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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
UM TEXTO DE ÊNIO LINS - CAZETA DE ALAGOAS
ENIO LINS - JORNALISTA
Verdade é que o mundo sempre viveu de arroubos. Vociferar parece fazer parte da história da humanidade desde quando berrar mostrou sua eficiência para se fazer notar e para posições serem demarcadas.
Em boa parte dos casos marcar posição não significa nada além disso. Felizmente, muita ameaça mundo afora não tem passado de bazófia. Infelizmente, muita bazófia tem ocupado lugar de ações dignas de serem levadas adiante.
A velha ONU tem sido useira e vezeira em arrebatamentos verbais. A maioria envolvendo justas causas, ressalte-se. Mas, como esses assomos têm sido feitos de acordo com os gostos dos fregueses, as Nações Unidas desperdiçam belas chances de proporcionar lições de conduta retilínea, apontando – ao menos – os erros, problemas e equívocos de gregos e troianos. Porém a instituição parece privilegiar os poderosos da hora, agradando-os com o silêncio obsequioso e concentrando baterias nos adversários desses, ou simplesmente detonando quem não tenha aparato bélico e econômico expressivo.
Nesse andar da carruagem, a ONU foi firme em combater Gaddafi, mas pouco faz para condenar as atrocidades cometidas pelos que depuseram o tresloucado líbio; é dura ao bater em Bashar al-Assad, mas “dispensa” os atos criminosos do Talibã que faz guerra ao governante sírio; é rigorosíssima ao cobrar do Irã total afastamento da possibilidade de uma bomba atômica; mas fica surda, cega e muda frente à bomba atômica israelense.
Há poucas semanas, investiu contra o Vaticano, exigindo medidas contra as ocorrências de agressões sexuais cometidas por religiosos católicos – no que, em termos éticos, está certíssima a Organização das Nações Unidas; esquecendo-se entretanto, de que a Santa Sé é um estado autônomo, com leis próprias, como qualquer principado da Europa e/ou doutros recantos no mundo. Assim como os paraísos fiscais nos quais as máfias lavam seus dinheiros sob um beneplácito silêncio da entidade global.
A investida contra o Vaticano, apesar de merecida, é mais um jogo de cena sobre um assunto muito sério. Uma pena, pois a ONU poderia verdadeiramente desencadear poderosas campanhas contra o abuso sexual (independente de credo, raça e demais possibilidades de segmentação do problema) no mundo; poderia criticar o terror em toda a sua extensão, sem procurar se ombrear pelo que os poderosos do momento consideram como tal; poderia manter alta a bandeira pelo desarmamento nuclear, se não tivesse medo de enfrentar quem já tem tal armamento... Enfim, tantas bandeiras poderiam ser verdadeiramente defendidas pelas Nações Unidas. Quem sabe um dia.
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