sábado, 1 de outubro de 2011

JB NA HISTÓRIA - 30 DE SETEMBRO - 1º DE OUTUBRO


1º de outubro de 1950 - Morre o cartunista J. Carlos

Morre o cartunista J. Carlos. Jornal do Brasil: Terça-feira, 3 de outubro de 1950
"O inesperado desaparecimento de J. Carlos, ocorrido domingo útimo, as 11 horas, consternou profundamente a imprensa brasileira, onde o ilustre morto militava há 48 anos, como cartunista notável. Seu traço era inconfundível pela elegância, precisão e expressão; seu nome tornou-se conhecido e admirado por todo o Brasil através de sua arte". Jornal do Brasil


José Carlos de Brito, o cartunista J. Carlos, 66 anos, morreu no Rio de Janeiro, dois dias após sofrer um derrame cerebral enquanto conversava com o compositor Braguinha, sobre a ilustração para a capa de seu próximo disco. Deixou viúva Lavínia de Brito e Cunha e cinco filhos. O funeral aconteceu no mesmo dia no final da tarde, no cemitério São João Batista.

Nascido em 18 de junho de 1884, na Praia de Botafogo, teve a prancheta de desenho como sua paixão desde cedo. Fazia desenhos e mais desenhos. E embora não chegasse a empolgar os amigos, um dia animou-se em enviar um de seus trabalhos a revista Tagarela, dirigida por dois caricaturistas já famosos, Raul Pederneiras e Calixto Cordeiro. O trabalho foi publicado. Daí em diante, com apenas 18 anos, passou a colaborar regularmente não só com O Tagarela mas com diversas publicações país afora, entre elas Tico-Tico, O Malho, A Avenida, O Fon-Fon, A Ilustração Brasileira, Para Todos e Careta.

Passado muitos anos de sua morte, J. Carlos conseguiu a façanha de manter-se tão atual quanto na época em que suas charges e ilustrações apareciam nas páginas das principais revistas brasileiras. Uma atualidade evidente não somente no seu humor, mas sobretudo no seu traço.

De fato, nada é mais carioca do que uma melindrosa de J. Carlos. Mesmo ela tendo vivido seus dias de glória lá pelos anos 20, 30, quando aparecia com deliciosa frequência nas capa da Revista Para Todos. Era uma carioca pra frente, o vestido curto, as pernas grossas sempre à mostra, os longos cílios, a sombra nos olhos, a boca cuidadosamente pintada, na sugestão de um beijo. Lutando por seus direitos (fumar em público era um deles), fingindo-se de frágil e submissa, acabava conquistando sua liberdade e dominando o homem, que no traço de J. Carlos era um almofadinha feioso, desengonçado, quase ridículo.

Mas a melindrosa foi apenas um - embora o mais marcante - dos muitos personagens criados por J. Carlos, uma artista versátil que passava, com a maior facilidade, de um gênero a outro. Sua obra de chargista e ilustrador inspira-se tanto na inocência como na malícia, no refinamento como no grotesco, na ingenuidade quase matuta do brasileiro das ruas como nos absurdos de um mundo permanentemente em guerra.

30 de setembro de 1985 - O cinema francês perde Simone Signoret

Simone Signoret Reprodução

"O segredo da felicidade no amor não é ser cego,
mas saber fechar os olhos quando necessário
."
Simone Signoret

Morre Simone Signoret. Jornal do Brasil: terça-feira, 1º de outubro de 1985.

O cinema francês perdeu Simone Signoret, 64 anos, que viveu seus últimos dias com ar de leoa cansada, doente, até ser derrotada por um câncer contra o qual lutou até o fim. Em seu último trabalho para o cinema, L´Etoile du Nord, rodado em 1981, já tinha perdido 15 quilos, mas sua força e vitalidade continuavam intocadas.

Falar de Simone Signoret é falar de Yves Montand, com quem vivieu uma paixão de 36 anos. É falar de uma mulher que participou ativamente da vida política de seu país e do mundo. É falar de uma grande atriz que nunca quis ser estrela, mantendo ferozmente a individualidade, a vida à margem da ficção das telas. É, ainda, lembrar a escritora que, nascida tardia no livro de memórias La Nostalgie N´est Pas Ce Qu´elle Étail, terminaria por cristalizar-se em seu único romance: Adeus Volodia, escrito já no outono de uma vida bela e plena.

Nascida Simmone Henriette Charlotte Kaminker a 25 de março de 1921, em Wiesbaden, na Renânia alemã, então ocupada pelos franceses, era filha de um judeu que servia no Exército da ocupação. Ainda menina, já sonhava com o teatro e o cinema, mas tem os sonhos truncados pela guerra. Com a invasão alemã em 1940, perde a companhia do pai, que foge para Londres e, meio judia, passa a viver sozinha em Paris. Nessa época, ingressa na carreira artística e faz amizades com diversos intelectuais, entre eles, Jacques Prevet e Pablo Picasso, tempos que chamaria mais tarde de anos de aprendizado.

Depois da guerra e de um breve casamento, vem o amor. Em 1949, encontra Yves Montand em Saint-Paul-de-Vence. A paixão é definitiva. Desde o começo, é uma relação única. Ela o acompanha em seu engajamento ideológico de esquerda e nas lutas pelos direitos do homem. Cada um faz sua carreira, Yves como cantor e ator de primeira grandeza e Simone como atriz completa, uma atriz que desabrocharia definitivamente bela - atrozmente bela - como uma mulher da Paris de 1900.


Seguem-se papéis memoráveis em Theresa Raquim, de Marcel Carne, As Diabólicas, de Clusot, As Feiticeiras de Salem, com a qual estréia no teatro ao lado de Montand. Depois de filmar Les Chemins de la Haute Ville, de Jack Clayton, na Inglaterra, ganha o prêmio de melhor atriz em Cannes em 59 e o Oscar de melhor interpretação feminina no ano seguinte em Almas em Leilão.

Mas, mesmo no auge da carreira, não perde a perspectiva política que deu à sua vida. Comunista militante, junto com Montand até 1956, quando os russos esmagam a insurreição húngara, visita o Kremlin e diz na cara de Krutchev o que pensa. Abandona o partido, mas não a causa política. Com mais 12 intelectuais assina um manifesto de apoio aos argelinos revoltados contra o domínio colonial francês. Direito à Insubmissão, intitula-se o panfleto, e por dois anos ela não volta a Paris. Com Sarte e Foucault, protesta contra a Guerra do Vietnam e depois em favor dos boat people refugiados daquele país. Denuncia as ditaduras e as torturas no Chile e na Argentina e apóia a Solidariedade na Polônia. Endossa o SOS Racismo, movimento para protestar contra o chauvinismo de alguns franceses de direita face a africanos e árabes que vivem na França.

Sua carreira abrange mais de 50 filmes, desde superproduções até filmes políticos. Os anos e a doença pesam., mas sua natureza radiante não faz disso uma tragédia: "A velhice é algo a que nos acostumamos. Quando fiz 40 anos, achei que estava doente. Depois, se há felicidade, leva-se na brincadeira".

Corajosa, lúcida, foi grande até o final. Até as 7h30 da manhã do início de um outono francês, quando seus olhos se apagaram. Mas sua luz, a luz de alguém que olhou a vida corajosamente de frente em todos os momentos, a luz dessa mulher de todos os combates, que amou e foi amada por seu público, brilhará para sempre.

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