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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA.


A MASSAGEM

            Dona Mercedes morreu no dia que completou 51 anos de casada. O Coronel Eustáquio enterrou a esposa na Fazenda Olho D’água das Flores, onde passaram suas vidas com muito amor, carinho e respeito. Mercedes era uma mulher ativa, de opiniões, deixava o marido pensar que ele mandava, entretanto, ele só fazia o que ela queria. No último desejo, pediu para ser enterrada junto ao túmulo do filho embaixo de uma enorme aroeira num morrete perto dos currais.
                  Assim foi feito. Os cinco filhos vieram de Maceió e enterraram a matriarca junto ao seu amado filho Bruno, que havia morrido aos 19 anos.
                 A morte da mulher foi outro baque na vida do coronel. Com 72 anos ele monta todo o dia um cavalo e sai fiscalizando, dando ordens pelo extenso pasto do gado nos arredores. Formou seus filhos: três advogados, uma assistente social e uma médica. Sua mágoa e preocupação é que nenhum deles, incluindo genros e netos, tem vocação para fazendeiro. O filho mais novo, Bruno, foi seu braço direito, seu orgulho, amava administrar as terras e o gado, não quis estudar, tinha um gênio briguento, gostava de cachaça e mulheres. Morreu de numa queda de cavalo, correndo uma vaquejada, estava bêbado derrubou o boi, mas caiu do cavalo. Quando ele lembra Bruno, dá uma dor no coração de saudade, era o filho querido, o companheiro nas andanças pela fazenda.
                    Depois que Dona Mercedes morreu o coronel Eustáquio enclausurou-se na fazenda. Só viajava a Maceió às quartas-feiras. Nunca foi mulherengo, mas gostava de se aliviar, como dizia, com uma garota de programa.  
              Havia dois anos da morte da esposa quando no final de ano a família se reuniu para o natal e aniversário do patriarca, 25 de dezembro. Festa tradicional da família, animada com filhos, netos, agregados e convidados. Na festa, Natália, a filha médica, notou que o coronel andava cansado. Exigiu que ele fizesse um checape.
                 Edgar, o genro, figura simpática, boa conversa, do ramo de comércio de imóveis e carros, as más línguas falam que seu casamento com a médica teve também um olho nos bens do velho, fazia tudo para agradar ao sogro. Ofereceu-se para acompanhar o velho coronel aos médicos indicados pela doutora. Foram dez dias entre consultas e exames. O doutor urologista examinou os resultados. Depois de apalpar o ventre, pediu ao coronel para ficar na posição que Napoleão perdeu a guerra, e fez o famoso toque retal. Constatou que a próstata estava volumosa e inflamada. Passou-lhe antibiótico e determinou ao Coronel para vir toda semana tomar aquela massagem na próstata, até diminuir o tamanho e acabar a inflamação.
                   À noite a filharada e os netos foram visitá-lo em seu confortável apartamento na orla da Jatiúca. Ele confidenciou para os filhos, que estava constrangido com o tratamento, que não ia mais levar dedada de médico nenhum. Seu fio-fó era órgão de saída, nada de entrada. Com determinação avisou que não voltaria ao consultório, tomaria apenas o remédio.
               A doutora Natália, ao dormir, conversou com o marido sua preocupação com o pai, a massagem na próstata era necessária. Edgar homem de desembaraços e de soluções, nunca põe dificuldades, prometeu resolver o problema.
              No outro dia pela manhã foi conversar com o do doutor urologista, acertando os detalhes de seu plano. Sua atedente bonita, sabia fazer massagem na próstata, veio a calhar. Com a conivência do doutor prosseguiu a estratégia. Na quarta-feira foi visitar o sogro levando recado do doutor que ele podia ser atendido também por uma massagista especial. Depois de muito relutar, o coronel foi espiar a massagista que estava no carro esperando. Ficou encantado com a beleza daquela morena simpática que lhe sorriu pecaminosamente. Com a jura do genro de não contar nem para a filha, o velho se deixou levar para um local apropriado. O que houve entre as quatro paredes, ninguém sabe. A próstata do coronel já deve ter curado há muito tempo, mas ele prossegue o tratamento. Fica feliz quando amanhece a quarta-feira, vem para Maceió, radiante, dia da massagem com a bonita Michelle que engorda seu salário em R$ 200, 00 toda semana.
                   


