sexta-feira, 24 de junho de 2011

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA



ALMA DO NEGÓCIO
Ronald Mendonça
Médico


Longe  de me considerar um especialista em gastos públicos, licitações ou outros que tais, nessa quadra tenho como uma das pilastras dos meus palpites um ex-governador nordestino. Sem ter sido  um modelo de correção durante seu mandato, portanto, com prática no ramo, certa feita meu guru foi instado a expressar-se  sobre o quantum de desonestidade exalava de determinado governo. Seria taxativo: naquele instante não estaria havendo roubos, posto não existirem obras em andamento.
         Isso  remete aos anos setenta do findo século, justo no momento em que estava para ser assinado o acordo entre Paraguai e Brasil para a construção de da Hidrelétrica de Itaipu, aquela em que o Paraguai entrou com a geografia. Pois  foi naquele momento crucial que o ditador paraguaio Alfredo Stroessner virou-se para o seu colega brasileiro e teria lançado incômoda pergunta: “Donde está D. Sebástian?”
Logo se descobriu que o aludido D. Sebástian  era ninguém menos que Sebastião Camargo, parceiro de pescarias de Stroessner que, não obstante a qualificação de sua construtora, misteriosamente, teria sido preterido  das obras de Itaipu. Não precisa dizer que o velho empreiteiro foi localizado na hora, providencial contato que lhe aumentaria ainda mais a formidável fortuna, cuja jornada começara trinta anos, carregando areia no lombo de um jegue.
O folclore empreiteiro brasileiro é pleno de fatos pitorescos. Conta-se, por exemplo, que na construção de Brasília um prosaico caminhão de traço era computado várias vezes, após sucessivas entradas e saídas no canteiro de obras, só parando quando faltava gasolina ou quando o motorista cansava do percurso. E foi com técnicas assemelhadas que a maioria das grandes empreiteiras do país teria florescido, ao mesmo tempo em que  os intermediários de verbas prosperavam pra caramba.
Escrevo  essas bobagens  de olho no andamento das obras das vindouras Olimpíadas e  Copa do Mundo no Brasil. Especialistas e outros curiosos são unânimes quanto ao atraso das edificações. Estádios, aeroportos  e outros equipamentos, tudo estaria com o cronograma retardado. Uma esculhambação. Em muitos casos não haveria sequer projetos...

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