O líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, identificado como LILS, rodava o país em campanha. O ano era 1989 – mais de duas décadas antes da Lava Jato e da criação da empresa de palestras do ex-presidente que está sob investigação. O informe 010894 do Serviço Nacional de Informações, o SNI, detalha a viagem de Lula em outubro daquele ano pela Bahia. Ele sobe ao palanque para discursar e condena a obra da Barragem Pedra do Cavalo, no Estado: “Não serve para nada e foi construída para que as empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa mamassem US$ 650 milhões”, disse Lula. Na obra de Pedra do Cavalo, a Odebrecht foi acusada de apresentar proposta exatamente igual àquela fornecida no edital do governo e de ser a “favorita” do então governador baiano, Roberto Santos, do PMDB.
Documentos inéditos, guardados no Arquivo Nacional em Brasília e obtidos por ÉPOCA, revelam o modus operandi da maior empreiteira brasileira, que desde a década de 1980 compra apoio de políticos, alicia servidores públicos, presta favores e oferece benesses em troca de contratos públicos. Os registros do SNI – que não tinha função de investigar ou instaurar processos criminais, apenas de produzir informação e relatórios para subsidiar o Palácio do Planalto – dificultam tentativas de negociação de um acordo de leniência que atribua os procedimentos revelados pela Lava Jato a apenas uma diretoria da empresa. É uma regra geral da empreiteira, como mostram os papéis.
Ao mesmo tempo que criticava as empreiteiras que hoje lhe são tão caras, Lula era apontado por outro presidenciável como o “candidato” das construtoras. As empresas da Lava Jato estão nesta contradição há décadas. As secretárias da Odebrecht Conceição Andrade e Maria Lúcia Tavares, esta última presa na 26ª fase da operação, fizeram declarações que corroboram a tese de que a propina era o modo básico de fazer negócios da empreiteira. Maria Lúcia, em sua colaboração premiada, detalhou o esquema de pagamento a políticos. Era ela a responsável por organizar a planilha com codinomes e o controle dos pagamentos paralelos e suprapartidários da Odebrecht, que tinha um departamento específico para o trabalho. O quebra-cabeça vinha sendo montado sem a ajuda da cúpula da empresa, que decidiu recentemente colaborar com as investigações.
O informe 19/1984 da Agência Goiânia do SNI revela que repasses da Odebrecht ajudaram o pré-candidato à prefeitura de Goiânia Iris Rezende (PMDB) a comprar uma fazenda no valor de 700 milhões de cruzeiros em Mato Grosso. Segundo o registro, Iris recebeu 500 milhões da empreiteira e usou 400 milhões na compra do imóvel. Iris Rezende é um dos políticos mais ricos do país. Em sua última disputa, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), R$ 30,9 milhões. Entre os bens: as fazendas Estrela, adquirida em 1982, e Mutirama.
( Leiam matéria completa na revista ÉPOCA)
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