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

OPINIÃO DO GUZZO

J.R.GUZZO


NÃO DÁ PARA EXIGIR QUE BOLSONARO GOVERNE COMO O PT QUER

Um dos inconvenientes que causam mais irritação nas democracias é que elas exigem eleições livres para receberem o certificado oficial de democracia – e o grande inconveniente das eleições, como todo mundo sabe, é que você pode perder. Nesse caso, vai para o governo gente que não faz nada daquilo que, na sua opinião, um governo decente deve fazer.
Os ministros não são aqueles que deveriam ser nomeados. As declarações do presidente a República e da turma que está com ele estão sempre erradas – são ofensivas, absurdas, retrógradas, perigosas ou simplesmente cretinas. Nada que o governo propõe está certo. Tudo o que não está fazendo deveria ser feito. O presidente, em vez de ouvir a oposição, ouve os seus eleitores. Em vez de falar para a esquerda, fala para a direita. Enfim: é um transtorno.
O Brasil está vivendo um momento exatamente assim. O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, sobretudo os que dão a impressão de serem mais parecidos com ele, são criticados, frequentemente com indignação, por dizerem e fazerem as coisas que disseram que fariam antes das eleições – coisas que, no final das contas, são justamente as que os levaram a ser eleitos.
Não se leva em conta, ao mesmo tempo, que não está acontecendo nenhuma das catástrofes que os perdedores da eleição diziam que o presidente iria produzir: o genocídio dos homossexuais, dos índios e das mulheres, a guerra civil provocada pela “liberação das armas”, a liquidação da democracia e sabe lá Deus o que mais. Em suma: ele leva nota ruim quando tenta fazer o que prometeu, e não leva nota boa quando não faz nenhuma das barbaridades que deveria estar fazendo.
Bolsonaro pode acabar seu mandato como um bom presidente ou como um mau presidente – isso ficará perfeitamente claro com os resultados objetivos que o seu governo apresentar. Mas não é razoável exigir que ele presida o país como os seus adversários querem. Sua obrigação, ao contrário, é fazer o que os seus eleitores esperam que ele faça; é cumprir o que prometeu a eles durante a campanha.
Tudo isso pode ser muito desagradável, mas os quase 58 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro para presidente foram a maioria do eleitorado no momento da eleição. Essa maioria tem anseios de direita, ou conservadores, e entregou ao atual presidente a incumbência de cumpri-los. Tem valores que pretende ver apoiados. Essas pessoas são contra tudo o que cheire a Lula e a esquerda. São contra a corrupção. São contra a incompetência dos governos petistas. Bolsonaro erra, na verdade, todas as vezes que não cumpre o que prometeu a quem votou nele.
É evidente que o Brasil é maior que o eleitorado bolsonarista; é dever do presidente, assim, governar para todos os cidadãos, e não apenas para os seus seguidores. Mas não faz sentido ficar revoltado com Bolsonaro porque ele pensa diferente de você – e por não fazer um governo parecido ao que Fernando Haddad ou Fernando Henrique, por exemplo, possivelmente fariam. Para isso será preciso esperar pela próxima eleição.

OPINIÃO DO ALEXANDRE GARCIA

ALEXANDRE GARCIA


NAMORANDO A CULTURA

Regina Duarte, a Namoradinha do Brasil, aceitou ser Ministra ou Secretária da Cultura com a condição que começasse com um noivado, até que passasse o medo com o tamanho do desafio.
Não precisaria ter medo quem há 50 anos frequenta o serpentário onde crepitam as chamas da fogueira de vaidades que é o meio das artes, onde fervem egos. O setor cultural estatal talvez seja ainda mais perigoso, porque junta uma rima: a da vaidade com autoridade. A Namoradinha do Brasil vai ocupar a cadeira de um exemplar dessa combinação, que ficou sem assento por causa do pronunciamento em que parecia estar no estádio de Nuremberg, com Goebbels e Wagner. Homem de teatro, incorporou a persona.
Quando se soube do plágio de Goebbels, na sexta-feira pela manhã, pensei que fosse a frase aplicadíssima no Brasil, por mentirosos contumazes: “A mentira repetida mil vezes, vira verdade”. Se fosse, não seria novidade, pois são velhos conhecidos esses mitômanos que primeiro se convencem da própria mentira, para depois mentirem convincentemente. Mas não era a frase. Foi um parágrafo inteiro de Goebbels, uma enrolação verborrágica que o Senhor Alvim exumava.
Para conseguir almoçar naquela sexta no Clube Naval, o presidente primeiro teve que demitir o secretário. Alvim flagrado, disse que não sabia da origem do parágrafo plagiado, o que levou a suposições de conspiração para atingir o presidente com a fala nazista. Mas depois, Alvim afirma que assume tudo, isentando assessores. Difícil entender uma mente assim. Tomara que jornalismo investigativo abra a caixa-preta desse episódio, para apurar se guarda mera coincidência com o enredo de “Especialista em Crise”, com Sandra Bullock.
O episódio Goebbels-Alvim serve para chamar a atenção do povo, povão brasileiro, que existe uma fonte de consumo de seus impostos, chamada Secretaria – ou Ministério – da Cultura. Porque o setor não tem servido ao titular da cultura brasileira, que é o povo, mas a alguns selecionados, que adoram fácil dinheiro público, para não correr riscos com seus empreendimentos.
Tenho visto gente financiada pelo imposto de todos, que cobra alto por ingressos de seus espetáculos, vistos só por quem tem dinheiro para alcançar a bilheteria. Tenho visto falta de critério, financiando obras que nada dizem ao povo. Vejo grandes centros urbanos centralizando recursos culturais, a despeito de haver um interiorzão forte, rico de cultura, de tradições, distante do estímulo estatal, e perdendo suas raízes, esmagado pela cultura industrial massificada, alheia a seus valores.
Serve para gente lembrar que a cultura é do povo, não tem dono, muito menos grupos de donos. E não está jungida ao estado, como sugeriram Goebbels e Alvim, mas é solta e livre, porque não aceita imposições. Um povo não pode perder seu passado, ou não terá identidade no futuro.
As raízes de um país são como as raízes de uma família – países e famílias precisam honrar e preservar seus nomes. Há uma cultura da Humanidade que perpassa fronteiras: são os grandes nomes da música, da literatura, das artes cênicas e plásticas. E há uma cultura nacional, como a nossa, rica, diversificada, cheia de cores e nuances, que deve ser preservada com o zelo do estado – e diferente do show-business, do entretenimento industrial, que é uma atividade de risco, como tantas outras atividades comerciais.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

