BABILÔNIA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Meus amigos e os poucos leitores
já me advertiram: não aguentamos mais que você fale em hospital psiquiátrico.
Tenha dó, seu Ronald, já está enchendo. Você se transformou num escritor
monotemático. Só falta falar em imprensa hegemônica e reacionária.
Meus familiares estão me recomendando
temas. A falta d´água de São Paulo. Os refugiados africanos, a aproximação de
Tio Sam com Vô Fidel, o pibinho brasileiro... Até os roubos que o PT comandou
na Petrobrás... Pelo amor de Deus, Ronald, tudo menos Zé Lopes, hospital
psiquiátrico e luta manicomial.
A carne é fraca e o espírito
vacilante. Nesta quinta, participei de uma audiência pública na Câmara dos
Vereadores de Maceió. Não deveria ter ido. Não tenho mais idade para ouvir de
uma autodenominada auditora que “fecha” o hospital no dia em que ela encontrar
um aparelho de eletrochoque. Santo Deus! Quanta arrogância! Quanta ignorância!
A dirigente da Saúde Mental do
município (uma assistente social despreparada, que nada entende de psiquiatria)
é uma catástrofe quando resolve abrir a boca. Melhor seria o mutismo acinético.
Seria estratégico. Ninguém ficaria sabendo do tamanho do seu dessaber. Lá pras
tantas, resolve dizer que o HGE já está recebendo portadores de distúrbios
mentais... São dois leitos, segundo a dirigente.
Vi-me quinze anos atrás, na mesma
câmara municipal, quando participei de um debate fajuto de cartas marcadas.
Naquela ocasião, uma senhora, creio psicóloga de formação, resolveu chutar que
conhecia um caso de cura de doente mental ocorrida justo num hospital geral do
interior. Com este único caso (N=1), a psicóloga apregoou sua revolucionária
teoria.
Felizmente, não apareceu nenhum
gestor para divulgar que não existe hospital psiquiátrico na Grã Bretanha... Ou
aquela que ensina que doente psiquiátrico é igual a qualquer doente crônico,
como o diabético e o hipertenso... Que na Europa e nos Estados Unidos não
existem hospitais psiquiátricos... Ninguém teve o topete de dizer que os donos
não abrem mão dos lucros...
Pensando bem, valeu a pena ouvir
uma Heloisa Helena. Sem medo de desagradar, HH muito mais sensível, está a
léguas dos leitores do livrinho sobre a Reforma Psiquiátrica. Valeu a pena
testemunhar o parecer de uma jurista do status de uma Micheline Tenório,
enquadrando os que, maldosamente, levaram a Saúde Mental em Maceío a esta torre
de babel.
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