Vítima ou Algoz: Escapei por pouco…
Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Ao longo da vida convivi com figuras inesquecíveis. Com elas adorava conversar, na certeza de que, fazendo-o, estava me auto ajudando a entender as pessoas do mundo. Algumas práticas destas criaturas são memoráveis.
Tempos atrás, divertia-me com um ex-parlamentar que escrevia, em todos os canhotos dos cheques que emitia sempre o mesmo texto; “referente a favores sexuais”. Seu maior orgulho era mostrar o escrito aos amigos. Já na Universidade Federal de Alagoas preocupava-me com uma colega, professora. Ela não somente tinha medo de giz, como temia dar uma cabeçada na afiada quina de uma das muitas colunas de concreto do Centro de Tecnologia. Admirava-me um aluno que trazia, encravado no nariz, um anzol de pescaria, a tatuagem de uma maçã bem debaixo da língua e, como endereço eletrônico homemaranha.caranguejeira. venenosa@nomedaempresa.com.br. Segundo ele, sua namorada tinha um piercing na gentália. Com meus botões, imaginava: o perigo era ele ficar enganchado... Mas, de todas as pessoas exóticas que lembro, as que mais me causam espécie são as que trafegam nas ruas de nossas cidades, pilotando motocicletas. Uma prática suicida que, nos tempos modernos, desnuda a visível imprudência e total desrespeito às leis do trânsito, por parte dos condutores desses veículos.
Eu próprio já me vi envolvido em um caso: Vivíamos o mês de maio de um ano já passado. Sai de casa logo cedo. O céu estava um pouco pálido, o sol brilhando, mas nem tanto. Não fazia nem frio nem calor. A rua começava a criar vida. As pessoas iam e vinham, movimentando tudo quanto, até pouco tempo estava parado. Na expectativa de contornar um dos canteiros central da Avenida onde eu estava, parei meu automóvel, dando preferência para outros que ali se encontravam há um pouco mais de tempo, em sentido contrário.
Em movimento de puro reflexo, notei algo se aproximando, em alta velocidade. Era uma motocicleta que se chocou, fortemente, na parte frontal de minha camionete, parada na expectativa de uma oportunidade para seguir em frente. Naquele instante, que pareceu durar minutos, minha visão se entrelaçou com o azul dos olhos da jovem que pilotava aquele louco bólido de guerra urbana, preso debaixo de meu veiculo, enquanto ela voava, indo cair no lado oposto da rua
O capacete voou longe. Imediatamente vi que uma de suas pernas estava ferida desde o peito do pé até o joelho. Súbito, senti a sensação de um vazio, de meus pés dentro das meias. As pessoas surgiam de todos os cantos e se aglomeravam ao redor do sinistro, enquanto as palavras saiam de suas bocas, como em cascata. A grande maioria insinuava que o possante veículo atropelara o ciclomotor. Esforcei-me para permanecer mais calmo que de costume... Contudo, lá dentro, o horror pareceu tomar conta de meu estomago, ao tempo em que a acidentada, deitada no pavimento, vomitava, prestes a desmaiar.
Na realidade parecia que, de um momento para outro, eu fora jogado dentro de um ringue, para onde os curiosos acorriam, objetivando me nocautear. Felizmente, como tudo na vida, notei outras pessoas chegando e atravessando as cordas para me ajudar. Duas horas depois, após contato com a SAMU, família da motoqueira e outros órgãos mais, segui em frente, ou melhor, voltei para casa de onde saíra pouco tempo antes. Três meses depois do ocorrido, o assunto foi definitivamente encerrado. Aproximei-me da jovem e seu marido. Eles juraram nunca mais andar de motocicleta. O que sei, de minha parte, é que escapei, por pouco...
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