OPINIÃO DO GENERAL MARCO ANTÔNIO FELÍCIO

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO É RELATIVA
General Marco Antonio Felicio da Silva.
A Teologia Bíblica é Cristocêntrica. Jesus é a figura central da História, seu nascimento é o ponto divisor do tempo. Essa pessoa gloriosa é o ponto focal de toda a Teologia. A mente e o coração dos homens deveriam ser centralizados n’Ele.
Assim, contribuir para ridiculariza-lo ou desmoraliza-lo, para os cristãos, é inadmissível, pois, intensamente afrontoso.
Este o feito do Ministro Toffoli em nome, para Ele, de uma liberdade de expressão absoluta, afrontando a religiosidade e crenças de milhões de cristãos.
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Não há dúvidas, para grande parcela da populacao, de que a maioria dos jornalistas do “O Globo”, principalmente da seção “Opinião” e da Globo News, rezam, por vezes, até mesmo de forma ridícula, pela cartilha gramscista. Esta determina objetivos a atingir para implantação de um governo comunista. Um deles, buscar a hegemonia política e cultural das classes proletárias e minoritárias. Assim, aproveitam-se da fraca Democracia e do excesso de liberdades e de direitos, visando desmoralizar autoridades, incluso, o Presidente.
Qualquer ocorrência negativa para o governo é levada ao extremo e difundida intensamente.
Foi o que ocorreu, hoje ( 17/01), na GloboNews. Apoiados em algo, constante de vídeo, mas fora do contexto, postado pelo Secretário da Cultura, os reporteres repetem que, neste vídeo, o governo prega uma cultura, de Estado, nazista. Criam espaços para intensas críticas, ao governo, de comunistas e opositores. Pedem medidas concretas para apuração dos fatos. Taxam o Presidente como nazista, ditador, autoritário, despreparado, ignorante, protetor de corruptos ligados às milícias, etc.. E o fazem, traduzindo pressões políticas e impregnação psicológica. Atuam, também, com programações, voltadas para jovens e adultos, destruindo valores morais e religiosos, a noção de família, a autoridade de pais, professores e das polícias militares e civil. As novelas Insuflam ao sexo livre e difundem a famigerada ideologia de gêneros.
Militantes de esquerda, no Legislativo e Judiciário, lenientes e preocupados com vantagens e proteção próprias, contribuem para uma sociedade fragilizada pelas drogas e pela corrupção.
A degradação pela falta de ética, baixos padrões morais, falta de civilidade e de civismo, torna-a presa fácil para aceitar o “senso comum modificado” e a nova “democracia radical”, o comunismo.
Exemplos do acima, são mostrados na Seção Opinião, do Globo (10/01/20), quando aborda a proibição de exibição do vídeo ( Porta dos Fundos) que apresenta Jesus como gay, chocando a população religiosa. Afirma que “Censura é ilegal e inaceitável em qualquer área”. Ainda: “A proibição do vídeo (Porta dos Fundos) coincide com um governo que atua de forma autoritária contra a Arte e a Cultura”. “Compreende-se que haja alguém que não goste de ver Cristo personificado como gay”. “Mas não se pode impedir sua circulação”. “Preocupa que o veredicto proibitivo do Desembargador coincida com uma atmosfera política tensa no País, inaugurada pela chegada da Extrema Direita, ao Planalto, por meio do Presidente Bolsonaro e seu Grupo.” Logo em seguida, Dias Toffoli, Presidente do STF, decidiu, sózinho, liberar a exibição, contra a opinião de milhões de religiosos.
Interessante, o caso abaixo, similar ao "Porta dos Fundos", para reflexão de todos e, principalmente, para o Judiciário e Imprensa, quanto à liberdade de expressão dita absoluta e não, em certas circunstâncias, relativa.
Em 1982, na Austria, foi lançado um filme chamado “O Concílio do Amor”. Retratava a Deus Pai como idiota, senil. Jesus como cretino e a Virgem Maria como mulher licenciosa.
As autoridades austríacas invocaram o art 188 do código penal, que penaliza a degradação ou ridicularização de objeto ou doutrina religiosa, para impedir a exibição. O filme agredia o sentimento religioso dos cristãos austríacos.
O Tribunal de Apelação, de Innsbruck, afirmou que a liberdade artística era, necessariamente, limitada pelos direitos dos demais e pela liberdade de religião, bem como pelo dever do Estado de garantir sociedade baseada na ordem e na tolerância.
Os produtores do filme alegaram a violação da sua liberdade de expressão e artística.
O caso foi para a Corte Europeia de DH, discutindo-se a questão da liberdade religiosa e de expressão. A Corte manteve o impedimento da exibição, afirmando que o banimento do filme configurou uma limitação justificada da liberdade de expressão, por veicular provocação maliciosa contra uma religião, o que configura violação do espírito de tolerância, característico de Sociedade Democrática, consubstanciando-se em atitude violadora do sentimento religioso dos demais cidadãos e da busca da paz em matéria religiosa.
Após tal veredicto, seria a Austria, bem como seus tribunais, paraíso do obscurantismo? Seria, a Mais Alta Corte Européia de DH, antidemocrática por considerar que a liberdade de expressão e, consequentemante, a de Imprensa, não é absoluta , mas relativa.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


