No início de Suicídios exemplares, com a citação “Viajar, perder países” (de Fernando Pessoa), o romancista catalão Enrique Vila-Matas apresenta imagens que servem como referências ao seu processo ficcional: o autor como vagabundo, a escrita como inscrição urbana (grafite), a viagem como metáfora textual e suas ramificações – mapas, caminhos, perdas e labirintos, a leitura como injeção subjetiva de imaginária viagem do leitor no trajeto sempre em fuga do texto.
Também em seu último romance, lançado pela Cosac Naify, Dublinesca, o narrador atribui ao protagonista uma teoria do romance em torno de cinco pontos: “intertextualidade; conexões com a alta poesia; consciência de uma paisagem moral em ruínas; ligeira superioridade do estilo sobre a trama; a escrita vista como um relógio que avança”. Se a teoria logo é abandonada pelo personagem ao lembrar-se de reflexão pessoana sobre o sagrado instinto de não seguir nenhuma teoria e pela comemoração da morte de todas as teorias (inclusive a dele), não deixa de constituir-se em referência essencial à compreensão do processo narrativo de Dublinesca.
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