LUZES QUE APAGAM, VIDAS QUE SE
VÃO
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
A morte brutal e inopinada do
conhecido médico e professor universitário José Alfredo Vasco comoveu e
indignou a comunidade alagoana, sentimentos aos quais me alio. Pelo que sei,
não era um homem de finanças culminantes. Prova maior era a idade de sua
bicicleta e móvel do crime: 20 anos. A expressa solidariedade cristalizada em inúmeras
manifestações é fruto, pois, de suada
conquista. Da moral, da sua simpatia, da proverbial serenidade, da ligação com
a família e do convívio com os alunos.
Mas, era sobretudo sob as luzes
fluorescentes de um consultório, na sagrada relação médico-paciente que o Zé
Alfredo exercia o seu “poder”. Foram quatro décadas esculpindo imagem de
humildade, competência e espírito humanitário, modelo que se impõe aos que hoje
ensaiam os primeiros passos na instigante arte de Hipócrates. A Medicina
alagoana perdeu um dos seus membros mais corretos.
Como tem sido lembrado,
diariamente o país está sacudido por irrefreável violência. Nossa Alagoas,
nesse quesito, tem se superado. Pessoas humildes, anônimas, como nos recordam
os formadores de opinião, morrem aos borbotões e a individualista classe média ignora. As
esquerdas, sempre equânimes e justas, talvez estejam a lamentar que a sociedade
não se mobilize em Passeatas pela Paz quando morre um pobre diabo morador de
rua, por exemplo.
O fato é que a morte de Zé
Alfredo não surpreende. Numa visão simplista, a tríade: drogas, omissão
governamental e legislação leniente seria o delta de crimes com essas
características. Não custa focar nos grandes escândalos.
Não faz muito tempo, enquanto
rolava ladeira abaixo o conceito de um Partido que “nem roubava nem deixava
roubar”, o presidente dessa mesma agremiação vociferava que podia existir
alguém com ética nesse país, mas nada se igualava à própria. Naquele momento,
como se sabe, o noticiário fervilhava com informações sobre uma das maiores patifarias
oficiais, cujo central situava-se a dois metros do gabinete presidencial. Era o
famigerado Mensalão, até hoje inconcluso.
Muitas águas rolaram e muitos
homens e mulheres se amaram, até chegarmos no atual Carlinhos Cachoeira e seu
braço político, o horrendo “incorruptível” Demóstenes Torres, versão goiana de
Danton.
Que se espera de uma população,
quando o “mais ético” dos brasileiros ressurge, gordo, cavernoso e canceroso,
depois de driblar Creonte no vale das sombras, tentando chantagear um ministro
do STF, em prol de um veredicto capcioso?
Nenhum comentário:
Postar um comentário