A Coroa Poderosa

               
        Gerson é um homão, trinta e poucos anos, mais de 1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita. Xodó das meninas no tempo de solteiro. Hoje advogado brilhante, ambicioso, atuante.
       Ao contrário de muitos especialistas defensores de que a beleza feminina está no auge entre 17 e 22 anos, Gerson assegura que o auge da beleza feminina está na maturidade. Uma mulher de quarenta, cinqüenta, sessenta anos, sabe o que o homem gosta; é bela em sua elegância, em saber o que deseja.
       Meses atrás, Gerson frequentava um curso de pós-graduação com alguns colegas advogados, promotores, juízes, inclusive uma advogada, cinquenta e poucos anos, senhora letrada, inteligente, de um bom humor notável. Ele teve uma empatia instantânea com essa madame, viúva, bela e gostosa.
          Dora, três casamentos além de casos amorosos. O mais rumoroso, por certo, com um governador do Estado. Teve também um discreto caso com uma artista da rede Globo, que se apaixonou, passava fim de semana em Maceió, para estar com esse belo espécime de mulher.
          Dora foi muito poderosa nos bastidores da política. Nas brigas do poder ela metia a mão de ferro, elegantemente, protegendo seus partidários no emaranhado da corte. Seja no poder Executivo, Judiciário ou Legislativo, durante o mandato de seu amante governador, ela foi ouvida, teve poder de decisão. Esse poder não conquistou à-toa, foi pela inteligência, firmeza e posições tomadas, principalmente na cama.
      A coroa tem ânsia de viver. O mais de meio século não deixou marcas na jovem alma. Mulher alegre, corpo bem cuidado, bem moldado; teve ajuda, certamente, das academias de ginástica e cirurgiões plásticos.
     Mulher de muita leitura, gosta de fazer cursos, atualizar-se, aprender. Gerson e Dora frequentavam o mesmo curso há dois meses. Todas as noites estudavam juntos, gostavam da companhia recíproca. Ele a via como uma irmã mais velha, mas havia atração, apreciava os decotes ousados dos vestidos de nossa musa.
     Certa noite, os colegas foram terminar um trabalho em grupo no espaçoso apartamento de Dora na praia de Ponta Verde. Mais de duas horas de discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho para outro dia. Dora ofereceu um gostoso lanche: moqueca de siri mole, regado a vinho branco e uísque. Foi o ponto alto da noite. O grupo se divertiu até tarde, ouvindo boa música, papo alegre, inteligente. Gerson dedilhando um violão, cantou: “Dora, rainha do frevo e do maracatu...”. Recebeu um beijo lambido no ouvido.
   Foi sugerido continuarem os trabalhos no sábado, no mesmo local.
   Sábado pela manhã, Dora foi ao mercado comprou camarão e arabaiana, o prato da noite, filé de peixe ao molho de camarão. Ligou para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo adiar o trabalho para terça-feira. Só não telefonou para Gerson.
    Quando ele, carregando livros e papéis embaixo do braço, pontualmente tocou a campanhia, Dora abriu a porta do apartamento, com um largo sorriso e um boa-noite, estava maravilhosa de vestido azul colado ao corpo. Gerson estranhou quando sua amiga falou no trabalho adiado. Convidou-o para entrar, seria uma companhia agradável se ficasse para jantar.
         Sentaram-se na varanda com vista à praia iluminada por uma azulada lua bonita refletida no mar e nas palhas dos coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, até Dora servir o peixe com camarão.
       Ao voltar para a varanda, colocou uma música suave, americana, iniciava assim: “Heaven I’am heaven...”, isso é, “Paraíso, estou no paraíso”.Gerson deu-lhe a mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele cantava a canção em seu ouvido, puxava seu corpo com vigor, iniciaram uma seção de carinho e carícias, até ela sussurrar, pediu para ser levada ao quarto. Num impulso, colocou-a nos braços como se fossem recém-casados, empurrou a porta, entrou no quarto, soltando-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria Shakespeare.
                Depois dessa noitada de muito amor, os dois continuam se encontrando secretamente no mínimo duas vezes por semana, para uma seção de matinê na suíte presidencial do belo apartamento da coroa, que continua poderosa.

