segunda-feira, 28 de novembro de 2011

UM TEXTO DE VANESSA ALENCAR



Uma amiga se separou. Aliás, se separou não. Ela se divorciou. Fez questão de frisar, porque a palavra divórcio é mais forte, tem mais ‘sustança’, como diz o matuto. É um fato e um direito. É um papel passado... A limpo.
A separação teve sobre ela um efeito singular... No processo, emagreceu todos os quilos que tentou, em vão, perder durante o casamento. Sem remédios e sem dietas malucas, ela foi se reencontrado por trás dos excessos, retirando-os com o cuidado de quem tira o pó acumulado sobre um livro raro, que vale a pena ser relido.
Acho que ela estava com saudade de si mesma e, a cada quilo perdido, encontrava-se mais. Era visível o quanto esse reencontro a fazia feliz. Era com surpresa e espanto que se olhava no espelho e pensava: ‘Meu Deus, há quanto tempo não nos víamos!’. E o espelho respondia com o mesmo entusiasmo: ‘Seja bem-vinda, de volta... ’.
Não, leitores, não estou fazendo ‘apologia’ a separação – ou ao divórcio -, nem mesmo insinuando uma mais nova descoberta contra o excesso de peso. Sou a favor do casamento, mas, antes de qualquer coisa, sou a favor da felicidade e, afinal de contas, estou só contando uma história da forma como percebi acontecer.
Bem, esclarecido esse tópico, prossigo com a história da minha amiga, a quem sugeri uma festa de “descasamento”, coisa chique, tipo a “última moda em Paris”, sabe? Sinceramente, acho isso de celebrar o divórcio civilizado demais para o meu gosto, por isso, ainda bem que ela também achou, já que só sugeri a festa na brincadeira, para quebrar o gelo da notícia do papel passado...
Mas, não é que ela me disse que conhecia um casal da terra cujo ex promoveu a tal festinha? Com direito aos docinhos ‘bem-separados’, a bolo com a noiva decapitada e até a convite onde os ex-pombinhos apareciam em uma fotografia rasgada ao meio. Tudo isso para não deixar dúvidas aos amigos e familiares da decisão de não estarem mais juntos.
Posso parecer antiquada, mas acho de mau gosto celebrar a separação. Acho que a maioria de nós, latinos, não está preparada para lidar com isso. Celebrar a separação me lembra o Dia dos Mortos, uma tradição no México, quando se ‘comemora’ os falecidos com música e muitas guloseimas, ou o costume, ainda mantido em alguns lugares recônditos, de ‘beber o morto’.
Sei que é natural, já que a morte faz parte da vida, mas, eu ainda estranho esses ritos. Tenho amigas, inclusive, que já deixaram claro seu desejo de uma ‘farra’, no próprio enterro. Mas, e quem fica? Isso vale tanto para a morte quanto para uma separação... Quase sempre haverá alguém sem disposição alguma para celebrar, alguém para quem o luto é uma etapa fundamental.
Acho que a melhor forma de ‘festejar’ a separação vem depois dela... É aprender a lidar sem egoísmos com alguém que já foi tão importante em nossas vidas, com quem dividimos tantas coisas. Aprender a deixar de lado as mesquinharias é a melhor maneira de seguir em frente. Porque, como dizia o poeta, o ‘tempo não para’ e a vida é muito curta para ser desperdiçada com picuinhas.
Que a festa aconteça e permaneça dentro de você, amiga. Boa sorte!

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