RETRATOS DA VIDA - Sandra Tenório

Uma Alagoana Carnavalesca

Mesmo tendo nascido em Maceió, a terra mais bonita do nordeste, escolhi ser pernambucana de coração, principalmente quando se aproxima esta festa fantástica chamada carnaval onde uma magia se estabelece, alegria floresce.

Ainda faltando uma semana para o inicio oficial da festa, acabo de ver da janela de meu apartamento um pequeno grupo de foliões. Com poucos músicos, quase nenhuma fantasia, perucas coloridas na cabeça e uma alegria impressionante. Amanhã haverá festa na rua, prévia oficial dos prédios vizinhos, já enfeitaram tudo, fitas penduradas, a rua está linda. Onde pode existir uma festa em que os moradores descem com suas mesas, filhos, animais de estimação e, mesmo aqueles que há pouco vieram morar na vizinhança, são recebidos com tanto carinho?

Esta terra é mágica. Rendo homenagens diárias a essa força do carnaval pernambucano com tanta diversidade. Seja no maracatu, frevo, troças, bailes de clube, bonecos gigantes, mascarados, papangús, caboclinhos, e tantas outras manifestações. Onde houver espaço haverá folião, haverá festa.

É o carnaval democrático, aberto, com espaço para todos.

Neste exato momento não sei descrever quantas festas acontecem ao mesmo tempo. Em todos os lugares existe a preocupação com fantasias, roteiros. Busca-se energia para conseguir participar de tantos eventos, rever amigos, fazer novos, conhecer lugares, abusar um pouco da comida, da bebida, afinal, é carnaval. Quando acabar retomamos a dieta.

No último domingo, em Olinda, aconteceu o desfile das Virgens de Verdade, este ano batizou-se a festa com Abraça Brasil. Chovia insistentemente, não era pesada, mas era constante. Parecia que São Pedro estava presente na festa, mandando água pra resfriar. Participaram os Bois de Parintins, Garantido e Caprichoso cantando juntos, deixando a rivalidade de lado para mostrar a Pernambuco sua cultura. Alceu Valença, Elba Ramalho, André Rios, Nena Queiroga cantavam o frevo. Calypson e Garota Safada mostravam seu forró quase em ritmo de frevo. Grupo Molejo trouxe o samba. Foi uma festa do Brasil.

Neste mesmo dia, na rua da Aurora, os Blocos Líricos levavam famílias inteiras ao encontro dos Blocos, mesmo com chuva, era possível encontrarmos pessoas de todas as idades. Crianças aprendendo para seguir a tradição, avós dançando para orgulho dos filhos e netos.

Na quinta-feira pude participar do baile perfumado. Festa dos populares, no Pátio do Terço, centro da cidade, sem corda de isolamento nem fantasia obrigatória. Pessoas das mais diversas classes sociais presentes. Povo da rua, povo da cidade, povo do campo.

Hoje irei ao 47º Baile Municipal que teve venda recorde de ingressos. As mesas, 250, venderam em menos de 12h e os individuais em menos de 72h. Não é show internacional, é apenas carnaval. Feito por brasileiros.

Acredito que o carnaval dessa terra move a população com a mesma força que a seleção brasileira mexe com o brasileiro na Copa do Mundo. A energia é simplesmente incrível. Os toques de celular são trocados para músicas carnavalescas, os taxis se pintam, as casas se enfeitam, o povo se veste com cores nunca vistas. Os cabelos trocam de cor.

O Galo da Madrugada estará na rua no próximo sábado. Mais de um milhão de pessoas estarão presentes. Seja nos camarotes, seja na rua.

Nas ladeiras de Olinda já conseguimos encontrar a irreverência das fantasias. A crítica anárquica e bem humorada do povo. Encontraremos Dilmas, Lulas, Tiriricas, e tantos outros personagens da política juntos, sem partidos políticos nem disputas.

Não é tempo de preocupações, agora é carnaval. Festa necessária para buscarmos a alegria. Para deixarmos o estresse do dia a dia de lado, cuidarmos do lado alegre da vida, tão esquecido quando estamos no trabalho, nos engarrafamentos, nas nossas relações conturbadas com a sobrevivência consumista que nos é imposta.

Vamos vestir nossa fantasia, seja ela qual for. Se não houver fantasia, vamos abolir aquela roupa preta, cinza, marrom e vestir vermelho, verde, amarelo, laranja. Vamos brindar a vida e agradecer por estarmos juntos nessa festa onde o único limite é a criatividade. Depois do carnaval nos preocuparemos novamente, agora, é tempo de relaxar.