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sábado, 2 de maio de 2015

UM TEXTO DE MARCOS DAVI - GAZETA DE ALAGOAS

Os tormentos de Cícero
Por: » Marcos Davi Melo – Médico e membro da AAL e do IHGAL.
Foram os corpos de negros balançando ao vento a macabra inspiração para Billie Holiday interpretar Strange Fruit,uma de suas marcas, e cuja letra, em tradução livre, descrevia os negros enforcados em árvores, espetáculo dantesco visualizado em suas temporadas no sul dos EUA.

Billie, um dos maiores ícones do jazz,estaria completando cem anos em 2015, mas entregou-se ao álcool com heroína e faleceu precocemente aos 46 anos. Se viva fosse,provavelmente interpretaria outras canções protestando contra a persistente tensão racial em seu país.

O que no fundo está por trás das depredações das ruas de Baltimore, tomadas por multidões revoltadas com mais uma morte de outro negro em custódia pela Polícia.A perspectiva de mais um episódio violento policial ser acompanhado por impunidade,associado à restrições materiais,torna as ruas daquela grande cidade da maior democracia ocidental, um campo de batalha.

Em Maceió nos primeiros meses do novo governo,a sensação predominante é que as ruas estão com maior efetividade das ações policiais repressivas e os confrontos com os marginais tem deixado vítimas fatais entre os meliantes, o que por lamentável que possa ser,para uma sociedade descrente da ação da Justiça para reprimir aqueles que cotidianamente ameaçam a sua integridade, torna-se, infelizmente, um alento .A repressão rigorosa, reduz a sensação de impunidade: são esses tempos cruéis.

A liberação de nove dos réus da operação Lava Jato pelo Supremo, causou imensa sensação de frustração naquela significativa parcela da população brasileira, que anseia e labora por um País mais ético e enxerga aí a possibilidade da impunidade vigorar ao final para esses potentados do poder econômico, na velha assertiva de que a Justiça é rigorosa somente para os mais fracos.

Inspirada na operação “Mani Pulite”, Mãos Limpas,executada na Itália na década de 90, que desmontou ampla e poderosa rede criminosa,em sua versão brasileira e na avaliação do STF, constata-se que o Ministério Público precisará utilizar provas muito consistentes para que as possíveis condenações na primeira instância, sejam respaldadas no Supremo.

A possibilidade de impunidade e o “clamor público” decorrente, não sensibilizaram a maioria dos membros do Supremo.São os mesmos paradoxos que atormentavam Cícero cem anos antes de Cristo “ Excesso de direito, excesso de injustiça”?

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