UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

CADEIRAS VAZIAS

RONALD MENDONÇA
MÉDICO. MEMBRO DA AAL

Com o atentado a Carlos Lacerda, em 1954, o País mudou. Com efeito, pipocaram montanhas de acusações contra o presidente Getúlio Vargas. Mas, o que mais impressionou o velho caudilho foram as denúncias de transgressões do seu filho. Repatriado às pressas da Europa, num tête à tête com o pai, admitiu como verdadeiras as denúncias envolvendo o seu nome. 
O “Velho” desmoronaria. Acostumado à refrega da política, não seriam discursos cáusticos que o levariam ao desespero. Relembro Vargas, ao ler as tentativas de Lula para o filho não ser investigado. Não é de hoje que se vem falando sobre o fabuloso enriquecimento deste rapaz, prosaico cuidador de elefantes. Abro parêntese para confessar a minha admiração pelos cuidadores de animais selvagens. Acho uma coragem quase suicida o sujeito entrar numa jaula de elefantes.
Está, portanto, registrado que nada tenho contra a categoria dos sanitaristas de zoológico que, pessimamente remunerados, dedicam suas vidas a preservar essas indóceis galeras, muitas delas ameaçadas de extinção. Muito menos contra as categorias de porteiros de edifícios, entregadores de carta, ascensoristas, vendedores de coco, economistas, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, dentistas, massageadores, advogados, cabelereiros, costureiros, rábulas, aviadores, comissários de bordo, jornalistas, engenheiros, arquitetos, professores, torneiros mecânicos, entregadores de pizza e outras.
Como queria dizer, o filho de Lula jamais teria condições de, nessa ou nas próximas encarnações, amealhar a fortuna (que dizem que tem) se não tivesse o papai Lula dado uma força. Fica claro, portanto, o que diferencia Lula de Getúlio: a moral.
Mas não era exatamente disso que queria falar. Nossa querida Dilma chegou ao fundo do poço. Oitenta por cento dos brasileiros a reprovam. O povo a detesta. A repugnância termina sobrando para os seus ministros, muitos deles honrados. Hoje, saudados por vaias, nenhum ministro ousa comparecer a cerimônias públicas ou privadas, a não ser congresso da CUT.
A propósito, recentemente, o único alagoano do ministério da Dilma foi convidado a abrir nosso Congresso de Neurocirurgia, aqui em Maceió. Ele seria recebido com carinho. Embora tenha nos advertido que lamentava não comparecer, nosso presidente, Dr. Aldo Calaça, discretamente, manteve sua cadeira na Mesa Diretora.