domingo, 12 de janeiro de 2020

OPINIÃO DO GUILHERME FIUZA

O FANTASMA DE ROLANDO LERO

Guilherme Fiuza
O economista do PT Marcio Pochmann declarou que a queda no número de assinaturas da TV paga é culpa do governo Bolsonaro. E arrematou com uma ironia triunfal: não era só o PT sair do poder que tudo se resolvia? (ou algo assim, quem quiser procure o original).
O mais importante na notícia não é o fato do eminente economista nunca ter ouvido falar de streaming, Netflix, Amazon, etc – o que possivelmente o levará a novas descobertas, como a de que as vendas de aparelhos de fax também despencaram, da mesma forma que o serviço de revelação de filmes fotográficos mergulhou numa grave crise. Também não há nada de extraordinário na invenção de teses vagabundas para tentar desmentir a realidade da recuperação econômica: a maior parte do noticiário nacional está há um ano fazendo isso diariamente, todo mundo já se acostumou.
O dado realmente significativo – e dramático – desta notícia, ou desta antinotícia, é que Marcio Pochmann possivelmente seria hoje o ministro da Economia se Fernando Haddad tivesse sido eleito presidente.
E aí vale a recapitulação histórica – ou ajuda-memória, como diria Marcelo Odebrecht, o grilo falante do Lula: apesar de ter sido ungido dentro da cadeia pelo maior ladrão do país, Haddad chegou ao segundo turno da eleição (hoje parece mentira, mas está no Google), tendo tido, portanto, chances reais de vitória. E Marcio Pochmann, esse economista que, como visto acima, sabe tudo de economia, era o homem forte (sic) do suplente de presidiário na campanha – o Paulo Guedes do Haddad.
Como se vê, o Brasil tinha de um lado o posto Ipiranga e de outro a escolinha do professor Raimundo. Onde eu faço as reformas e tiro o país do buraco? Pergunta no posto Ipiranga. Onde eu faço panfletagem fantasiada de gestão e jogo o país no buraco? Pergunta pro Rolando Lero.
Outra ajuda-memória, ou informação cultural, para trazer luz em meio a esse período de trevas: a briga de foice no escuro (bota escuro nisso) pelo poder na campanha de Fernando Haddad consagrou esse mesmo Pochmann em duelo mortal com Nelson Barbosa. Não está ligando o nome à pessoa? Sem problemas, a ajuda-memória da Odebrecht te socorre: Nelson Barbosa era o braço direito de Dilma Rousseff naquela epopeia que levou o Brasil gloriosamente ao fundo do poço. Ele perdeu a parada para Pochmann porque foi considerado pelo estado-maior de Haddad ortodoxo demais…
É aquela coisa: por que você vai se contentar com o fundo do poço se você pode ir de uma vez por todas para o brejo? (essa gente nunca se acomoda na zona de conforto).
O que estava em jogo na eleição de 2018 é o que continua em jogo agora: posto Ipiranga ou escolinha do professor Raimundo, gestão de equipe econômica ou poesia de Rolando Lero, trabalhar sério ou ir para o brejo. Vale notar que diversas outras vozes que se dizem liberais (e até sabem o que é streaming) viraram avestruz na eleição – e hoje estão por aí fantasiadas de girafa, cornetando a equipe de Paulo Guedes com estranhas teorias macroeconômicas da democracia florestal. Sem dúvida alguma o professor Raimundo andou fazendo escola.
Feito esse breve esclarecimento sobre o caminho escolhido pelo Brasil, podem voltar ao videogame do apocalipse e à caçada de Pokémon com o Pochmann. Só lembrando que nesta ajuda-memória – um oferecimento do Instituto Odebrecht – não falamos em nenhum momento de roubo. Ou seja: não menosprezemos a incompetência e a estupidez, até porque essas a Lava Jato não pega.

