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terça-feira, 23 de setembro de 2014

UM TEXTO DE SEBASTIÃO NERY - GAZETA DE ALAGOAS

Sebastião Nery
EUROPA COM MEDO

Paris – Eu passava do outro lado da Avenue des Champs Elysees, lá no alto, bem perto do Arco do Triunfo, quando uma bomba terrorista explodiu ali, no coração de Paris. Um carro preto, de chapa diplomática, saiu às carreiras do local. Alguém anotou a placa.

Imediatamente, a polícia foi atrás da placa. Encontrou. Imaginem onde? Dentro da embaixada do Brasil, na Avenue Albert Premier, diante do Sena, ao lado da Place Alma, no começo da Avenue Montaigne.

Era o carro do nosso adido do exército na França, um brilhante, simpático e bravo coronel. Ele estava entrando no “Drugstore” para comprar publicações internacionais numa grande livraria ali.

Quando a bomba estourou lá dentro, ele fez o que tinha de fazer. Voltou ligeiro para o carro, saiu rápido para a embaixada e comunicou ao embaixador Carlos Alberto Leite Barbosa. O governo francês, em um gesto simpático, não divulgou. Ninguém soube do dono da bomba.

Essa é uma história da década de 90, quando eu era adido cultural aqui em Paris. Trinta anos se passaram e a Europa continua com medo.

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A BOMBA

Esta semana, o presidente francês François Hollande, muito bom para fora e ruim para dentro, reuniu toda Europa, a Comunidade Europeia inteira e mais os Estados Unidos e alguns países árabes, como o Iraque, e aprovaram uma poderosa ação militar coletiva para enfrentar os fanáticos radicais e sanguinários terroristas do novo “Estado Islâmico” o EI.

Já não era sem tempo. Antigamente, os malucos internacionais tinham nome, cara, nações, exércitos. Agora, o mundo se vê acuado por um bando de loucos escondidos em montanhas, enfiados em areias infinitas, com milhões de jovens alucinados matando e morrendo em nome de Alá, para ganharem 70 mil virgens quando chegarem ao céu.

É desse anonimato ensanguentado e cruel que a Europa tem medo, que Paris está com medo, que os países europeus estão com medo. Quem nos garante que outro terrorista alucinado não vai soltar uma bomba no coração de Paris, no metrô, no trem, na Torre Eiffel, no Arco do Triunfo?

O PODER

Mas não é só de bomba que vem o nervoso da França. A economia vai mal, o desenvolvimento está lá embaixo (quase como o rabinho do pibinho da Dilma), os negócios não andam, as greves explodem.

A crise econômica arrasta a política. A oposição, comandada por duas forças poderosas (a direita, do partido do ex-presidente Nicolas Sarkozy e a extrema direita, da ameaçadora presidente do partido Front Nacional, Marine Le Pen), não dá sossego ao governo socialista de François Hollande, que em 2012 eu vi vencer aqui numa votação retumbante, que não se esperava fosse murchar tão rápido.

O sistema é parlamentarista, mas o comando do governo, presidencialista. Toda a carga recai nas costas do presidente. O primeiro-ministro, o jovem catalão Manuel Valls, deu prova de força esta semana, conseguindo que a Assembleia Nacional lhe desse por maioria um crédito de confiança que ele exigiu para continuar à frente do Executivo. Com isso, a imprensa, majoritariamente de oposição, murchou esta semana na fúria da cavalaria que vinha avançando nos últimos dias. Parecia que o governo já estava no chão e ia cair nas mãos da direita.

IMPRENSA

1 – O mais poderoso grupo de imprensa do país (o jornal Le Figaro, a revista L’Express, o Le Figaro Magazine etc., que é rico, forte e arrogante aqui como O Globo é no Brasil) abriu manchetes nas capas: “Pode ele continuar?” (quer dizer, o presidente pode continuar presidente?). Eles mesmos responderam: “Nossa pesquisa: 62% dos franceses querem que ele vá embora para casa”.

2 – A L’Express radicalizou: “Viagem ao fim do inferno. O presidente desacreditado, o homem humilhado, o mandato massacrado”.

3 - A segunda revista mais forte Le Nouvel Observateur é uma Veja mais discreta: “Hollande se explica: eu, cínico e desprezado? É uma mentira que me fere”.

Atrás de tudo isso está o jogo pesado da sucessão presidencial que só em 2017 vai acontecer. De repente, reapareceu, como uma fênix, o ex-presidente Sarkozy, proclamando-se candidato a candidato por seu partido o UMP. Ficou claro que foi tudo uma grande armação para Sarkozy voltar em grande estilo e sufocar os vários processos que tem.

No primeiro round, a direita perdeu esta semana quando a Assembleia manteve o governo com uma frente de 20% dos votos. Agora, a oposição terá que esperar as eleições regionais e parlamentares do próximo ano para ver quem tem farinha no caminhão.

DILMA 

Quem não deve ter gostado da semana francesa foi a Dilma. Embaixo de uma foto maldosa (ela gorda, muito gorda, barriguda) a mesma L’Express publica 5 páginas sobre os escândalos da Petrobras: “O escândalo do dinheiro negro – Corrupção – Os brasileiros exigem as contas. Quem assinou os contratos leoninos? Um nome aparece: Dilma”.

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