sábado, 1 de setembro de 2012

UM TEXTO DE EDUARDO BOMFIM


Subjetividades mutiladas



O mais recente artigo do respeitado economista Luís Gonzaga Belluzzo sobre a educação é na verdade quase um manifesto contra a crise de civilização iniciada há algumas décadas que se aprofundou dramaticamente no início deste terceiro milênio.

Ao rebater a máxima que o cidadão precisa "conquistar uma boa educação para não ser um dos derrotados na atual marcha para o progresso" Belluzzo desmistifica tanto o sentido do que venha a ser a educação nos dias atuais quanto a relação inseparável entre essa educação qualificada e a conquista de um status privilegiado no mundo contemporâneo.

Tanto é verdade que nos Estados Unidos e na Europa as filas dos desempregados estão abarrotadas de "empregáveis" com curso superior, mestrado, doutorado e outros títulos.

Na Espanha, por exemplo, as estatísticas mostram que mais de 40% da força de trabalho jovem encontra-se sem emprego o que já pode ser considerada uma catástrofe para toda uma nova geração porque as pesquisas indicam que alguma recuperação econômica por lá, como em todos os Países mergulhados na crise econômica capitalista, dificilmente acontecerá antes de uma década, no mínimo.

Belluzzo afirma que seria estúpido negar a importância de uma boa formação qualificada para as pessoas e as nações mas os estudos e pesquisas internacionais sobre emprego, produtividade, distribuição de renda demonstram que a boa educação é incapaz de "responder aos problemas criados pelos choques negativos que vulneram a economia contemporânea".

Além da crise financeira global o economista revela outros fatores que estão provocando o desemprego como a desindustrialização estrutural, reestruturação das empresas impostas por feroz competição, crise fiscal e perda de eficiência do gasto público.

Mas Luís G. Belluzzo levanta outro aspecto importante nesse diagnóstico sobre a tragédia cultural que ronda o Terceiro Milênio exemplificado na "tecnificação dos indivíduos", qualificados é verdade, mas incapazes de compreender o mundo em que vivem em razão da pauperização das mentalidades, no massacre da consciência crítica das pessoas, produzindo "um exército de subjetividades mutiladas".

O economista denuncia a tentativa de castração das funções contestatórias individuais, sociais, que o sistema impõe para não sentir o que "se pensa" nem "pensar" o que se sente, produzindo um tipo de cidadão exclusivamente consumista.

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