O
APOSENTADO
Ilustração: Nerino de Campos ( Internet)
- “Hoje
foi de arrepiar, muito movimento na loja e pouca compra...” É assim que Matilde inicia
reclamando, ao chegar em casa à noite enquanto Bruno assiste televisão. Toma
meia hora do marido em conversa sobre a loja, aliás, monólogo ininterrupto, ele
apenas ouve. Onze horas toma banho, veste pijaminha, deita-se ao lado da esposa,
110 quilos de peso e 39 anos de casados. Há muito tempo sem carinho, sem amor,
sem transa.
Certa
manhã ao chegar de sua caminhada matinal, o aposentado Bruno encontrou Matilde
conversando com uma jovem de saia abaixo ao joelho, camisa branca, mangas
compridas, fechada no punho e no pescoço, cabelo em coque amarrado para trás.
Seus traços bonitos se apagavam sem pintura, sem brinco ou miçangas. A esposa
apresentou, era a nova empregada. Madalena o cumprimentou olhando para o chão.
Enquanto chupava laranja Bruno escutava as ordens de sua dura mulher, no final,
ela virou-se para o marido.
-“Agora
discuta com o Dr. Bruno seu ordenado e os pagamentos”.
Bruno
sentou-se, olhou para a nova empregada, não demoraram a se entenderem. Salário
mínimo, FGTS, INSS, folga aos sábados à tarde e aos domingos. Madalena aceitou
a proposta, do salário haveria de recolher o dízimo (10%) a sua Igreja. Teria
tempo para orações no domingo.
A
jovem discreta, de roupas e falas comedidas, com o tempo tornou-se alegre
dentro da casa de Matilde. Cozinhava bem, os cômodos sempre limpos, a dona da
casa estava satisfeita, não precisava fiscalizar, perfeição nos serviços.
Matilde sai de casa pelas 10 da manhã direto para loja, almoça no Shopping,
raramente em casa, só retorna pelas 9 ou 10 da noite. O marido reclama, da boca para fora, de sua
dedicação ao trabalho, os filhos estão criados, ela não precisa trabalhar
tanto. Matilde responde que o trabalho faz bem ao corpo e a mente, ama sua
loja, jamais ficaria o dia em casa, coisa de velho aposentado, alusão clara ao
marido.
Bruno
tem uma aposentadoria pequena, entretanto, devido à herança comprou quatro
apartamentos, melhorou seu padrão de vida, ainda empresta algum dinheiro a
amigos.
Ele passa
a manhã no computador, no face book, escrevendo crônicas, publicadas em alguns
blogs, contudo, ele gosta mesmo de abrir páginas de sexo na internet, se
excita, depois visita uma casa de massagem na Mangabeiras.
.
Certa vez Madalena, a empregada, olhando por trás se aproximou do patrão e
falou baixinho, sem precisar, estavam apenas os dois na casa.
“- Dr. Bruno o senhor gosta de mulheres, não
é? Eu vejo no computador. Sabe, o novo pastor de minha Igreja me disse que não
é pecado e me abraçou e me beijou dentro do carro. Eu gosto, meu marido me
abandonou, sinto falta.”
Bruno
com surpresa olhou para a empregada, percebeu nos seus olhos faíscas de mulher
no cio. Disse-lhe ser ateu, não se metia com religião dos outros, quem quiser
que faça sexo, não havia pecado.
Semanas
se passaram Bruno já olhava Madalena com outros olhos, ficava fantasiando o que
havia por baixo daquelas vestes arcaicas. Certa tarde puxou conversa: “O pastor
lhe deixou em paz?” Madalena chegou-se bem perto do patrão e falou baixinho
como segredo. “Dr. Bruno ele me levou para um motel, coisa bonita, cheia de
espelhos, eu gostei, vivia pensando na hora de sair com ele. Agora eu estou com
medo, tem dois problemas, além de ser casado, ele gosta de bater, olha a marca
aqui”. Imediatamente levantou a saia, apareceu o corpo de Madalena, perfeito,
pernas mais bonita Bruno nunca as viu iguais. Examinou extasiado os hematomas
na coxa da empregada, alisou, quando percebeu os olhos faiscando, não teve dúvida
ali mesmo na sala aconteceu. A mulher por baixo dos mantos é uma loba, um
vulcão, agora em erupção nos braços do aposentado.
Ela
continua em seu emprego, deixou o pastor de vez. Bruno disfarça bem, só faz
amor no motel, dobrou o salário, sendo que, dessa outra metade, Madalena não
paga o dízimo da Igreja, não é salário, é gratificação de serviços extras.
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