sábado, 17 de março de 2012

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


EMOÇÕES
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Entre as grandes estrelas do XII Congresso de Cirurgia Espinhal, que ora transcorre em São Paulo, está o cirurgião Edson de Godoy Bueno. Não que ele seja um luminar da medicina, um revolucionário cientista que tenha modificado conceitos capazes de trazer novas luzes à complexa patologia da coluna vertebral. Nada disso. Para boa parte dos congressistas, sobretudo os paulistas, Godoy Bueno é um  vitorioso empresário do setor de planos de saúde que teria construído um império, explorando o vazio existencial da saúde pública brasileira. Na enxurrada, na hora de vender, cria  nos usuários uma  expectativa de que oferece uma assistência médica de primeiro mundo.
 Os pilares são clássicos: exploração do trabalho dos médicos e constrangimento dos usuários na hora em que  precisam de algo mais oneroso. Ousado, torna-se incorrigível saudosista ao defender que a boa medicina era aquela dos anos 60  do século passado. Nada de Tomografias, Ressonâncias, Pet Scans e tudo o mais que a tecnologia disponibiliza para dar qualidade a nossa efêmera passagem por esse vale de lágrimas. Certamente o dono da Amil bombaria ainda mais se os médicos se ativessem a prescrever renascentistas dietas, chás e cataplasmas.
Nem só de Amil vive o homem.  São Paulo me traz muitas recordações. Foi aqui onde, há 41 anos, saído da província para a cidade grande, encarei  disputado concurso para médico residente de um dos maiores hospitais do país.
Aqui vivi quatro anos, casado e com uma filhinha. Nunca Ataulfo Alves foi tão real: “era feliz não sabia”. São Paulo transformou-se. Lugares que costumava frequentar, como o Largo do Arouche, são impraticáveis para uma visita. A cacrolândia é uma dura realidade por aqui; sem falar no trânsito.
Mas foi num dos restaurantes que tive uma grande emoção. Permitam-me um preâmbulo. Nos anos sessenta do findo século, tínhamos na clínica psiquiátrica do meu pai um time de futebol de salão. Composto por esquizofrênicos, bipolares, dependentes e “boderlines”  , posso garantir sem exageros: era uma grande equipe. Chegamos a enfrentar times famosos. Mas isso era mero detalhe. O importante era a participação, a garra, o entusiasmo daqueles internos.
Volto ao restaurante. Literalmente sem conhecer ninguém, fui efusivamente cumprimentado pelo maître, pelo nome. Foi nesse instante que reconheci o Pitada, beque central do valoroso esquadrão da Clínica Zé Lopes. Ainda inteiraço, não obstante nobres cãs quase septuagenárias.

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