Na década de 1960, John F. Kennedy chamou os melhores e mais brilhantes acadêmicos e empresários para compor seu governo. Apesar disso, ou mesmo por causa disso, muitos erros foram cometidos, sobretudo na política externa dos EUA. No primeiro governo de Barack Obama, a escolha de um Prêmio Nobel de Física, Steven Chu, para ocupar a pasta da Energia ainda representa uma tentativa de se associar à competência e ao brilho intelectual. Mas a verdade é que a pretensão de Kennedy parece ter sido enterrada pelo curso da política e suas duras realidades.
O Ministério de Dilma Rousseff é uma espécie de fim da picada no caminho aberto por Kennedy. Ao começar, Lula chegou a ter alguns notáveis, como Márcio Thomaz Bastos, na Justiça. Desde a redemocratização, entretanto, não se escolhia um Ministério tão opaco e alheio aos temas que terá de enfrentar.
Novo governo, novas ideias. Esse era o slogan de Dilma. Foi para isso que as pessoas brigaram nas ruas e nas redes, bloqueando amigos, estigmatizando elites e malhando reacionários de todos os matizes?
No ano anterior à Olimpíada, Dilma entrega o Esporte à Igreja Universal. Já entregara a Pesca ao senador Marcelo Crivella, que, ao assumir, declarou que não sabia nem como se combinavam isca e anzol. Agora, tudo indica que o novo ministro dos Esportes é daqueles que num jogo de futebol perguntam: quem é a bola?
Na Ciência e Tecnologia, Dilma optou pelo PCdoB. Aldo Rebelo é o nome. Ele é contra inovações científicas que ameacem o emprego e chegou a apresentar um projeto proibindo-as. Emocionalmente, é uma posição compreensível. Mas equivale à dos trabalhadores que destruíam máquinas no princípio da Revolução Industrial. O movimento, no início da primeira década do século 19, chamava-se ludismo por causa do nome de um dos seus líderes, Ned Ludd.
Ter uma posição de defesa do emprego, mesmo contra o avanço da produtividade, é uma escolha de que discordo, respeitando-a. Mas nesta altura da revolução digital, nomear para Ciência, Tecnologia e Inovação um quadro que, de certa forma, se opõe a esse processo irreversível, parece-me um absurdo.
O ritmo de inovação é vertiginoso na tecnologia da comunicação. Para acompanhá-lo Dilma escolheu Berzoini, fixando-se no único aspecto que parece interessar-lhe: como dominar ou, ao menos, neutralizar as grandes empresas do ramo.
Os meninos que hoje nos acusam de reacionários talvez não conheçam bem o mundo político brasileiro. Quem é Jader Barbalho?
Por que chamavam Eliseu Padilha de Eliseu Quadrilha, no Congresso?
Nada disso talvez possa interessar-lhes. O bem triunfou sobre o mal e o Brasil segue sua trajetória vitoriosa rumo ao futuro, liderado pelo coração valente de Dilma Rousseff.
Kennedy buscava seus quadros na academia e na indústria. Dilma procura-os nas brechas do Código Penal. Vai ser preso logo? Aguenta pelo menos seis meses no cargo?
Tudo bem. Vocês são o progresso e se preparam para realizar um governo novo, com novas ideias. No intervalo, jogam umas pedras na oposição, desqualificam os argumentos adversários.
Barbalhos e Padilhas, o esporte entregue a Deus e as inovações ao PCdoB, o governo e seus aliados parecem ter conseguido o impossível: uma realidade paralela, um Brasil do João Santana e desses caras que usam a imagem de Che Guevara como perfil, insultam à vontade e quando são apertados contra a parede alegam: mas o FHC também fazia.
Sem norte moral próprio, alguns usam o ex-presidente como referência. Se Fernando Henrique Cardoso insultasse velhinhos num asilo, eles também o fariam sem nenhum temor: isso pode.
Dilma conseguiu construir o pior governo possível para enfrentar a mais grave situação do País. Envolta no escândalo da Petrobrás, ela diz: alguns funcionários foram colhidos pelo combate à corrupção. Nada mais acidental do que isso. Houve um surto de gripe e alguns funcionários acabaram contraindo a doença.
A corrupção na Petrobrás era um dado sistêmico e fazem tudo para esconder o saque bilionário. Prometem um governo com novas ideias e propõem o bispo Macedo como patrono dos nossos esportes, além de uma posição quase ludista para o Ministério da Ciência. Extrapolaram. Não deixam a mínima esperança de que pelo menos tenham a intenção de fazer algo novo.
Certas experiências históricas podem acabar na cadeia. Algumas pessoas choram comovidas diante do relatório da Comissão da Verdade. Tempos terríveis, é compreensível.
No futuro, entretanto, podem lamentar, envergonhadas, quando surgir a verdade sobre seu próprio período de governo. E essa verdade vai aparecer em todo o seu esplendor. Companheiros que agitam suas bandeiras vermelhas hoje podem, numa escala menor, ficar tão constrangidos como os que, no passado, marcharam com Deus pela família e propriedade .
Muitos assistem a tudo isso com o dedo médio apontado para a tela. Um dedo duro pode ser visto de várias formas. Mas eles sabem o que estou dizendo. Que tal irem comemorar na casa do Barbalho?
Com a formação de seu novo governo Dilma está sendo cruel até com quem não votou nela. Diria: principalmente com quem não votou nela. Temiam um circo de horrores? Vejam isto, para começo de conversa.
Corre na política uma lenda de que basta ter um bom ministro da economia: o resto não conta. Ela foi adotada por Dilma. Parece um materialismo vulgar. Mas é pior do que isso. É uma perigosa fuga da realidade. Como se educação, energia, ciência, comunicações, esportes e até pesca em nada tivessem relação com a própria economia. E como se não fosse também uma realidade o sentimento de desencanto que nos comunica a única certeza da Dilma: ninguém do primeiro escalão será preso nos próximos meses. Temos um Gabinete de ministros. Todos em liberdade.
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