio da cidade, aos domingos eles vão à missa das 19 horas da Catedral, distante 20 a 30 minutos.
      Dois meses se passaram. Numa noite de domingo Hugo não teve paciência de esperar a segunda-feira. Ao iniciar a missa na Catedral inventou forte dor-de-cabeça, avisou para a mulher, voltava para casa, ia descansar.
        No primeiro táxi ele retornou para Aldebaran. Quando entrou em casa Cicinha estava assistindo o Faustão, programa apropriado para analfabetos. Louco de desejo levou-a para o seu (dela) quarto.
      Dona Rebeca, antes da comunhão, teve drama de consciência, o marido doente. Pediu perdão a Deus, deixou a missa, pegou o carro, foi acudir ao marido.
     Não encontrou Hugo nos quartos, nem na sala, nem no gabinete. Notou que havia luz no quarto da empregada. Ao abrir a porta deu-se a trágica surpresa: o distinto marido estava nu por cima de sua eficiente cozinheira.
      Ao perceber a situação, Hugo levantou-se, começou a bater com a cabeça na parede gritando: “Tô doido... Ai! minha cabeça... Tô doido...”. Correu nu pela cozinha, pela sala, dando cabeçada na parede e gritando.
        Dona Rebeca chamou um médico, um vizinho, conseguiu acalmá-lo. Vestiu Hugo, levou-o para o Pronto Socorro, foram sozinhos, por exigência do “maluco”. No caminho Hugo pode contar a situação para o amigo. O vizinho, cúmplice, deixou-o internado no Hospital Psiquiátrico, ficou por mais de 15 dias. A família foi proibida de comentar o caso.   Quando alguém faz alguma leve insinuação sobre a ocorrência, Hugo inicia um ataque de nervos. A família refere-se ao acontecido como o “Incidente em Aldebaran.” Um eufemismo do inesquecível flagrante em Aldebaran. 

Um comentário:

  1. # Zerado, Irmãozinho ?!?!?!
    Esse fascinante "Incidente em Aldebaran" tem precussores, talqualmente posteriores ...
    Vou lhe passar os dados d'um certo "Incidente
    em Cabedelo", ocorrido lá pelos ídos de 64/65;
    cousa de gênero.

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