quinta-feira, 3 de março de 2011

SEBASTIÃO NERY


MASCARAS   GRAFICAS
                                                                                          
         RIO – Madalena trabalhava em Realengo, subúrbio do Rio de Janeiro, empregada doméstica em casa de doutor Otacílio, advogado e cabo eleitoral da Arena. Doutor Otacílio tinha suas ligações políticas e ajudou na campanha eleitoral do deputado Nina Ribeiro.
Como prêmio, doutor Otacílio ganhou um retrato, com moldura e tudo, do Presidente Castelo Branco. Pôs a foto no escritório, como homenagem e orgulho cívico. Madalena era mãe de João, quatro anos, menino peralta, que subia e descia das janelas como trapezista. Madalena ficava furiosa quando João subia nas janelas. Uma noite, doutor Otacílio chegou em casa, foi direto para o escritório trabalhar. De repente, percebeu que o retrato do Presidente Castelo Branco não estava na parede.
         Saiu irritado: - Madalena, onde é que está o retrato do Presidente?
        
                                       CASTELO

Madalena ficou calada, lívida. Doutor Otacílio ouviu o choro de João, lá no quarto de Madalena : - Por que é que João está chorando?
         - Pus de castigo, doutor. Ele está traquinas demais. Não sai de cima das janelas. Uma hora dessas cai lá embaixo e morre.
         Doutor Otacílio foi tirar João do castigo. Encontrou-o em prantos e o retrato do Presidente Castelo Branco na parede do quarto.
         - O que é que a foto do Presidente está fazendo aqui, Madalena?
         - Doutor, é o castigo. O João tem pavor desse retrato. Eu prendo o João, ponho o retrato, ele chora, depois fica bonzinho. É a única coisa de que ele tem medo. Esse menino é demais, doutor Otacílio. Ele só fica quieto com medo do retrato. Mas depois eu devolvo.
         O retrato que não era bem uma foto, era uma mascara.

                                               IMPRENSA
                 
Nestes dias de carnaval, que é a festa das mascaras, o governo  anunciou que “o texto do Marco Regulatório da Mídia já está quase finalizado: a ideia é publica-lo em março, com um manifesto em defesa da democratização do setor. Disse mais, que o debate é prioritário e será iluminado pelos princípios da liberdade de imprensa” (Folha).
         Tudo isso é um carnavalesco baile de mascaras. O governo pensa que está enganando a imprensa, porque acabará arranjando um gancho legal para conter o poder dos jornais, revistas, rádios e TVs. E os jornalões e grandes grupos de comunicação falam em “liberdade de imprensa”, quando o que temem é uma lei que acabe com o escandaloso monopólio da mídia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário