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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS - JBF



QUEM QUER ALHO?

Notícia nos jornais de hoje: governo prorroga por cinco anos tarifa de importação ao alho da China. Em outras palavras: graças à China, os consumidores brasileiros podiam comprar alho mais barato (veja até onde vai a maldade dos chineses), mas o governo agiu para impedir este absurdo.
O Brasil consome trezentas mil toneladas de alho por ano, mas só produz 45% disso. O resto é importado, mas para comprar o alho chinês o brasileiro vai ter que pagar mais três reais por quilo para o governo brasileiro.
Segundo o presidente da Associação Catarinense dos Produtores de Alho, “o ministro não pode abrir mão da tarifa que põe cerca de R$ 300 milhões nos cofres públicos por ano e de toda a renda gerada pela cadeia do alho, para criar mais empregos na China e tornar bilionários meia dúzia de importadores no Brasil”. Ainda segundo a Associação, cerca de cinco mil pessoas trabalham na produção nacional de alho, que ocupa onze mil hectares.
Este tipo de notícia não é novidade. A toda hora aparecem reportagens elogiando o governo pela “boa ação” de obrigar os brasileiros a pagar mais caro pelas coisas; o pior é que os brasileiros acreditam e ficam felizes. Pensar um pouco, isso ninguém faz.
Se pensassem, o tal presidente não teria a coragem de defender que os brasileiros paguem trezentos milhões por ano para “salvar o emprego” de cinco mil agricultores incompetentes. Isso dá sessenta mil reais para cada um. Sairia mais barato pedir que todos se aposentassem e passassem a viver às custas das donas-de-casa que querem temperar o arroz e a salada.
Também não teria a cara-de-pau de elogiar a “renda gerada pela cadeia do alho” ao mesmo tempo que admite que se venderem seu produto pelo preço de mercado, os produtores brasileiros terão prejuízo.
Sem contar a tradicional inveja: os importadores estão ficando “bilionários”. Se for verdade, é mais uma boa oportunidade: os plantadores de alho podem se juntar em empresas importadoras e ficar bilionários também. Afinal, eles devem conhecer o mercado melhor do que ninguém.
Mas não adianta: este é um país que proíbe postos de combustível self-service e onde ônibus não podem andar sem cobrador. É um país que tem na constituição um artigo estabelecendo “proteção do trabalhador face à automação”. Se a constituição fosse levada à sério, deveriam ser proibidos os computadores, para preservar o emprego dos datilógrafos, e talvez proibir as lâmpadas elétricas, para preservar o emprego dos fabricantes de lampiões.
É a receita perfeita para um país sub-desenvolvido permanecer assim.

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