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domingo, 28 de setembro de 2014

UM TEXTO DE MAURÍCIO MALTA

SOLIDARIEDADE EM 1964
Pelópidas Silveira
Por: » MAURICIO MALTA – engenheiro civil.
A solidariedade é um sentimento puro de simpatia e até de compaixão aos semelhantes. Cito três casos onde a solidariedade aparece vinda do fundo da alma dos protagonistas. Solidariedade é servir sem esperança de receber troca, até por não caber na solidariedade nenhuma ideia de recompensa. Uma amizade pode decorrer de um gesto de solidariedade e permanecer entre pessoas ou famílias para sempre, mas nunca com intenção de retribuição. Em abril de 1964, muitas famílias receberam cara fechada de amigos e vizinhos, entretanto outros os acolheram com os braços abertos da solidariedade. Vejamos.

No início daquele ano, Pelópidas Silveira era prefeito de Recife quando uma filha caiu doente e precisou exame clínico laboratorial que foi executado no “Marcelo Magalhães”, conceituada clínica pernambucana. Pouco tempo após, já não era prefeito e encontrava-se detido no Corpo da Guarda do IV Exército, quando novamente a filha necessitou de exames. Sua esposa não quis preocupar o prisioneiro e decidiu levar o fato em segredo. Foi ao laboratório e, ao procurar pagar os serviços, teve como resposta que: nós cobramos e recebemos do Pelópidas Prefeito, mas não cobramos do preso político Pelópidas.

Ainda em Recife, no Corpo da Guarda, onde estava detida a nata da classe política esquerdista pernambucana, apareceu como chaveiro, certo Ten. Lima, que procurou conhecê-los e iniciou diálogos com vários deles. Achou que aquela gente, esclarecida e preocupada com o futuro do Brasil, era diferente do que pintavam na imprensa e no próprio exército. Passou a admirá-los e confortá-los. A uns, tirou da solitária e os mandou para a enfermaria; a outros, trouxe notícias da família, e só cessou, nessa campanha solidária, quando o general informado do namoro dele com a filha de um preso político, transferiu-o para fronteira com a Venezuela.

Em abril daquele ano, três estudantes universitários em Maceió participantes do Diretório Central dos Estudantes, precisaram homiziar-se da perseguição. Da Praça Sinimbu, onde estavam reunidos para avaliação da situação, seguiram para a fazenda de um amigo no interior. E lá ficaram até que o estoque de galinhas, patos e perus ameaçou acabar e as rádios já não noticiavam novas prisões e cassações. Resolvem voltar. Antes do retorno, o pai de um deles procurou o delegado-geral, na capital, para promover a entrega do filho sem constrangimentos nem humilhações para a família. Eis que o delegado pergunta: ele é um dos que estão na fazenda do Valter em Branquinha?

Um comentário:

  1. "Maurição", além de competente engenheiro, com quem tive a honra de trabalhar durante certo tempo, demonstra ser possuidor de uma competência literária singular, explicitada nestes excelentes exemplos de solidariedade, principalmente a do Ten. Lima.
    Infelizmente, a Solidariedade é um dos sentimentos que a cada dia minoram; exemplos não faltam.

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