sexta-feira, 1 de junho de 2012

UM TEXTO DE RONALD MEDONÇA


LUZES QUE APAGAM, VIDAS QUE SE VÃO

RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL




A morte brutal e inopinada do conhecido médico e professor universitário José Alfredo Vasco comoveu e indignou a comunidade alagoana, sentimentos aos quais me alio. Pelo que sei, não era um homem de finanças culminantes. Prova maior era a idade de sua bicicleta e móvel do crime: 20 anos. A expressa solidariedade cristalizada em inúmeras manifestações  é fruto, pois, de suada conquista. Da moral, da sua simpatia, da proverbial serenidade, da ligação com a família e do convívio com os alunos.
Mas, era sobretudo sob as luzes fluorescentes de um consultório, na sagrada relação médico-paciente que o Zé Alfredo exercia o seu “poder”. Foram quatro décadas esculpindo imagem de humildade, competência e espírito humanitário, modelo que se impõe aos que hoje ensaiam os primeiros passos na instigante arte de Hipócrates. A Medicina alagoana perdeu um dos seus membros mais corretos.
Como tem sido lembrado, diariamente o país está sacudido por irrefreável violência. Nossa Alagoas, nesse quesito, tem se superado. Pessoas humildes, anônimas, como nos recordam os formadores de opinião, morrem aos borbotões  e a individualista classe média ignora. As esquerdas, sempre equânimes e justas, talvez estejam a lamentar que a sociedade não se mobilize em Passeatas pela Paz quando morre um pobre diabo morador de rua, por exemplo.
O fato é que a morte de Zé Alfredo não surpreende. Numa visão simplista, a tríade: drogas, omissão governamental e legislação leniente seria o delta de crimes com essas características.  Não custa focar  nos grandes escândalos.
Não faz muito tempo, enquanto rolava ladeira abaixo o conceito de um Partido que “nem roubava nem deixava roubar”, o presidente dessa mesma agremiação vociferava que podia existir alguém com ética nesse país, mas nada se igualava à própria. Naquele momento, como se sabe, o noticiário fervilhava com informações sobre uma das maiores patifarias oficiais, cujo central situava-se a dois metros do gabinete presidencial. Era o famigerado Mensalão, até hoje inconcluso.
Muitas águas rolaram e muitos homens e mulheres se amaram, até chegarmos no atual Carlinhos Cachoeira e seu braço político, o horrendo “incorruptível” Demóstenes Torres, versão goiana de Danton.
Que se espera de uma população, quando o “mais ético” dos brasileiros ressurge, gordo, cavernoso e canceroso, depois de driblar Creonte no vale das sombras, tentando chantagear um ministro do STF, em prol de um veredicto capcioso?

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