A FAMÍLIA QUARESMA
Raimundo Nonato Quaresma,
alto funcionário federal, veio transferido do Maranhão trabalhar na cidade de Maceió. Além da mudança
trouxe a família, a esposa Dona Olga e as filhas moças, Ana Nery, Isabel Cristina e Maria Quitéria, nomes de heroínas brasileiras.
O fato se deu no início da década de 60. Seu Quaresma alugou uma boa
casa nos arredores da praia de Jacarecica. Com pouco tempo, entrosou-se com
homens importantes da cidade, figuras da política, do comércio, da justiça. Autoridades
civis, militares, até eclesiásticas, tornaram-se íntimas de sua residência.
Graças às estripulias da gostosa esposa e filhas, Seu Quaresma, com
pouco tempo de estabelecido, era considerado o maior corno de Maceió.
Sua casa uma festa constante. Chegavam carros bonitos dos ricos e
abastados, também jovens amigos das belas meninas, altamente comunicativas.
Não eram devassas como pode parecer. Acontece que, Dona Olga e diletas
filhas tinham comportamento avançado,
sem preconceitos, para época. Enquanto as pudicas meninas da sociedade alagoana
namoravam de mãos dadas, as filhas do Quaresma eram dadas às peculiaridades
mais avançadas.
Elas inventaram a moda do “ficar”. Não havia namorado fixo, o primeiro a
chegar tinha direito de arrastar, namoro de alta rotatividade.
Quem tinha carro levava vantagem. Contudo, sobrava para os mais jovens,
os universitários eram bem vindos. Maria Quitéria adorava militar, eu, cadete
da AMAN na época, me dei bem.
No Clube Fênix, o mais
aristocrático da cidade, havia o elegante Baile de Máscaras, um mês antes do
carnaval. Convidados só entravam no baile fantasiados ou de smoking. Os foliões
geralmente tiravam as máscaras depois da meia-noite ou do concurso de fantasia.
Festa animada, bonita e tradicional.
Como era em benefício ao Lar de Menores, não se podia controlar a venda
de ingresso restrita a sócios. A seleção dos convidados era feita pelo preço
salgado da mesa.
Em certo baile, após a retirada
das máscaras, baile animadíssimo, aparece a surpresa, Seu Quaresma fantasiado
de Marajá, a esposa e filhas de Odalisca dançando e cantando animados em uma
mesa.
À medida que alguns sócios
frequentadores do Clube Fênix, também frequentadores da casa do Quaresma,
perceberam a animação das odaliscas, ficaram preocupados. Muitos casados,
noivos, outros com a namoradas, evitaram o encontro casual. O carnaval pegando
fogo, as odaliscas davam adeusinhos discretos, alguns senhores passavam ao
longe da mesa árabe.
Certo momento, um diretor, solteiro, foi cumprimentar Seu Quaresma. Ele
levantou-se, conversaram um bom tempo no canto da parede.
Ao retornar Seu Quaresma confabulou com a família. Foram se retirando do
Clube Fênix, sem problemas, com direito a indenização da mesa, dos gastos com fantasias,
bebidas e outros compensatórios, dinheiro pago na hora por um magnata do
comércio, preocupado, medo da esposa, uma víbora gorda.
Aliviados, os magnatas dançaram despreocupados o resto da noite com suas
madames.
Aos sábados havia almoço festivo no sobrado do Seu Quaresma. Certa vez,
Ulisses foi levado por um deputado, o almoço, um temperado cosido. Dona Olga
adorou a conversa divertida de Ulisses, engraçou-se do novo amigo, eufórico,
também correspondia. Comeram e beberam à vontade.
Após se refestelarem com o cosido, estômago pesado, saboreando licor de jenipapo,
Dona Olga convidou Ulisses descansar, dormir um pouco, depois continuava a
festa. Ele aceitou, foi levado ao quarto do casal.
Dona Olga trancou-os à chave.
Ela o abraçou, iniciaram o trabalho predileto da dona da casa. Ulisses
encantado, com receio, perguntou se não havia problema, o marido dormindo na
cadeira de balanço da sala, podia acordar. Ela deu-lhe uma lambida no pescoço,
não haveria problema algum. Recomeçaram o xumbrêgo.
Quando estavam atravancados, de repente, Seu Quaresma bateu à porta
gritando.
-“Vocês vão morrer! Vocês Vão morrer!”
Ulisses apavorado, levantou-se
rápido, tudo murchou. Vestiu rapidamente a calça, pensava fugir pela janela,
quando Seu Quaresma continuou.
-“Vocês vão morrer. Vocês são doidos! Depois do cosido dá congestão! Vocês vão morrer. Cuidado!”
Ulisses se acalmou, deu-lhe um ataque
de riso, continuou a faina, a luta, a labuta com a mestra, Dona Olga..
Não se faz mais corno como antigamente!
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