sábado, 11 de janeiro de 2020

OPINIÃO DO GENERAL FELÍCIO


UMA GUERRA QUE NÃO É NOSSA
General Marco Felicio

A Política Externa brasileira, ao longo dos anos, com raras exceções, tem tido, como características de sua atuação, a defesa da paz internacional, a promoção da cooperação internacional e a defesa de princípios como a igualdade soberana dos Estados, a não intervenção nos assuntos internos e externos dos demais Estados, o da abstenção do uso ou da ameaça da força e a solução pacífica das controvérsias.
Além disso, o nosso comportamento tem sido marcado pelo não alinhamento automático com qualquer uma das grandes potências. Esse não alinhamento automático ficou bastante claro nos governos militares, principalmente, com relação aos EEUU. O Presidente Geisel, rompeu o Acordo Militar com aquele País e o fêz em resposta às críticas do então Presidente Carter acerca da Política de Direitos Humanos no Brasil, às ações visando restringir o desenvolvimento brasileiro na área nuclear e, ainda, às tentativas de controlar as políticas militares brasileiras por meio de programa de assistência militar.
A atual Política Nacional de Defesa, coerente com a Política Externa, exercida pela Diplomacia e pelo Poder Militar, afirma em seu item 5.7: O Brasil defende uma ordem internacional baseada na democracia, no multilateralismo, na cooperação, na proscrição das armas químicas, biológicas e nucleares, e na busca da paz entre as nações. Nesse sentido, defende a reforma das instâncias decisórias internacionais, de modo a torná-las mais legítimas, representativas e eficazes, fortalecendo o multilateralismo, o respeito ao Direito Internacional e os instrumentos para a solução pacífica de controvérsias.
Em seu item5.8. diz: A Constituição tem como um de seus princípios, nas relações internacionais, o repúdio ao terrorismo. O Brasil considera que o terrorismo internacional constitui risco à paz e à segurança mundiais. Condena enfaticamente suas ações e implementa as resoluções pertinentes da Organização das Nações Unidas (ONU), reconhecendo a necessidade de que as nações trabalhem em conjunto no sentido de prevenir e combater as ameaças terroristas.
Ainda, afirma em seu item 5.12.: O Brasil atua na comunidade internacional respeitando os princípios consagrados no art. 4º da Constituição, em particular os princípios de autodeterminação, não-intervenção, igualdade entre os Estados e solução pacífica de conflitos.
Há que enfatizar que o Idealismo Político, acima contido, traduzindo Política Externa softpower, já não cabe em mundo extremamente violento em face de fortes antagonismos políticos e religiosos, respaldados por potências nucleares, as quais se consideram, pela posse de tal poder, não submissas a qualquer outro.
Assim, o acima constante da nossa Política Nacional de Defesa é uma postura de auto-defesa, fruto da falta de poderio militar nuclear para respaldar Política Externa mais agressiva, em caso de situações de grande antagonismo, na busca da concretização dos interesses nacionais, os quais, segundo Morghentau, são a estrela guia, a única linha de pensamento e norma de ação no relacionamento com as demais nações.
E isso já não é de hoje. Como exemplo, a chamada Dama da Morte, Madeleine Albright (1997/2001), então Secretária de Defesa dos EEUU, perguntada que país era mais importante, segundo a Política Externa, se Brasil ou India, respondeu sem pestanejar: “o poder nuclear (1974 ano da primeira explosão de um petardo atômico) da Ìndia!” Afirmativa confirmada por Ministro Indiano: ‘Éramos um país de segunda categoria, porém nos tornarmos um País respeitado. Temos um outro status internacional. Somos uma potência com poder militar nuclear.”
Diferentemente do Brasil, os EEUU se orgulham da sua condição de super potência militar, declarando por escrito, com todas as letras, que a missão das FFAA americanas é “defender os interesses do País em qualquer parte do mundo”, interesses esses que são ligados a sobrevivência, à integridade do território, ao bem-estar econômico e à ordem mundial (Pax Americana). Lutam pelo bem-estar do povo norte-americano, pela manutenção da qualidade de vida, pela gasolina barata, etc.. e não pela democracia ou manutenção da liberdade em outro País. Lutam pelos interesses da Nação!
Os americanos levaram uma segunda guerra ao Iraque, causando grande detruição e mortes. Quebraram, em nome de uma mentira, existência de armas de destruição em massa, o já frágil equilíbrio político de toda uma Região, com o enforcamento de Saddan Hussein e a ocupação do País.
Paralalemente, no Irã, a partir da década de 80, com a queda da monarquia no Irã, até então apoiada pelos americanos, deu-se o advento da República Islâmica, incrementando o conflito entre iranianos e americanos. O apoio americano ao Iraque na guerra contra o Irã (80 a88), a perda do controle da produção de petróleo, a invasão da embaixada dos EEUU em Teerã (79) e a prisão de americanos, por longo tempo (até 81), o rompimento diplomático respectivo, bem como as pesadas sanções econômicas impostas ao Irã, pelos EEUU, até hoje, em nome do Irã ser considerado país perigoso e patrocinador do terrorismo, geraram enorme animosidade. A agravar, um Irã desenvolvedor de mísseis e de artefatos nucleares, rompendo acordo anterior respectivo e com forças militares atuantes nos conflitos do Oriente Médio, contrários aos interesses dos EEUU, levaram à situação atual de beligerância, com ataques e mortes de ambos os lados.
Sem sombra de dúvidas, esta não é uma guerra que mereça o nosso apoio para qualquer dos lados envolvidos. Seria uma afronta ao prescrito na Política Nacional de Defesa e na Constituição e uma porta aberta para que, amanhã, pudessem fazer o mesmo com o Brasil, ( sem poder nuclear por falta de visão geoestratégica de governantes ineptos), por não sermos capazes, por exemplo, de cuidar da Amazônia, “ patrimônio da Humanidade”, colocando em risco o eco-sistema global e a qualidade de vida da população mundial como, recentemente, em época de incêndios naturais, anunciaram e tentaram ensaiar.

