UCPM
O autor e a Nêga Odete, ela morreu aos 82 anos em 2014.
Maceió vivia uma época áurea, anos 50, tempos
de Arnon de Mello governador, boa qualidade de vida, a cidade parecia uma só
família. Ainda não acontecera a invasão
dos trabalhadores rurais procurando melhoria de vida, inchando a urbe, ocupando
áreas à beira do Rio Salgadinho, o maior desastre urbano - ambiental da cidade.
Devido à falta de política agrária, nos anos 60 aconteceu esse perverso êxodo dos
camponeses à capital, não conseguiram emprego, nem tiveram uma merecida reforma
agrária no campo.
D.Leda Collor, primeira
dama, revolucionava a cultura, o que havia de melhor de teatro no Brasil vinha
à Maceió, Teatro Deodoro cheio. A Aliance Francaise um sucesso, Juventude
Musical, projetos culturais enchiam os olhos e ouvidos dos alagoanos.
Nós
adolescentes formávamos grupos, turmas (hoje galeras), unidos e adversários nas
brincadeiras, jogos, festas de rua, folguedos populares. No pastoril torcíamos
veementemente emocionados, Azul x Encarnado,
no campo de futebol, CRB x CSA.
Várias turmas
de jovens tomavam conta das áreas de lazer, turma da Praia da Avenida, da Praça
Deodoro, da Praça Sinimbu, da Pajuçara, da Praça Rayol, do Farol, entre
outras.
Maior
rivalidade entre time de futebol e voleibol de cada turma, ou namoradas. Os jovens convergiam, misturavam-se nas
praias da Avenida ou Pajuçara; nos
clubes, Fênix, Iate, Portuguesa ou CRB; nos colégios, Diocesano, Liceu, Guido e
Batista. Resultava intercâmbio de amizade, todos se conheciam na província de
Maceió nos meados dos anos 50.
Eu morava na Avenida da Paz, junto ao
bairro boêmio de Jaraguá, entretanto, rodava toda Maceió de bicicleta. Certa
vez namorava uma bela morena na Pitanguinha (onde nasceu Djavan), quase toda
noite, depois do jantar, eu subia a ladeira do Farol pedalando e empurrando a
bicicleta. A namorada tinha uma irmã, gêmea. Numa noite, a namorada adoeceu,
sua irmã resolveu fazer uma brincadeira, tomou seu lugar. Andei pelas ruas da
Pitanguinha sem perceber, sem saber que dava cheiro, amasso, na irmã da
namorada. Na despedida, depois de um beijo, ela confessou ser a irmã, pediu
segredo, guardei até hoje.
Numa noite, passando
pela Praça do Centenário, encontrei Humberto, um dos amigos que guardo no peito.
Depois de conversa informal e amena sobre mulheres, futebol e festas,
convidou-me para reunião de uma associação inusitada que a turma do Farol havia
fundada com imaginação e bom humor.
Assisti à
reunião e me tornei sócio da UCPM- União dos Conquistadores de Peniqueira de
Maceió, com sede na casa do presidente, meu primo.
Tinha regulamentação.
O sócio ganhava patente ao contar aventuras, conquistas, com empregadas
domésticas, chamávamos maldosamente de peniqueira, naquele tempo havia penico.
Conforme a emoção da aventura ganhava promoção aos postos, havia hierarquia da
UCPM.
Quase sempre se
ouvia alguma aventura com a Nêga Odete, bonita negra, uma rainha africana, a
rainha de Sabá, a própria Nêga Fulô do poeta Jorge de Lima. Lábios carnudos,
bunda rebitada, riso debochado. Empregada doméstica na casa dos Montenegro na
Praça Sinimbu, saía à noite em busca de aventuras, dedicava-se literalmente ao
que mais gostava, o que mais sabia fazer, amor. Não era prostituta como algumas
madames diziam, não recebia dinheiro em troca do carinho, principalmente se o
parceiro fosse jovem e bonito. Ao
anoitecer desfilava sua silhueta divina, calipígia de ébano dos sonhos eróticos
da nossa juventude, uma rainha. Metade de minha geração da Avenida da Paz teve iniciação sexual nas areias mornas da
Praia da Avenida da Paz, nos braços, na sabedoria da negra bonita.
Cheguei a tenente
na UCPM, sem merecimento. Entretanto, alguns amigos galgaram ao posto máximo, houve apenas dois generais na hierarquia da UCPM.
Por coincidência, os dois hoje moram em Brasília. Um deles, político dos mais
influentes e queridos do nosso Brasil, o outro chegou a ministro de um egrégio
Tribunal.
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