sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DEU NO BLOG DO MAJELLA

Carlito Lima e Majella na sorveteria Bali


Geraldo de Majella


Faz alguns anos que eu escolhi a sorveteria Bali como o meu escritório, e em suas cadeiras e mesas tenho passado as tardes, na maioria das vezes. É para mim o melhor lugar que encontrei na cidade de Maceió. A sorveteria fica na praia de Pajuçara, de onde se pode contemplar a beleza do mar esverdeado e sentir a brisa que sopra do oceano para a terra.

Sentado, tomando sorvete, café e jogando conversa fora − essa tem sido a minha gostosa rotina nos últimos treze anos em Maceió. Uma ressalva: quando saio do trabalho, claro. Os amigos que passam, sentam e conversam; fala-se de coisas interessantes da vida de cada um e da vida alheia, lógico.

Entre os meus muitos e queridos amigos há um com quem religiosamente sento para conversar e tomar sorvete: é o escritor e cronista Carlito Lima. O mais entusiasta entre os amigos pelas coisas de Alagoas, pelo mar, pelas comidas, pelos bens imateriais e, mais que qualquer um de nós, um admirador da beleza feminina.

No dia 23 de dezembro, antevéspera de Natal, telefonei para ele, como faço diariamente, e perguntei: − Capita, vamos à Bali, olhar as mulheres bonitas?

Ouvi a resposta pronta: − Vamos, meu irmãozinho.

Tomamos sorvetes de sapoti, mangaba e pitanga, pedimos depois café com leite e arrematamos com pão de queijo. Passamos uma boa parte da nossa tarde e início da noite refletindo sobre uma situação que já tínhamos observado, mas nunca havíamos nos debruçado sobre o tema, seriamente.

Talvez por estarmos na antevéspera do Natal e nos acharmos mais atentos para o movimento da sorveteria, o entra-e-sai de crianças, jovens, mulheres e casais. Em menos de vinte e cinco minutos, quatro homens − um italiano, um alemão, um francês e um português − acompanhados de lindas mulheres brasileiras e negras.

Esse fato realmente chamou a nossa atenção; talvez haja acontecido outros encontros, mas num espaço de tempo maior e não tínhamos notado como hoje.

A satisfação e o encantamento deles − dos gringos − pelas mulheres era visível, indisfarçável. Não havia possibilidade de fingimento. Mas não foram apenas esses quatro casais que estivemos, eu e Carlito, a observar extasiados como se fôssemos fiéis defensores da mulher brasileira, e da alagoana em especial, uma espécie de defensores tardios de uma exclusividade imaginária.

Sem que combinássemos, cada um de nós ergueu muros intransponíveis para que os estrangeiros, mesmo os portugueses, fossem impedidos de escalar, ou seja, namorar as “nossas ‘mulheres; no meu caso, particularmente, as mulheres negras, e muito menos ainda namorar em nossa presença. Pairou um sentimento de ciúme extremo.

Esse delírio ou crise de ciúmes tardio pode ser imputado aos cafés. As nossas imaginações, sonhos; posso falar sem pudor para os internautas: os nossos ciúmes chegaram ao ápice durante a tarde.

Silenciosamente passamos a tarde da antevéspera namorando aquelas belíssimas mulheres negras, e nenhuma delas nos dirigiu o olhar, nem por compaixão; balbuciávamos palavras de afeto, até juras de amor eterno; prometemos em voz baixíssima e nem assim elas percebiam a nossa presença. Estavam cegas para nós dois, e mesmo sentados em posição estratégica na sorveteria, de nada valeu.

Ensaiamos um concurso particular e estipulamos notas por atributos anatômicos. Os quesitos obrigatórios, como bumbum, seios e coxas, foram votados na maioria dos casos com notas máximas: dez, com louvor e distinção.

A noite foi caindo, os casais felizes com suas negras saradas e ditosas foram saindo em direção as suas alcovas, imagino, e nós, membros de um júri fictício, pagamos a conta e fomos cada um para a sua casa, assistir ao Jornal Nacional e à novela das oito.

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