PENSO, POR ISSO ESCREVO
Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Recordo a imensa agitação juvenil, que ostentava quando era levado pelos Irmãos Marista, onde cursei os primeiros graus da escalada do saber, à biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Eram livros por todas as partes. paredes inteiramente cobertas por estantes, onde eram acomodados os mais diferentes títulos escritos em todos os tipos de letras, e cujas capas apresentavam as mais variadas cores. Eram fascículos pretos, vermelhos, multicoloridos, com um formato duro ou maleável, mais grossos ou nem tanto, mais altos, quadrados ou até arredondados. Naquela época, aquele era um dos momentos com os quais mais me deslumbrava.
Lembro também que a minha professora, a inesquecível Dona Amélia, falando bem perto do meu ouvido me ensinava que devia ter muito carinho com os livros, pois os mesmos alem de trazerem em seus conteúdos relatos de épocas que fizeram a história, quer seja do mundo ou mesmo de pessoas, definitivamente possuem alma e, portanto fazem por merecer cuidados quando os manuseamos. Rasgando, riscando ou dobrando as suas paginas, estaríamos os fazendo sofrer.
Semana que passou retornei a biblioteca do IHGAL, para oferecer mais um livro de minha autoria, intitulado Penso, por isso escrevo. Parece que com o decorrer do tempo, aquele ambiente que para mim outrora, apresentava dimensões gigantes, houvera encolhido, sem, contudo perder a grandiosidade. Já em um dos inúmeros corredores do local, caminhando a passos curtos e cadenciados, com a ponta dos dedos acariciei a espinha dorsal de diversos volumes que ali se encontram, ouvindo atentamente o deslizar de minhas unhas, até chegar a um setor onde já se encontram arquivados quatro títulos de minha autoria.
E ali parado, deixando a palma sentir o pequeno obstáculo de cada livro, lembrei das visitas com os Maristas, quando publicar um escrito, era um sonho que jamais imaginara possível, mas eu houvera me esticado como um elástico em alguns momentos prestes a romper, sempre consciente de que nunca deveria me afastar do dom de pensar.
Imagino que minhas origens rurais, terão influenciado no fato de sempre haver gostado das criaturas irracionais. Com inúmeras delas convivi, desfrutando o aconchego de sua dedicação, quase humana. E em muitas oportunidades me perguntava: eles pensam? Como explicar suas demonstrações de amizade. O tempo me fez concluir que aquelas ações eram geradas na reciprocidade de meus gestos. Eu é que pensava.
Desde então, e ainda era muito criança, entendi ser o pensamento uma força viva, capaz de edificar coisas inimagináveis. Comecei daí, a valorizar meus raciocínios, rabiscando-os no papel para preservá-los. Com certeza, foi este o momento, do nascedouro da tendência cultivada sem outra pretensão que não fosse o registro de lembranças, quando o tempo me transformou em cronista do cotidiano.
E ali, com um sorriso paralisado nos lábios, diante daqueles móveis repletos de publicações, tudo parecia magia, parecia beleza, pois com todo carinho, através de Penso, por isso escrevo, meu filho caçula, onde se registram algumas de minhas ideias, compiladas em livro, estava perpetuando um sonho concretizado com muito esforço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário