PERDEU A CABEÇA
-"Não esqueça de comprar os euros da viagem ".
Lembrou Tereza ao marido ao vê-lo sair no início da tarde.
O casal de sessentão aposentado viaja pelo menos duas
vezes durante o ano, boa situação
financeira, aproveita a vida. Dessa vez
realizando um sonho, conhecer a belíssima Europa Oriental, antes passando por Paris, a cidade mais bonita do mundo,
segundo Tereza. Ela, organizada e metódica, já havia arrumado as malas, checado
passagens, passaportes, voucheres, faltando ainda uma semana para a viagem.
Armando toda tarde encontra-se com amigos no shopping
jogando conversa fora, naquela quarta-feira ele saiu mais cedo, passaria no
hotel, comprar euros. Era pouco mais de duas da tarde quando a moça da loja de
câmbio vendeu-lhe 4.000 euros, colocou-os cuidadosamente dentro de um envelope,
depois de conferir, Armando dobrou o envelope, enfiou no bolso da calça.
Na saída do hotel, uma jovem, aparência simplória,
chegou-se perto perguntando com sotaque sulista onde ficava o Mercado de
Artesanato. Ele explicou, qualquer taxista pode levar. Armando pensou, gentil,
ofereceu-lhe uma carona, ia para aquelas bandas. Atravessaram a rua, entraram
no carro. A moça agradeceu a gentileza sorrindo, ele percebeu o decote generoso
da gaúcha, o sangue ferveu-lhe na veia. Simpática, Marianne conversou bastante,
hospedada com duas amigas no hotel, veio para o Congresso de Enfermagem. Adorou
as praias, a cidade, o povo hospitaleiro, ficava até domingo. Pena não dar para
conhecer todas as praias.
Ao chegar na Feirinha de Artesanato da Pajuçara,
Armando freou o carro. A jovem olhou-o perguntou se gostaria de dar uma volta,
mostrar-lhe as praias, já que ele não trabalhava mais. Armando encantado com a moça, aceitou a sugestão. Partiram
para o Litoral Norte, conversando, sorrindo, em vez em quando Marianne
soltava uma piadinha provocativa,
segurando de leve na mão do coroa. O cicerone improvisado mostrou as praias,
Jacarecica, Guaxuma, Riacho Doce, Ipioca, ela fotografava tudo, desenha seu
nome na areia, deixava o mar apagar. Em Paripueira sentaram numa barraca
beira-mar, cervejinha gelada, peixinho de tira gosto, conversa descontraída. Certo
momento Marianne segurou a cabeça de Armando com as duas mãos, olhou nos olhos,
beijou-lhe a boca, ele abocanhou a gaúcha, perdeu a cabeça.
Eram quatro e meia quando retornaram, ao passar pelos
motéis de Jacarecica, Armando segurou a mão da moça, puxou a direção para
direita, entrou num motel. Embaixo daquele simples vestido havia um corpo em
erupção, a gaúcha era um vulcão, aconteceu uma bela e voluptuosa tarde de amor,
inesperada. Ao entardecer ele deixou Marianne na Feirinha de Artesanato, marcou
encontro, dia seguinte às 15 horas na entrada do hotel. O sessentão partiu
alegre lembrando os carinhos quentes da jovem, loucura também é preciso,
pensava.
Entrou em seu belo apartamento, Tereza estava na Academia,
ao tirar a roupa sentiu a falta do
envelope, colocou a mão no bolso, percebeu, tinha sido roubado, veio-lhe a
imagem da gaúcha com cara de menina tola. Desceu no elevador, dirigiu
ansiosamente até o hotel. Na portaria perguntou por Marianne, uma hóspede, jovem, gaúcha, fazendo o Congresso de
Enfermagem. A atendente procurou no computador, não havia essa hospede. Armando
fulo de raiva, retornou ao apartamento, sem fazer B.O. (Boletim de Ocorrência)
na Delegacia de Roubos e Furtos, denunciaria sua aventura, sua traição.
Ao chegar em casa, Tereza tomava banho, foi perguntando.
- "Comprou os euros, Armando?".
O marido respondeu, pensando no golpe de Marianne .
-"A loja de câmbio do hotel só abriria ás 3 horas,
eu fui ao shopping fazer hora, conversa
boa, me divertindo com os amigos, quando passei no hotel novamente já
havia fechado o câmbio, amanhã eu compro, logo cedo."
- "Você não toma jeito, é a velhice chegando.
Qualquer dia perde a cabeça na rua!"
- "Perdi a cabeça, é verdade." Respondeu.
-"Na transa mais
cara do mundo", disse para si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário