O narcisismo das redes sociais, entre outras coisas
Por: » BENEDITO RAMOS – escritor
Desde o advento da primeira rede social na internet, o comportamento humano passa por sua maior crise de identidade. “Penso, logo existo”. A frase cartesiana mais conhecida é substituída por: “Estou na rede, logo existo”. O que não se faz hoje para pegar essa carona. A selfie, conhecida anteriormente por “papagaio de pirata”, virou moda, com direito até a uma tecnologia própria: “o pau de selfie”. Mas, seguindo a carreira de Johnny Bravo, estão aqueles que se adoram e se curtem. E, certamente se deleitam com as “curtidas” ou mesmo comentários. As mulheres adoram! E algumas que deveriam aparecer a menos do que em plano americano, talvez num 3x4, chamam a atenção do seu vestido. Aí o negócio é sério! Páginas e mais páginas de mentira pura, só elogiando. É claro que o ego de qualquer um vai para cima e outros se encorajam para fazer a mesma coisa. Mas é a exposição pública da vida privada que virou rotina. Mesa farta ou panela vazia é postada com o mesmo status. Uns por exibição e outros por “mangação”. A mesma rede em que se posta uma informação social, uma notícia, uma bela imagem, recebe postagens chulas, asquerosas, inconvenientes e até doentias. Os atores dessa comédia ou tragédia nem sempre avaliam as consequências do que publicam. Assim, vez por outra uma peça jurídica nova surge demonstrando os desdobramentos da lei sobre o tema. As redes sociais hoje são uma excelente fonte de informações aos Departamentos de Recursos Humanos. E ninguém vai garantir que o pesquisador seja ético o suficiente para não olhar os amigos, os amigos dos amigos, a quem está seguindo ou os seguidores. Nada escapa. Qualquer empresa pode escanear a vida do futuro empregado. No meio dessa vitrine da vida alheia há um inatingível Estado de Direito que permite ao cidadão comum fazer uso da Constituição Federal para dizer o que pensa. Não há limites para críticas, réplicas nem tréplicas. Não ficam fora as baixarias e as ofensas pessoais. Muitos empregos já foram perdidos e muitos gabinetes, em muitas esferas, já foram desocupados. Isto, quando não se vai às barras do tribunal. Filósofos é que não faltam nas redes sociais, com reflexões de dar inveja em Sócrates. Sem falar que a língua de Camões foi enterrada.
Enfim, mesmo nos tempos atuais o ser humano ainda é uma jocosa representação de si mesmo, daquilo que pensa ser, mesmo sendo realmente o que é. Sua página pode ser apenas um fake. Quem sabe?
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