A
GERIATRA POETA
Eu era um
menino quando saí de casa, passei no concurso, ingressei na Escola Preparatória
de Cadetes do Exército em Fortaleza. Maloqueiro da praia da Avenida da Paz foi
difícil a adaptação à vida militar, com o passar do tempo tornei-me um
orgulhoso cadete cheio de esperança por um Brasil melhor, idealista. Sessenta
anos depois daquele inesquecível ingresso, ainda tenho nítida lembrança de
histórias vividas dentro e fora da Escola. Certa vez, embaixo de uma frondosa
árvore, depois do almoço, fazíamos projetos de vida, a maioria pensando um dia
chegar ao generalato, o auge da carreira militar, choquei alguns colegas com
meu sonho, trabalhar até 60 anos, depois, uma rede na varanda, muita praia e
sol de Maceió. Menino já pensava em aposentadoria na praia, pelo menos tinha
bom gosto.
Hoje revejo o sonho do menino, as atribulações da vida
mudaram o destino traçado pelo jovem, aos 75 anos trabalho mais que em qualquer
época de minha vida.
Costumo dizer,
sou ex-Capitão do Exército, ex-prefeito da Barra de S. Miguel, ex-Empresário na
Construção, ex-Militante Ambientalista, ex-presidente da Escola de Samba Unidos
do Poço, só não sou ex marido, há 45 eu e Vânia navegamos no mesmo barco das ilusões,
amor, alegria, tristeza. Agora, pouca coisa importa, já enxergamos a praia
definitiva, ao longe.
O corpo não é o
mesmo, cansaço, dores. Tento melhorar a qualidade da vida idosa ( favor, não me
venham com melhor idade, solto um
palavrão). Caminhada, natação, pilates, me deixam mais disposto. Homem ligado à
cultura, à literatura, devorador de romances, amo a poesia, tenho inveja dos
poetas, sou apenas um escrevinhador, contador de histórias, à procura das
coisas belas da vida, são muitas. Minha alma vai bem, penso no corpo, perambulo
pelos consultórios, a medicina avançou muito, tem respostas às minhas mazelas.
Ontem fui à consulta anual com minha querida geriatra. A competente
doutora me puxou as orelhas, gordinho, examinou-me, pediu exames, conversamos, finalmente
mostrou-me um poema, escreveu simplesmente por vontade, a tal inspiração. Li, identifiquei-me
no poema, me emocionei. Sem a devida permissão da doutora, transcrevo-o aqui e
agora, pode me puxar as orelhas, estou feliz, descobri uma poeta.
Quando eu envelhecer...
Que eu possa ter o rosto cheio de rugas,
Mas os lábios cheios de um sorriso encantador
Quando eu envelhecer...
Que possa ter as mãos frágeis,
Mas os braços fortes pra um abraço acolhedor
Quando eu envelhecer....
Que eu possa ter um cérebro lento,
Mas uma mente tolerante e livre de preconceitos
Quando eu envelhecer...
Que eu possa ter um coração que bata devagar
Mas que esteja repleto de amor pela vida e pelos companheiros de caminhada
Quando eu envelhecer....
Que eu possa ter os joelhos rígidos e as pernas trêmulas
Mas que sinta sempre o prazer de uma dança
Quando eu envelhecer....
Que possa viver, amar, compartilhar ...
E que no fim eu tenha uma certeza:
Valeu a pena!!!
(Ronny Roselly, junho 2015)
Que eu possa ter o rosto cheio de rugas,
Mas os lábios cheios de um sorriso encantador
Quando eu envelhecer...
Que possa ter as mãos frágeis,
Mas os braços fortes pra um abraço acolhedor
Quando eu envelhecer....
Que eu possa ter um cérebro lento,
Mas uma mente tolerante e livre de preconceitos
Quando eu envelhecer...
Que eu possa ter um coração que bata devagar
Mas que esteja repleto de amor pela vida e pelos companheiros de caminhada
Quando eu envelhecer....
Que eu possa ter os joelhos rígidos e as pernas trêmulas
Mas que sinta sempre o prazer de uma dança
Quando eu envelhecer....
Que possa viver, amar, compartilhar ...
E que no fim eu tenha uma certeza:
Valeu a pena!!!
(Ronny Roselly, junho 2015)
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