O VELHO E O MAR e OUTRAS
MENTIRAS
Seu Rodolfo, em
torno dos 50 anos, pele encardida, parecia mais velho, a vista anuviada pela
constante exposição ao Sol. Amava o mar, alegrava-lhe seu trabalho, cada peixe puxado
uma vitória da arte da pesca. Retornava por volta das três da tarde, tratava o
peixe com peixeira no Bar da Tartaruga, colocava os samburás no ombro, caminhava
gritando na Avenida da Paz, "peixe fresco", "olha o camorim",
"carapeba". Seu Rodolfo tinha boa freguesia, inclusive minha mãe. Era
amigo da família.
Naquela manhã
a sorte estava a seu lado, ainda não era meio dia os caixotes da jangada
estavam lotados, xaréu, arabaiana, bijupirá, carapeba, garassuma, pescados por
linhas jogadas ao mar e tarrafas. De repente ele sentiu um puxão em uma linha, alegrou-se,
pensou, peixe grande. Deu mais linha para cansar o peixe, logo depois puxava,
era preciso paciência, astúcia para brigar contra o enorme peixe, sentia pelo
puxão, duas horas depois continuava a briga do peixe grande com o velho
Rodolfo. O cansaço chegou em ambos os lados, Seu Rodolfo estava atrasado em sua
tarefa diária na cidade, entretanto, nada lhe abalava, preferia a luta com o
peixe grande. Com imensa força, depois de muito tempo, puxou o peixão para cima
da jangada, ainda se batendo. Rodolfo ficou contemplando embevecido a maravilha
pescada, valente peixe, calculou 30 kg. Antes de cortá-lo, mostraria aos amigos
na beira do cais.
Amarrou o peixe grande na jangada,
desfraldou novamente a vela em direção à praia. Não havia meia hora de
navegação quando sentiu uma pequena onda levantar a jangada, percebeu, alguma
coisa estranha estava acontecendo, novas ondas, o mar ficou revolto em torno da
jangada. Seu Rodolfo pensou, deve ser baleia, aparece a qualquer momento, sem
medo comandava a jangada quando inesperadamente emergiu perto um navio
parecendo um enorme charuto. Seu Rodolfo ficou na espreita, o navio-charuto
depois de subir fora d'água, parou, não se avistava ninguém. De repente uma portinhola
abriu-se por cima, saíram três homens de calção preto, pele rosada,louros como
nunca havia visto. Os homens falavam, ele não entendia. Depois de algum tempo,
comunicando-se por meio de gesto, Seu Rodolfo compreendeu, os galegos queriam
trocar peixe por materiais e comidas. Com lástima, entrou no negócio o peixe
grande, o velho pescador recebeu enorme quantidade de queijo, presunto,
sapatos, botas, cigarros, encheu a jangada. Logo depois o navio-charuto desapareceu
no mar.
Essa
história dá título ao livro, "O Velho e o Mar e Outras Mentiras" que
será lançado terça-feira, dia 3 de novembro, a partir das 19:00 horas na
Galeria CESMAC de Arte Fernando Lopes, Rua Cônego Machado, Farol, onde
encontra-se a belíssima exposição de quadros de Pedro Cabral, autor da
capa.
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