terça-feira, 7 de junho de 2011

JB - DIAS 6 E 7 DE JUNHO NA HISTÓRIA

7 de junho de 1989 - Morre Nara Leão, a musa de todas as bossas

Adeus a Nara Leão, a musa de todas as bossas. Jornal do Brasil: 8 de junho de 1989.


"O título de Musa da Bossa Nova não lhe faz justiça. ela foi mais. Foi a própria voz feminina da Bossa Nova - mas nem assim se faz justiça. Ela foi a musa e a voz também de outras bossas - a de Zé Ketti e Cartola, por exemplo, ou a bossa da banda de Chico Buarque. Nem assim, na verdade, ainda se faz justiça - ela foi a personificação de um estilo, onde à pequena voz se somavam o violão, o banquinho e o celebrado par de joelhos. Fez-se justiça? Ainda não. Ela foi, para resumir, uma formidável pequena pessoa que, simples e discreta, encarnou o lado bom de uma certa época e de um certo Brasil". Jornal do Brasil

Calou-se a musa das bossas novas da MPB. De todas elas. Nara Leão, 47 anos, morreu vítima de câncer, contra o qual lutou nos últimos anos.

Com sua emissão cool de Chet Baker de saias (e joelhos!), Nara sempre pousou de arcanjo anunciador de tempos modernos. Ousou cantar Zé Ketti, Cartola e Nelson Cavaquinho em plena maré do banquinho e violão joãogilbertianos. Tropicalizou nas cores bregachique Lindonéia enquanto hordas de fariseus clamavam pela cassação das guitarras elétricas dos velhos baianos. Do exílio europeu no começo tétrico dos anos 70, mandou um álbum duplo cifrado. Canções de protesto como as do LP Opinião, tipoAcender as velasChegança ou Sina de caboclo? Nada disso. A lançadora de Chico Buarque, Paulinho da Viola e Sidney Miller despachava de Paris duas dezenas de músicas de Tom Jobim. Bossa nova em plena barbárie.

Dona de um timbre palatal e a fímbria de sambista urbana, Nara revisitou choros e serestas, sempre na contramão do sucesso ostensivo. Matriz da postura anti vibrato que internacionalizou Astrud Gilberto, Nara foi cantar bossa nova para os japoneses a braços com o violão do amigo de infância Roberto Menescal. Em suas últimas aventuras voltou ao cinema Metro Copacabana da adolescência soquete, regravando em sincopado uma trilha de american songs de Holywood. O molejo dialético da carreira inimiga do óbvio, combinava com a personalidade informal de raro brulho e delicadeza. Nara Leão gravou 23 LPs - mas incluindo as coletâneas, sua discografia chega a 30 discos. A nova bossa perdeu sua perpétua garota prodígio.

6 de junho de 1961 - Governo Jânio Quadros tira Rádio JB do ar

Primeira página do Jornal do Brasil: Quarta-feira, 6 de junho de 1961

"Há poucos meses, o Diretor-Superintendente da Rádio Jornal do Brasil foi chamado, às pressas, ao Gabinete do Presidente da Comissão Técnica de Rádio, para responder por uma notícia que a emissora não divulgara. Na ocasião, diante de certas advertências que lhe foram feitas, perguntamos em editorial, quem as havia determinado. Até ontem, o nosso editorial ficou sem resposta. Hoje, porém, podemos dizer que ela nos foi dada de maneira a não deixar mais dúvidas. O Presidente Jânio Quadros, finalmente, revelou-se. Suspendendo as transmissões da Rádio JB por ela ter divulgado uma notícia sem maior importância, e ameaçando todas as outras emissoras do País, mostrou qual é a sua verdadeira opinião a respeito da liberdade de informações. E deu-nos a entender que vai usar todos os meios possíveis para calar aqueles que o criticam". Jornal do Brasil


As transmissões da Rádio Jornal do Brasil foram suspensas por três dias, na véspera do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa - pela Comissão Técnica de Rádio, por ordem do Presidente da República, Jânio Quadros. A medida foi justificada com base na divulgação de uma notícia que afirmou ser falsa e perturbadora para as Forças Armadas. Tratava-se de um suposto acordo entre Brasil e Argentina para a redução dos efetivos militares e melhor aproveitamento comercial da fábricas de armamento e munição brasileiras. A classe jornalista pronunciou seu enérgico apoio à rádio, a qual contou igualmente com a solidariedade calorosa da opinião pública.

O episódio da suspensão das transmissões da Rádio Jornal do Brasil foi um feito inédito em período de funcionamento do regime democrático no país. Após os três dias, as operações foram normalizadas.

O começo do fim da democracia
Será que o Presidente Jânio Quadros tinha intenções de intrigar uma instituição como o Jornal do Brasil, à época já com a tradição e credibilidade de mais de 70 anos, com outra, também tradicional, mais antiga e imponente, as das Forças Armadas, deturpando o sentido e as intenções de uma notícia? A resposta não demoraria a chegar. Numa desastrosa e frustrante gestão de sete meses que culminaria em sua renúncia ao cargo de Presidente da República, Jânio acendia o pavio que culminaria, três anos depois, no golpe militar, que colocaria a democracia brasileira à beira de um longínquo retrocesso.

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