A Morena da Macaxeira
De fato, Policarpo é um homem trabalhador. Seu patrimônio foi construído
com muito suor. Honesto nos negócios, sempre procurou justiça em suas decisões
e na sociedade. Não joga, nem fuma, bebe socialmente. Enfim é o que os
americanos classificam de reserva moral, homem politicamente correto.
Um cidadão não pode possuir apenas qualidades, seria um absurdo
histórico e sociológico. Todos têm algum defeito, o Dr. Policarpo também tem
seu ponto fraco. Seu calcanhar de Aquiles é uma morena, menina nova e
carinhosa. Com truques e artimanhas, ele consegue camuflar suas aventuras,
Salete nem desconfia, põe a mão no fogo.
Certo dia, ao sair do Jardim da Gruta para o trabalho, entrando na Avenida
Fernandes Lima em direção ao consultório, parou no sinal vermelho do semáforo,
onde ambulantes vendem frutas e verduras. Apareceu de repente uma moça oferecendo macaxeira da melhor
qualidade, barata, dizia a morena com vestido leve e solto, cabelos encaracolados,
olhos negros que ao encontrarem os de Policarpo pareceram sair faíscas. Nosso
médico teve tempo de comprar um feixe de macaxeira, logo deu partida no carro
quando o sinal verde abriu passagem.
Dia
seguinte ao passar pelo mesmo sinal procurou, avistou, a morena da cor do
pecado lhe sorriu com um feixe de macaxeira. Ele deu uma nota de R$ 20,00,
alegrou a jovem mandando guardar o troco.
Continuou
por algum tempo comprando macaxeira diariamente. Teve que explicar à esposa,
comprava para ajudar sobreviver uma família faminta. Salete deu-lhe um cheiro
com amor, enaltecendo a generosidade do marido.
Policarpo nunca esperou as coisas caírem do céu, sempre as fez acontecerem.
No início de uma tarde de sexta-feira, quando a bela morena dos olhos de graúna
se aproximou, em poucas palavras ele se abriu, disse o que queria. Marcou encontro
no ponto de ônibus, às sete da noite. Foi ao trabalho.
Às sete horas foi se aproximando do
local, marcha lenta numa avenida de alta velocidade. Percebeu a jovem no ponto
combinado. Invadiu-lhe uma alegria indisfarçável de aventureiro, freou o carro,
a morena entrou, sorriu sentando a seu lado.
Dr.
Policarpo ficou deslumbrado com a beleza daquela menina-mulher sem pintura, cor
porcelana marrom, sem alguma mácula na pele. O rosto oval tornado pelos cabelos
encaracolados abrigava dois olhos negros, brilhantes e desafiantes como se
chamuscassem pequenos raios. Boca carnuda sorrindo, dava o toque sensual das
mestiças, mulatas brasileiras. Maria da Pureza, 22 anos, nascida em um povoado de Lagoa da Canoa (terra de
Hermeto Pascoal ). Bastava isso para o Dr. Policarpo, nada mais quis saber.
Quebrando o gelo com conversa fiada, o doutor passeou com o carro
durante mais de 20 minutos até chegar num motel do Tabuleiro. Pegaram a melhor
suíte, bem decorada, cheia de espelhos, impressionou Pureza, ela repetia, bonito,
bonito!
Dr. Policarpo abraçou a morena, beijando-a
no pescoço, no rosto, na boca. Num rompante carinhoso desabotoou os laços por
cima dos ombros, o vestido de chita caiu-lhe aos pés, mostrando o corpo
perfeito, torneado, curvas sensuais, seios pontiagudos, duros, pareciam dois cuscuz
de chocolate, levou-o à loucura, deixou
nosso herói cheio de tesão, paixão, lascívia. Noite inesquecível. De madrugada
partiu para a fazenda, aonde deveria estar desde a noite anterior.
Nosso amigo não pode mais viver sem a jovem. Pureza, a morena da
macaxeira, hoje mora com a mãe num apartamento alugado pelo Doutor no Conjunto
Divaldo Suruagy. Estuda à noite, aprendeu a ler, não vende mais macaxeira,
trabalha numa empresa de um amigo servindo cafezinho e fantasias aos homens,
que a cantam a todo momento. Entretanto, permanece fiel a seu protetor, o bom
“samaritano”, Dr. Policarpo Bacelar do Jardim da Gruta.
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