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


UMA HISTÓRIA DE AMOR
                                              


             No longínquo ano de 1963, eu, tenente do Exército Brasileiro servindo na Bahia, passei as férias de verão, como de costume, em Maceió. Certo dia minha irmã Rosita convidou-me para visitar o acampamento das bandeirantes, com mil recomendações para não me enxerir com as moças. Quando olhei aquela galeguinha de 15 aninhos, não pude deixar de cantar uns versos da ciranda no ouvido: “Oh menininha você é tão bonitinha... Engraçadinha... Vou me casar com você...”
        Anos depois, já como capitão no 20º BC em Maceió e fazia a Faculdade de Engenharia. Solteiro, com outros amigos, éramos os donos da cidade.
       Até que um dia de 1968 encontrei aquela bandeirante bonitinha que havia retornado dos Estados Unidos. Ao me deparar novamente com a galeguinha, me apaixonei e logo cumpri a premonição da ciranda cantada em seu ouvido. No dia 9 de janeiro de 1970 casei-me com Vânia na Catedral Metropolitana de Maceió.
       A despedida de solteiro foi no Bar do Miltinho. A noitada foi maravilhosa, o bar se encheu de amigos, colegas da faculdade, empresários, militares, pescadores, políticos, um padre. De repente chega um amigo da Viçosa com um Insquenta Muié, cantando: A minha turma que bebe um pouquinho... no bar do Miltinho... até o sol raiar.
        Entrei na Catedral lotada, fardado de capitão pelos braços de Dona Zeca. A Banda de Música do 20º BC tocou belas músicas durante a cerimônia elegante. Depois da cerimônia, no sair da Igreja, os colegas do Exército fizeram a abóbada de aço com as espadas cruzando no ar, uma tradição no casamento militar. 
       Assim de passaram 50 anos daquele casamento alegre, com muito bom humor dos amigos e dos noivos. É preciso boa dose de amor e de tolerância para se passar 50 anos juntos. Nada é fácil, não houve céu de brigadeiro o tempo todo, algumas turbulências e até rotas de colisão. 
 Em 50 anos construímos juntos um belo patrimônio: 3 filhos e 3 netos, além de genro e nora.
      Nesses anos de convivência tornei-me admirador dessa professora que aos 40 anos resolveu enfrentar um vestibular de Direito, formou-se e montou um escritório de advocacia. Essa advogada que passou quase dois anos sem folga, sem sábado e domingo, estudou e passou no concurso de Promotor de Justiça. Dessa mulher atarefada que arranja tempo para dedicar-se aos filhos crescidos, a levar os netos às aulas de inglês, de tênis, de natação. Dessa mulher que trabalha com amor e alegria e possui uma felicidade intrínseca e encantadora. Dessa mulher forte que não se deixa pisar. Dessa mulher que gosta de bons livros, de bons filmes, teatro, música, show e da cultura popular e me incentiva em minhas loucas invencionices. Dessa mulher animada que faz o passo atrás de um bloco de frevo nos dias de carnaval. Dessa mulher que gosta de viajar perambulando pelo mundo, Cartagena, Praga, Berlim, Nova York, Paraty, Lisboa. Dessa mulher que nunca deixou de ser professora, ensina aos netos, dá palestras nas Igrejas e nas Festas Literárias do Brasil afora. Dessa mulher que move montanhas defendendo seus direitos, como uma loba defende seus filhotes. Dessa alegre mulher que ama as colegas de colégio e infância e conserva o carinho de suas amigas em encontros e almoços, aproveitando essa bonita e última fase madura da vida.
Dessa menina que um dia encontrei em flor de seus 15 anos num acampamento de Bandeirantes, e eu tenente, cantei pra ela em premonição: “Ôh Galeguinha você é tão bonitinha... engraçadinha... vou me casar com você”. Sou um homem privilegiado, a única pessoa no mundo a conhecer profundamente a gentileza, a bondade, a perseverança, a força dessa mulher. Dessa minha mulher-amante, timoneira do barco de nossas vidas. Vânia  aprendeu a remar com o tombo do navio, com o balanço do mar. Navegar foi preciso. Essa mulher segurou forte o leme nos poucos maremotos. Hoje navegamos apenas em calmaria, enxergando, ao longe, outros mares ou um porto final além do horizonte.
A inexorabilidade do tempo é fatal, qualquer dia desse eu parto para o além do horizonte. Quando eu não estiver mais a seu lado deixarei lembranças e quero que você sempre saiba que foi a razão do meu viver. Lhe amar foi para mim uma religião. E que nos seus beijos eu encontrava o calor que me brindava no amor e na paixão. Nós somos uma história de um amor como não há outro igual que me faz compreender todo o bem e todo o mal. Você  deu luz a minha vida e quando eu não estiver mais aqui, lembre-se de mim com alegria cantando, penando e ainda me amando: “Já não estás mais a meu lado coração...”.

