A Rainha
Djanira.
Djanira era uma moça bonita, 18 anos, por onde passava
chamava a atenção dos homens, estudava num colégio do Estado e morava perto da
Praça Rayol. Seu primo Luiz, todo domingo, pegava o bonde no Centro para
visitar os tios, desfrutar da bela praia da Avenida da Paz, comer a feijoada
domingueira e conversar com sua paixão, a prima Djanira. Sua timidez nunca o
deixou declarar aquele amor, porém todos sabiam daquela paixão escancarada. Ao
chegar à casa dos tios cumprimentava-os formalmente, entregava um mimo,
chocolate, bonequinha, à Djanira que displicentemente colocava o agrado em seu
quarto, muitas vezes no lixo, sem que ele visse. Djanira nunca acompanhava o primo à praia,
preferia seu grupo de amigos entre os quais havia Bernardo, tenente da
Aeronáutica que servia na Base Aérea do Recife, mas passava fins de semana e
férias de verão em sua amada cidade, Maceió.
Certa noite Bernardo e Djanira iniciaram um namoro. Os
dois se apaixonaram. No cinema, na praia, nos clubes, era um agarrado
escandaloso para época. Bernardo tinha uma moto, a namorada amava abraçá-lo na
garupa e disparar em velocidade. Djanira ficou mal falada, ainda não havia
acontecido a revolução sexual no mundo, as moças tinham de guardar a virgindade
para o casamento. Numa bela tarde, Bernardo levou a namorada para as bandas da
Jatiúca, praia deserta, foram tantos os abraços e beijos, que naquela tarde
acabou-se a virgindade de Djanira. Terminada as férias Bernardo viajou
transferido para a Base Aérea de Manaus. A troca de cartas quase diária foi
esfriando, até que depois de seis a sete meses, Djanira recebeu uma carta em
que Bernardo a liberava do namoro, não queria mentir, ele estava com uma
namorada em Manaus. Djanira chorou muito para esquecer Bernardo.
Quando Luiz soube do término do namoro, tomou coragem, depois
de algumas talagadas de cachaça na casa do tio declarou-se à prima prometendo
ser um marido exemplar, tinha sido efetivado na Assembleia Legislativa e um
futuro promissor como assessor do deputado. Djanira pediu que ele parasse, gostava
muito do primo, porém, jamais daria certo. Ele se resignou.
O tempo passou até que um dia Djanira veio com a novidade
estava namorando um fazendeiro de Anadia. Paulo trabalhava com o pai na fazenda,
gostava da boemia de Maceió, chegado às mulheres, apaixonou-se pela beleza e sensualidade
de Djanira. Ele bem que tentou avançar com as mãos no corpo da namorada, mas
ela falava a seu ouvido, “só depois de casar”. Os pais da moça não gostavam do
namorado da filha, quase sempre embriagado. Com seis meses de namoro eles
noivaram. Djanira não morria de amores, mas queria casar. O grande problema da virgindade perdida, ela
resolveu perto do casamento em uma viagem ao Recife com um cirurgião plástico.
O médico deixou alguns pontos, quando houve a penetração sangrou o lençol branco
e limpo do Hotel Califórnia. Foram morar numa pequena casa no bairro do Farol,
Djanira não gostou da vida de casada. Quase toda noite Paulão chegava
embriagado. Certa noite durante uma discussão, o marido deu-lhe um murro; as
surras ficaram frequentes. Djanira calava-se, estava infeliz.
Perto do natal ela teve uma surpresa, avistou Bernardo
descendo á praia, foi um abraço forte. A partir daquele encontro, toda tarde,
de moto e capacete, dirigiam-se a um motel. Tardes inesquecíveis de amor.
Acontece que Luiz, o primo apaixonado, descobriu a
traição de Djanira, enviou uma carta anônima batida à máquina. Ao ler a carta Paulão
ficou louco queria matá-la, porém teve que se controlar, preferiu pegar a
mulher em flagrante. Fim de tarde quando a moto saía do motel, Paulão avançou
com um revólver na mão. Bernardo parou a moto, assustado, Djanira desceu.
Bernardo aproveitou o momento disparou com a moto. Paulão mandou Djanira entrar
no carro. Durante o percurso ele olhava a esposa chorando e cuspia em sua cara.
Em casa só repetia uma palavra, puta, puta. Deu-lhe fortes tapas, amarrou-a com
uma corda, retornaram ao carro. Djanira chorando só pensava na morte. Ao chegar
no bairro boêmio de Jaraguá, Paulão parou o carro embaixo de uma boate, chamou Ana,
a proprietária, sua conhecida, entregou-lhe a mulher amarrada.
- Trouxe mais uma para seu puteiro. Ligou o carro partiu em disparada para sua fazenda.
Foi assim que Djanira tornou-se a prostituta mais bonita
e mais procurada na Zona de Jaraguá. Anos depois ela abriu uma casa de mulheres
em Boa Viagem, a mais famosa do Recife. Os fregueses chamavam a cafetina de
Rainha Djanira.
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