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terça-feira, 24 de setembro de 2019

MARCELO ALCOFORADO - A PROPÓSITO - Jornal da Besta Fubana



FALA, MEMÓRIA

Enfim, aconteceu o tão aguardado discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU. Segundo os relatos, há de estar robustecido o bloco dos que têm o presidente na conta de um arruaceiro ignorante, circunstancialmente eleito presidente da República, de quem são acerbamente criticados os modos rudes, as palavras cortantes, o vezo de dizer, sem autocensurar-se, tudo que lhe vem à mente.
Embora de biótipos diversos, é difícil não se comparar Jair Bolsonaro e Nikita Kruschev, ao menos no quesito polidez. Quer um exemplo?
O dia 13 de outubro de 1960 era, como hoje, o de abertura da assembleia da ONU. Lá fora os manifestantes, lá dentro os representantes dos principais países do mundo.
Nikita Kruschev, representando a poderosa União Soviética, criticava a influência ocidental na África, especialmente Inglaterra, França, Espanha, Portugal e Itália, que mantinham os países africanos sob sufocante regime colonialista.
Pouco tempo depois, chegada a sua vez no parlatório, Lorenzo Sumulong, chefe da delegação filipina, rebateu a crítica de Khruschev, dizendo que era a União Soviética, na verdade, quem tirava a liberdade e o exercício da democracia da população dos países do Leste Europeu.
O premiê russo, que se irritava a cada palavra do filipino, no mesmo momento levantou-se transtornado e, gesticulando e mexendo os braços na direção de Lorenzo Sumulong, tomou-lhe o microfone e começou a chamar o filipino de idiota, palhaço e lacaio, acusando-o de subserviência ao imperialismo americano.
O filipino continuou seu discurso, enquanto um irritado Khruschev, vez ou outra, esmurrava a mesa.
O ápice, porém, ocorreu quando ele tirou um dos seus sapatos e exigindo atenção, com ele bateu vigorosamente na mesa, chamando a atenção dos presentes.
O ato foi noticiado em todo o planeta e não se viu por aqui nenhuma manifestação de censura.
E se Jair Bolsonaro fizesse o mesmo?
Nikita Kruschev batendo o sapato na bancada durante assembléia da ONU

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