A
Carta ou a Crônica 600
Desde que iniciei escrever crônicas semanais, essa é a
de número 600. Para homenagear aos leitores, a razão de ser de qualquer
escritor, transcrevo uma carta interessante recebida semana passada, portanto,
deixo por conta de uma leitora a crônica dessa semana, a de número 600.
Maceió, 1º de novembro de 2012.
“Meu querido e preferido escritor.
Antes de tudo quero declarar-me sua fã. Toda
semana me delicio com sua crônica. Fico me perguntando como uma pessoa pode
saber de tantas histórias engraçadas. Entro também no seu “blog”, leio as
notícias hilárias e incríveis, levanta meu astral. Na última semana foi
publicada uma notícia que me tocou, uma garota de Santa Catarina ofereceu num leilão
na internet sua virgindade, arremata por um milionário japonês por R$ 1,5
milhões de reais.
Não se dá mais valor à virgindade, as
moças querem se livrar o mais rápido possível, até negociar, quase não existe
mais donzela nesse mundo. Mas eu, Rosa Palmeiron, sou virgem, por convicção.
Vou levar minha virgindade para o casamento, é um presente para meu noivo, ele
será o primeiro. Não sou uma menina boba como possa parecer. Estudo medicina na
Escola de Ciências Médicas de Alagoas, gosto muito de ler. Leio no mínimo dois livros
por mês (já li todos os seus) além de jornais e revistas, sou bem
informada. Permaneço virgem por
princípio, Almeidinha, o noivo, vai tirar meu cabaço dia do casamento, em nossa
lua-de-mel.
Não pense que desprezo o sexo, gosto
bastante. Para preservar a virgindade existe o plano B. Pena meu noivo ser um
homem sério demais. Outro dia tentei um carinho mais afoito, ele me repreendeu,
aquilo era coisa de rapariga, eu não fosse precipitada, esperasse pelo
casamento para fazermos as coisas permitidas pela Igreja. Almeida é religioso,
tem muita fé nos dogmas da Igreja.
Acontece, meu querido escritor, que sou uma
mulher de 24 anos com muita sensibilidade na pele, basta tocar meu braço fico arrepiada.
Por tudo isso estou realizando um aprendizado, posso dizer uma espécie de
estágio, para quando me casar saber me entregar ao marido.
Tenho um amigo, escolhido a dedo,
literalmente, me ajuda no descobrimento das coisas do sexo. Meu amigo é médico,
professor de verdade da Escola de Ciências Médicas. Tudo foi planejado, caso
pensado. Escolhi o professor, por ser um homem muito sério, casado, não toma
liberdade com as meninas. Não se sabe dele algum caso de assédio, como é
chamado hoje o enxerimento. Além do mais, é um homem parrudo, de grosso bigode
preto (adoro quando me roça), mais velho, sábio.
O convencimento foi fácil. Eu inventava
dúvida em suas aulas, ficava na sala para esclarecimentos, conversava olhando
nos olhos. Durante as aulas, sentava-me em posições estratégicas, abria as
pernas de tal modo que ele visse por baixo. O professor ficava vermelho. Depois
de dois meses desse gostoso jogo, senti, ele estava louquinho. Certa tarde, não
havia mais ninguém na sala de aula, eu me aproximei por trás de sua mesa,
encostei-lhe. Ele não resistiu, olhou para trás, nos beijamos. No mesmo dia
fomos nos amar. Foi ótimo, fizemos tudo permitido, sem violar a virgindade. Plano
B, plano C, estou aprendendo muito, o professor é ótimo professor. Estamos
nesse chamego há quatro meses, continuo virgem.
Não sou ótima, meu escritor? Três
vezes por semana ele me ensina coisas que nunca pensei existir. Tenho certeza
que esse aprendizado será benéfico para meu casamento. Na lua-de-mel preciso ir
devagar para que o Almeida aceite as coisas de meu aprendizado com o professor.
Ficarei feliz quando der a virgindade que guardei para meu esposo. Jamais serei
como essas mulheres que até cobram para ser desvirginada, que coisa! Sou mulher honesta, não aceito isso.
Virgindade é para o casamento. Basta de tanta sem-vergonhice. Sou mulher séria,
de princípios, a virgindade é do marido, e pronto.
Meu escritor predileto, já tomei seu
valioso tempo, fico aqui. Gostaria de lhe conhecer pessoalmente, se possível
antes do casamento, quero lhe dar, entregar o convite. De sua fã, Rosa
Palmeron”.
Rosa
terei maior prazer em conhecê-la, aliás, tenho um presente muito especial para
lhe dar.
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