domingo, 30 de janeiro de 2011

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


A IRRESISTÍVEL VONTADE DE DEUS


Contribuinte da Previdência oficial desde 1966, há  uns três anos concluí que já havia descontado para o INSS durante tempo  suficiente para requerer a aposentadoria, como autônomo. Pude testar na carne a “eficiência” do propalado sistema previdenciário. Meses se passaram até, finalmente, receber o veredicto de que meus documentos, apesar de originais e fartos, não agradaram aos abnegados funcionários do órgão, o que me obrigou a entrar na Justiça. Aguardo o desfecho. Se o bom Deus ajudar a esse pobre bebedourense, terei uma renda de cerca de três mil reais mensais. Depois de 44 anos de contribuição, até que não está tão ruim.
Um colega mais velho teve mais sorte: sua aposentadoria – como autônomo – de igual valor tem sido paga, a bem da verdade, com rigorosa assiduidade. Por sinal, um colega diferenciado que, para garantir o leite dos netinhos, esparge sua ciência e arte, submetendo-se a salários de fome pagos por essas prefeiturinhas corruptas, em  massacrantes viagens interior afora.
Vivendo nessa expectativa, com o rosto sulcado pelo arado do tempo – como diria Herculano, não é por caso que tenho me mantido ligado nos comentários sobre aposentadorias milionárias de ex-governadores e quejandos.
Dispenso-me da obrigação de achar justo, legal, imoral ou nefasto. Pouco entendo de leis, sobretudo das de Deus e muito menos das dos homens. Posso dizer que esses caras são abençoados pelo Divino; nasceram com a estrela de Davi na testa, enquanto a maioria tem a estrela escondida em certo lugar que se apaga todas as vezes em que se senta.
Não nego. Estou consumido pela inveja. Gostaria de estar na pele do franciscano gaúcho  Pedro Simon, censor dos maus costumes, que só de atrasados vai morder quase dois milhões. E por que não ser o paranaense Álvaro Dias,  outro cara sério que, com quatro anos de mandato, foi tocado pela fada madrinha e vai dobrar seu patrimônio declarado.
Reflito sobre o meu passado. Vejo-me jovem caminhando, bem comportado, para a velha Faculdade de Medicina da Praça Afrânio Jorge para assistir às aulas do Dr. Gastão, do Dr. Pedro Reys, Dr. Aristeu Lopes... Poderia ter sido mais ousado e entrar num grupo disposto a cuspir nas botas e implantar uma  ditadura comunista. Iria sofrer uns tempos, mas seria um investimento premiado. Com certeza,  hoje teria uma gordurosa aposentadoria para queimar, como os familiares do nobre general Lamarca, um homem de bem, honra e glória do socialismo nacional. 

Um comentário:

  1. Meu caro doctor e escriba dusbão, compreendo
    plenamente seu natural desejo(também o tenho)
    de fazer jus a valores aposentatórios a nível
    de lullas, pedros franciscanos e sérios
    alvaros. Mas, lhe faltou visão macro do
    empreendedorismo político de ocasião, naquela
    ocasião. Uma passeatazinha de protesto a pretesto de levar uma carreira da polícia, uma
    candidaturazinha avereador e pronto...Estarias
    merecendo e recebendo uma 'bolsa-ditadura' da
    ordem de 8mil/mês; sem muita 'burrocracia'.
    Tá vendo nobre esculápio, mais vale ser
    político do que ser doutor !!!
    AAraujosilva, desde a bela praia da Jatiúca em
    Maceió das Alagoas.

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