Amar é dar razão a quem não tem
Ronald Mendonça
Médico e membro da AAL
Agosto é conhecido pelas bruxas
brasileiras como o mês fatídico, em que as piores coisas costumam acontecer.
Enumeram-se alguns fatos – não vou repisar todos -, como o suicídio de Getúlio
Vargas, em 24/08/1954. Dentre outros infortúnios federais, registra-se, em
agosto de 1961, a
renúncia de Jânio Quadros.
Para compensar, há 100 anos, em
23/08, nascia Nelson Rodrigues, o grande
nome do teatro e da crônica brasileira, fato, aliás, que tem sido razoavelmente
bem lembrado. A renúncia de Jânio – que ensejou um imbróglio que descambaria no
golpe de 1964 – e o suicídio do “Pai dos Pobres”, talvez sejam objetos de
alguma notinha.
Não sou íntimo da obra de
Rodrigues. Tenho forte curiosidade sobre os seus escritos que remontam à minha
adolescência, quando ávido corria para as páginas do extinto Jornal de Alagoas
em busca de sua coluna “A vida como ela é”.
Autor proscrito do Colégio Marista, onde
estudei, era visto com reservas pelas famílias mais conservadoras. É que o
autor de Bonitinha mas ordinária
costumava relatar coisas que, como diria Roberto Jefferson (o Pai do Mensalão),
despertava no adolescente que fui os instintos mais primitivos. Mais tarde, penetrei
um pouco mais no texto do “Anjo Pornográfico”, descortinando horizonte além da permissividade.
O fato é que Nelson Rodrigues,
muitas vezes hiperbólico, se imiscuiu na vida dos brasileiros, ora como
retratista e irônico intérprete, ora como profeta. Por sinal, mantenho à
cabeceira o seu livro Memórias,
manancial que faz parte dos meus rasos
enlevos literários.
Frasista original e engraçado, agora
mesmo, com o voto de amor e gratidão do ministro Lewandovsky, a eximir de todas
as culpas o nobre deputado João Paulo, ocorrem-me dois enunciados: Um deles, de
Stanislaw Ponte Preta, que teorizava: “Moralizemos a coisa ou locupletemo-nos
todos.” O outro, do próprio Nelson, tem tudo a ver com o perfil ministerial:
“Amar é dar razão a quem não tem”.
Por seu turno, João Paulo,
certamente, deve estar às gargalhadas, repetindo o dramaturgo:”Se os fatos são
contra mim, pior para os fatos”.
Encerro, lamentando a morte
inopinada e brutal da conhecida e competente psiquiatra alagoana Fátima Lobo.
Atropelada por uma moto em desvario, quando chegava ao trabalho, Lobinho, como
era conhecida, é mais uma vítima da incúria, da loucura em que se transformou o
desgovernado trânsito da capital alagoana. Com a palavra o gestor e seus competentes
auxiliares.
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