A OPINIÃO DO PERCIVAL

PERCIVAL PUGGINA


2019, UM ANO PRA LÁ DE BOM

Foi, mesmo. Interessante que, pensando em escrever esta crônica, imediatamente me veio a constatação de que não poderia escrever que foi um ano bom para mim, mas teria que escrever, dado que de fato foi, um ano bom para nós. Como de hábito, todos os acontecimentos deste ano foram vividos a dois, Mariza e eu, ou compartilhado, também, por meus filhos e meu neto. Foi, sim, um ano bom para todos nós, com a graça de Deus.
Mariza e eu completamos 50 anos de casados e vivemos nossas bodas de ouro. Não preciso dizer o quanto essa data e esse marco são significativos para uma vida vivida a dois.
Aos 60 anos da revolução cubana, lancei, pela Editora Armada, a longamente sonhada 2ª edição de A tragédia da Utopia, cujo lançamento em Porto Alegre foi de intensa gratificação tal a quantidade de amigos e leitores que compareceram, de modo estoico. às quase cinco horas da sessão de autógrafos. Seguiram-se outras em São Paulo e Brasília.
Logo após as bodas e o lançamento do livro, Mariza e eu fizemos uma viagem de sonhos dirigindo durante três semanas numa região da Itália onde ainda não havíamos estado. Visitamos cidades medievais da Campania, Calábria, Basilicata e Puglia, capturando em fotos, para a memória, sítios históricos e cenários de deslumbrante beleza.
A cidade que, ainda adolescente, adotei como minha, adotou-me como seu filho. Numa iniciativa do vereador Ricardo Gomes, a Câmara de Vereadores aprovou lei concedendo-me o título de Cidadão de Porto Alegre. Foi com justificada alegria que recebi essa distinção. Vivi momentos de forte emoção durante os pronunciamentos dos vários vereadores que se manifestaram evocando momentos da minha vida que foram marcantes para eles, dos quais eu sequer lembrava mais.
No pronunciamento que fiz na sessão solene de recepção do diploma, disse: “O que me imanta a esta cidade são meus familiares, meus amigos, vizinhos, as pessoas que me leem, ouvem, assistem, e que eu encontro onde quer que vá, nos restaurantes, nas missas, nos shoppings, nos supermercados. É muito bom, encontrar conhecidos, amigos e estar nesse abrigo de tantos afetos”.
Também em 2019 recebi a comenda da Ordem do Mérito Cívico no grau Oficial. Ostentei com orgulho a medalha que a significa e que aqueceu ainda mais em meu peito o amor ao Brasil e aos brasileiros. Amor, importante dizer, que muito tenho, mesmo, cuidado de suscitar no cultivo do respeito à nossa história, aos seus grandes vultos e à cultura nacional. Que todos os tenham como referência e exemplo!
Em 2019 o Brasil reencontrou seu caminho, e não sem dificuldades transita por ele. As dificuldades, porém, nos fazem bem como atores dessa mudança. É nelas que se forjam as virtudes e as vontades; é nelas que os adversários ganham vulto, forma e identidade; é nelas que se combate o bom combate.
Sem dúvida, 2019 foi um ano bom. Obrigado, Senhor!

OPINIÃO DO PERCIVAL.


PERCIVAL PUGGINA


2020 E O SENTIDO DA VIDA

Imagine um barqueiro solitário que num fim de tarde se ponha a velejar mar adentro, até perder a terra de vista. Rodeado, então, de águas profundas, o barqueiro deixa-se à deriva e, cansado, adormece. Enquanto dorme, a noite cai, o céu, antes claro, se reveste de pesadas nuvens. Um breu completo envolve a frágil embarcação e seu sonolento ocupante.
Suponhamos, agora, que uma súbita sacolejada desperte o nosso barqueiro no leito negro ao qual se abandonara. E ei-lo ali, sitiado pela água e pela noite. O que dirá nessa situação? Proclamará: “Finalmente sou um homem livre, livre de tudo e de todos!”? Ou, ao contrário, exclamará para si mesmo: “Estou perdido!”?
É muito improvável que, em tais circunstâncias, alguém se considere livre, pois todo aquele que não sabe para onde ir (que não sabe se localizar no espaço), não está livre, mas perdido. Com efeito, só quando o barqueiro vislumbrar algo que lhe sinalize o rumo a seguir terá recuperado sua liberdade. Antes disso não. E note-se que é a própria liberdade de ir para onde deve que cria a possibilidade de andar no rumo oposto.
Pois não é diferente em nossa condição de barqueiros no oceano da vida. Corra os olhos, leitor, pelo seu entorno. Verifique para onde está apontando a quilha de seu barco e se é para lá, realmente, que você deseja ir. Certifique-se de que é um destino pelo qual vale à pena viver. E, principalmente, não hesite em buscar um novo sentido em Deus se descobrir que está, como o nosso barqueiro, perdido numa noite desnecessariamente escura.
Cem por cento das pessoas conscientemente felizes, não muitas, por certo, sabem para onde ir e não confundem liberdade com desorientação. Ao mesmo tempo, a totalidade dos infelizes e dos desgraçados se percebe sem rumo no mar da vida.
Por mais farpados que sejam os fios com que se tecem os dramas que a compõem, nada é mais dramático na condição humana do que a tragédia de uma vida inteira sem sentido. Viver para as circunstâncias e não para a finalidade significa viver para os cenários e não para a história. Significa deixar-se viver. E essa é uma forma patética de se deixar morrer.
Um novo ano e uma nova década iniciam neste 1º de janeiro. Que sejam tempos e anos plenos de sentido e realização, em harmonioso convívio com o Bem.