domingo, 31 de outubro de 2010

O QUE PENSO SOBRE A ELEIÇÃO - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA


O QUE PENSO SOBRE A ELEIÇAO

                  Affonso Romano de Sant'Anna

Tenho tentado, como muitos, entender a atual campanha presidencial.
                   1.Uma coisa singular logo `a primeira vista: os quatro candidatos principais do primeiro turno eram de "esquerda ". Esta observação já exigiria pormenorizado estudo. Surge  a indagação: por que a "direita" , com 500 anos de experiência, não conseguiu emplacar um candidato?
                   2. Como consequência, naquele turno e mais acirradamente no segundo turno comprovou-se o que previ: cada candidato tentaria, como estratégia, empurrar o oponente para a "direita " ', já que ambos são de "esquerda".
                   3. Prova disto está na internet, que é a caricatura da realidade: há acusações mútuas de autoritarismo, proto-ditadura  e até de nazi-fascismo.
                    
                   4.Então, como todos, me pergunto: por que Dilma continua na dianteira? A resposta a rigor é simples.Embora ela não tenha o carisma da comunicação, as pessoas estão votando na continuidade, no receio da ruptura  que Serra pode, segundo eles, significar.
                   6. Se Dilma é a candidata certa na eleição certa, pois o país quer que se continue e se aprimore o essencial desse governo, Serra é o candidato certo na eleição errada. Ele caiu numa armadilha histórica. Não há escândalo de revista semanal que faça o eleitorado abrir mão do que já adquiriu. "Contra fatos não há argumentos"-diz o provérbio.
                   7. Sim, suspeito que se Aécio fosse candidato teria mais chances, porque tem um discurso mais flexível, não carrega a antipatia que grande parte do Brasil tem diante de certa arrogância paulista, dialoga melhor com os opositores, tem uma expressão verbal e corporal mais comunicativa que Serra.
                   8. Por mais que o governo FHC tenha alguns méritos, é um ônus muito grande para Serra  carregar. Assim ele ficou sem pai nem mãe. Restou-lhe, o que em outras circunstancias seria um grande trunfo, restou-lhe a sua competência e vontade politica. Mas o momento histórico não lhe é propício.
                   9. Sintomaticamente ele é apresentado como o sujeito, o individuo, a  pessoa que foi o melhor deputado, o melhor ministro, o melhor prefeito, o melhor governador, o mais bem preparado. Isto no momento é insuficiente ou irrelevante para o eleitorado. Esse discurso do "eu" é anulado pelo discurso do "nós" que o governo Lula/Dilma faz.
                   10. Em outros termos, o governo Lula e sua candidata conseguiram passar a idéia de que há um projeto nacional que está dando certo. O eleitorado não quer arriscar entrar numa aventura que lhe parece pessoal, individualista. Isto funcionou com fenômeno Collor- o ëxito do individuo sedutor, jovem, dinâmico, inovador, espécie de novo messias que por sua força pessoal resgataria nossas falhas e nos projetaria logo no futuro.
                   11. No atual momento o eleitorado prefere programas e projetos  testados que estão modificando a estrutura da sociedade.
                   12. Acresce que o PT conseguiu, mais eficiente do que o frustrado e frustrante "Partidão", criar a idéia de militância, grupos de pessoas engajada religiosa e até fanaticamente na causa. Tal empenho não existe nos outros partidos. Isto faz toda a diferença na hora das decisões. A antropologia e a sociologia podem analisar isto mais ricamente.
                   13. A revelia  do que gostaria Serra,   os debates a respeito do abordo, da privatização, a condenação do MST,  o discurso moralizante, lançaram-no no que se poderia chamar de  um novo "udenismo" que lembra Lacerda em oposição ao "desenvolvimentismo"  encarnado em Juscelino/Lula.
                   14. Alguns equívocos  o prejudicam: a escolha de um vice inexpressivo e que nada soma à sua campanha e o  fato de negar a evidência das obras do PAC- o que faz com que milhões de pessoas duvidem dele e não do governo.
                   15. Em suma, ele está numa armadilha histórica e sua campanha não poderia ter erros, deslizes, ao passo que a oponente, apesar de  todos os erros e deslizes, mesmo assim  consegue manter a dianteira.
        
                   NOTA FINAL:
1. NÃO ASSINEI NENHUM MANIFESTO POR UM OU OUTRO CANDIDATO. 
2 .NAO É MEU UM POEMA QUE CIRCULA  NA INTERNET SOBRE O "Presidente que mente" . O POEMA VERDADEIRO SE CHAMA "A implosão da mentira" , foi publicado na ditadura (1984) e pode ser ouvido na integra na : www.radiometropole.com.br  na secão "comentários".

Rio, 28.10.2010.

Um comentário:

  1. ESTOU DE PLENO ACÔRDO COM O QUE AFONSO DE ROMANO SANT'ANNA COMENTA SE O AÉCIO FOSSE CANDIDATO AS COISAS SERIAM DIFERENTES E AS CHANCES DO PSDB AUMENTARIA COM UMA POSSIBILIDADE DE VITORIA NESSA ELEIÇÕES, UMA VEZ QUE O DISCURSO DO AECEO E FLEXIVEL E NÃO TEM ANTIPATIA E ARROGANCIA DOS PAULISTA

    ResponderExcluir