SUS: UM SISTEMA MEIA-BOCA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Durante muitos anos, enquanto estive na Ufal – e mesmo fora dela, denunciei as mazelas do SUS. Fui voz quase solitária. Minhas críticas eram desdenhadas pelos nobres e inteligentes colegas de magistério e até por ladinos estudantes ligados ao diretório. Por cima da carne seca, essa colenda de gênios descobria nas entrelinhas do SUS maravilhas que os mortais comuns – como eu – não tinham acesso.
Terminei, depois de muito matutar, intuindo as razões e os porquês de até fedelhos estudantes, que mal sabiam o ABC da medicina, na contramão das evidências, já se posicionarem contra as minhas observações e a favor do SUS.
Lembro de um astuto doutorando a me desafiar, no dia da sua formatura, com a enigmática sentença: “Vou mostrar ao senhor que ganharei muito dinheiro com o SUS.”
A culminância, nos derradeiros anos de professor, seria a introdução “estuprosa” de um novo programa no curso de medicina, baseado justamente no SUS. Não sei se é para chorar ou sorrir. Ou como diria a Marta Suplicy, o melhor mesmo é “Relaxar e gozar”.
O fato é que “o mais perfeito sistema de saúde do mundo” foi quantificado. Embora nacional na sua política, a surpresa foi por conta da nota cinco de Alagoas, uma vez que se esperava coisa muito pior. Diante de tanta mediocridade, não admira, pois, que Lula e sua trupe dele mantenham prudente distância. Seus cânceres não podem ter tratamento “meia-boca”. Os da população sim.
Por que o SUS é mal afamado? Entre nós, as respostas poderiam estar na superlotação do HGE; na ausência de PSF em 70% de Maceió; na crônica crise do Hospital do Açúcar; nas eternas dificuldades dos outros hospitais que trabalham para o SUS e que não apareceram (ainda) nos jornais. Na concessão de benefícios “extras” para os apadrinhados do interior e da capital... No desprezo pelos honorários médicos e aviltamento nos valores de diárias hospitalares... Na arrogância de gestores que dão socos na mesa e humilham colegas com xingamentos chulos...
Enfim, que se esclareça! em que catecismo de economia, ou parágrafo da Constituição, está escrito que os hospitais, enquanto empresas, têm que cobrir os constantes prejuízos causados pelo SUS, com os ganhos de suas alas de convênios e particulares?
A propósito, sem entrar no mérito, enquanto os anestesistas (e demais médicos) encaram justa e inglória briga por uma atualização de honorários, a Justiça alagoana julgou procedente o direito de aumento no valor das passagens de ônibus...
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