MINHAS INESQUECÍVEIS ELEIÇÕES
Há exatamente 60 anos participei
ativamente na minha primeira campanha eleitoral, tinha apenas 10 anos. Minha casa na Avenida da Paz era uma espécie
de Quartel General da oposição, os oposicionista tinham medo das loucuras do
governador Silvestre Péricles, homem honesto, entretanto, arbitrário e
violento, não admitia seu candidato Campos Teixeira perder a eleição para o
ainda obscuro jornalista Arnon de Mello. Muitos oposicionistas foram vítimas de
violência, surras, incêndios e outras de somenos importância, realizaram várias
reuniões, onde se sentiam seguros, na casa do então coronel do Exército Mário
Lima, meu pai.
Eu
ficava excitadíssimos à noite ao chegarem os homens de terno branco, apenas uma
mulher, elegante, bem falante, opiniões ouvidas por todos ( coisa rara no
Nordeste na época), ela batia à máquina os ofícios, informações aos jornais,
aprovados na reunião, era Dona Leda Collor de Mello, esposa de Arnon. Entre os
oposicionistas, de terno branco, se destacavam, Oséas Cardoso, Carlos e Mário
Gomes, Rui Palmeira, Freitas Cavalcanti.
Silvestre Péricles segurou o máximo
possível com seu irmão General Góes Monteiro, a garantia de tropas federais na
eleição em Alagoas. Com muita pressão política a ordem de deslocamento do 20º
BC chegou às 2 horas da manhã do dia 3 de outubro, dia da eleição. A tropa
estava de prontidão, o coronel Mário Lima agilizou com os caminhões do Exército
e requisitou todo caminhão, camionete e carros que passassem em frente ao quartel
garantindo a presença da tropa do
Exército no interior do Estado, acabando as tentativas de fraudes. O Exército
Brasileiro mais uma vez cumpriu sua missão democrática. Foi surpreendente a
votação na oposição, Arnon de Mello eleito governador e Getúlio Vargas,
presidente, político gaúcho, populista, ditador totalitário durante 15 anos (1930-1945)
governou com mão de ferro e uma constituição (a Polaca) tão severa quanto o
AI-5, voltava ao poder pelo voto.
Foi meu batismo, nunca deixei de acompanhar
e participar de eleição no Brasil. Em 1955 Juscelino Kubistchek foi eleito
presidente da República, precisou da intervenção do Exército para tomar posse, o
general Lott deu um contra golpe garantiu a constituição. Cinco anos depois esse mesmo General Henrique
Batista Dufles Teixeira Lott foi candidato contra Jânio Quadros, pela primeira
vez votei para presidente, no General, homem honrado, honesto, nacionalista,
entretanto, perdeu a eleição. Em agosto de 1961 Jânio Quadros renunciou a Presidência
da República (bêbado, segundo testemunhas) provocando o maior caos político no
Brasil, resultou no golpe de 1964 e uma ditadura de 21 anos. Fui testemunha
participativa de todos os acontecimentos. Como tenente do Exército, servindo na
cidade do Recife, apoiei o golpe naquele momento. Vieram em seguida quatro
presidentes generais: Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto
Geisel e Figueiredo. Só em 1985 por eleição indireta um civil, Sarney, assumiu
a presidência. Contudo no ano da glória, 1989, retornou a eleição direta para Presidente
da República. Em pleito disputadíssimo o governador de Alagoas, Fernando Collor
de Mello ganhou do emergente político vindo de bases populares, Lula da
Silva. Em 1994, nova eleição, Lula
perdeu do intelectual sociólogo Fernando Henrique Cardoso, reeleito em 1998
contra novamente Lula da Silva. Em 2002, a esquerda na poder, pela quarta vez
consecutiva candidato, Lula foi eleito. Em 2006 o Brasil tinha mais um
presidente reeleito, Lula. Em 2010 um grupo pressionou para aprovar o terceiro
mandato no Congresso, entretanto, o espírito democrático brasileiro prevaleceu,
não houve a segunda reeleição. Lula apresentou a candidata Dilma Rousseff que
tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil.
Nesse ano sagrado de 2014,
temos uma eleição acirrada no segundo turno. De um lado a presidente Dilma
Rousseff tenta a reeleição, do outro o jovem ex governador de Minas Gerais,
Aécio Neves, tornou-se um forte candidato, as pesquisas dão empate técnico,
ninguém pode prever o resultado, o povo diz sabiamente, ninguém sabe o que pode
sair da cabeça de um juiz ou das urnas. Na verdade depois de mais de três meses
de campanha, com muita marquetagem e menos informações, "alia jacta
est", "a sorte está lançada", como diriam os romanos. Que Deus abençoe o Brasil.
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